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Especialistas apontam caminhos para recuperar a educação

Deficiências mostram necessidade de inclusão social e de revisão do formato adotado

12 de Novembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
A discussão ocorreu em audiência pública no Senado.
A discussão ocorreu em audiência pública no Senado. (Crédito: PEDRO FRANÇA / AGÊNCIA SENADO)

Especialistas participantes de audiência pública promovida no último dia 5 pelo Senado apontaram alguns caminhos que poderão ajudar o País a superar os efeitos perversos da pandemia da Covid-19 na educação. Na avaliação dos expositores, as deficiências acumuladas mostram não só a desigualdade no ensino do País, mas a necessidade de inclusão social e de revisão do formato adotado para aprendizagem.

Na avaliação da diretora-geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Cláudia Costin, antes de tudo é necessário ao poder público, às famílias e a todos envolvidos no processo educativo, desenvolver o “sentido de urgência” no resgate das aprendizagens perdidas.

“Vamos parar de mascarar a realidade. Sim, muitas aprendizagens foram perdidas em um ano e meio de escolas fechadas”, alertou a diretora da FGV. Ela acredita que todas as aprendizagens podem ser resgatadas. “Mas isso requer esforços”.

Segundo Cláudia Costin, um passo importante a ser dado é o de tornar as escolas “espaços de aprendizagem colaborativa e de planejamento colaborativo”.

“Professor aprende mais com outro professor”, disse, enfatizando que isso só será possível se o país “acabar com essa história de professores darem aulas em três ou quatro escolas diferentes”, o que, para ela, inviabiliza o foco na solução dos problemas nas instituições de ensino.

Tempo integral

Cláudia Costin foi enfática ao defender que as escolas passem a funcionar em tempo integral e em turno único, a exemplo do que já é praticado em vários outros países. “Aulas se dão em turno único de até nove horas. Precisamos avançar nessa direção, com professores tendo dedicação exclusiva a uma única escola, de forma a não ficarem rodando em escolas. Professores precisam de tempo para um certo estudo dirigido e para uma certa orientação àqueles alunos que não têm ambiente em casa para recuperar a aprendizagem”.

A diretora da FGV ressaltou que a defesa do ensino integral é ainda mais fundamental se for levado em conta que a educação brasileira não estava bem antes mesmo de a pandemia chegar, em especial com relação à alfabetização. Segundo ela, “54,73% dos estudantes acima dos 8 anos estão em níveis insuficientes de leitura, o que indica que provavelmente a abordagem, embora bonita e poética, não estava dando certo”.

“Além disso, apenas 10,8% dos jovens do terceiro ano do ensino médio aprenderam o suficiente em matemática; e 37,1% em português. Metade dos jovens brasileiros de 15 anos não têm nível básico em proficiência em leitura e interpretação de texto, o que é fundamental para qualquer profissão e para o exercício da cidadania”, acrescentou.

Avanços e otimismo

Cláudia Costin disse que alguns avanços foram obtidos na história recente do país, o que, segundo ela, pode ser visto com otimismo. “Não há só dados de copo meio vazio. Há dados de copo meio cheio também. Houve avanços no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), índice que mede a qualidade da educação no Fundamental 1 a cada edição do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) desde 2005”, disse.

Ela acrescenta que no Fundamental 2 o País apresentou melhoras nas últimas cinco edições. “E na edição de 2019 demos um salto no Ensino Médio. Melhoramos por dois motivos. Um deles, por causa das melhoras que foram sendo progressivamente introduzidas no Ensino Fundamental”, disse. E citou medidas como a de colocar um ano a mais no fundamental e a de passar a aliar a aprendizagem com outras medidas. “A expansão das escolas em vários estados também ajudou a melhorar”.

A especialista em gestão escolar Shirley Ana Dutra corroborou com as avaliações feitas pela diretora da FGV, em especial no sentido de que a desigualdade social foi determinante para a forma como a pandemia afetou as pessoas, o que levou à necessidade de se “reinventar e descobrir novos caminhos” para a educação brasileira.

Para tanto, ela disse ser necessária a preparação de um diagnóstico sobre como professores e alunos estão nesse momento de retorno às escolas. “Esse diagnóstico é determinante para o novo fazer pedagógico”, disse. (Agência Brasil)