Há poucos dias li uma entrevista de Léo Cunha, um autor que eu gosto muito e cujas reflexões já me inspiraram várias vezes. Nela, ele diz sem rodeios: “Existe uma ideia de que criança não gosta de poesia. Mas isso é uma bobagem danada, um papo furado. Crianças adoram, sempre viajam nos poemas.”

Faço coro com essa ideia desde que eu apresentei, pela primeira vez, poesia às crianças. Nessa busca pela musicalidade das palavras me deparei com “O espaço entre as folhas da relva” de Maria José Ferrada e Andrés López.

Eu visitava uma feira de livros lotadíssima, um mar de gente e pilhas de livros. Sobre a capa deste título havia um post-it escrito: “maravilhoso” com uma letra apressada. Senti-me desafiada a testar o maravilhamento, e mesmo sem muito tempo para os detalhes, entre o calor escaldante e um zumbido incessante da multidão que se acotovelava, abri a primeira página. Logo de cara um sutil aviso “Instruções para encontrar um poema”.

Daí por diante o que eu senti foi o frescor do “espaço entre as folhas da relva” como se todo aquele tumulto ao meu redor se silenciasse, num descanso aos meus sentidos, àquela altura já saturados.

Transcrevo aqui um dos meus trechos preferidos: “Acontece uma vez a cada cinquenta primaveras: as borboletas florescem, as flores voam para longe”. Você também conseguiu sentir o sopro da poesia? Se ainda não te alcançou certamente o fará assim que saborear os outros versos.

Um livro maravilhoso, da Editora ÔZé.

Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada pela literatura infantil