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Nem tudo é o que parece.

Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão

17 de Fevereiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Divulgação)

Caminhando desatento pela cidade à noite, um homem cai em um buraco. Assustado, ele percebe que está sendo contido por arbustos, pedras e galhos que o seguraram antes de chegar ao chão. Assim que vê os primeiros raios de sol, o homem começa a pedir ajuda aos que passam, o primeiro a se aproximar é um cientista, que o considera estúpido por cair num buraco e vai embora desdenhando dele. Depois um camponês ouve seu apelo, mas se afasta irritado e o julga mal por estar na rua a tão altas horas ao invés de estar descansando como um trabalhador. Em seguida, um artista o encontra, mas supõe o quanto deve ser bonita a vista do interior de um buraco, com flores e ervas enfeitando sua cabeça. Por fim, o sacerdote da igreja percebe a desafortunada condição do homem, mas não tem tempo de ajudar, está atrasado para a missa.

O dia acaba e ninguém se dispõe a socorrê-lo. Sem esperança de que o acudam, o homem começa a olhar ao redor e matutar sobre como poderia se salvar sozinho. Após cálculos, ensaios e muito esforço ele finalmente se vê livre da armadilha. Já fora do buraco ele percebe que o que o detinha não era tanto a profundidade, a largura ou a escuridão, mas algo bem mais simples.

“Um homem no buraco” é um reconto de Antonio Gramsci remetido a sua esposa Giulia e escrito originalmente por Lucien Jean no início do século XIX. Gramsci escreveu diversas cartas nas quais narrou e traduziu contos populares e reviveu memórias de sua infância na Sardenha como forma de se comunicar também com os filhos e os sobrinhos.

São alguns desses textos que formam a coleção Nino, da Boitatá. “Um homem no buraco” é o segundo título da coleção, precedido por “O rato e a montanha” (2019). Raysa Fontana ilustra a história com cores vivas.

Vanessa Marconato Negrão, professora e sócia efetiva titular da Academia Sorocabana de Letras