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Flores e empatia

Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão

04 de Novembro de 2023 às 22:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Divulgação)

Não pude escrever sozinha sobre esse livro; mais uma vez, contei com a opinião valiosa das crianças. Não canso de me impressionar sobre o quanto elas enxergam muito além da minha capacidade, do quanto sua concepção de existência se enreda para muito além da minha.

“O menino com flores no cabelo” conta a história de Davi, uma criança doce e gentil que tem lindas flores no cabelo. Todos gostam dele, sua alegria contagia a todos. Mas, um dia, Davi chega à escola quietinho, usando um gorro na cabeça, e ao retirá-lo suas pétalas caem, espalhando-se pelo chão. As flores agora se reduziram a ramos secos e espinhosos.

Os amigos, antes cativados pela beleza das flores de Davi, estranham os galhos pontudos e quebradiços e percebem que o menino não é mais o mesmo.

Numa manhã chuvosa eu compartilhei essa leitura com as minhas crianças, que me fizeram ver como é importante enxergar o mundo sob a perspectiva delas de vez em quando.

Eu me perguntei de onde surgiram as flores na cabeça. As crianças, ao contrário, não estranharam nem as flores no cabelo, nem o fato de nascerem na cabeça de um menino. Já a queda das flores foi sentida, questionada. “Será que regaram muito?” “Ou esqueceram de regar?” “Volta um pouquinho na outra página, ‘prô’, pra gente descobrir porque as flores caíram.” Eles observam atentos, até que alguém sentencia: “Ah, já sei! Esqueceram de pôr terra na cabeça dele! Sem terra a florzinha não vive”. Alguns assentem, inclusive a menina mais falante da turma, que concorda, mas pontua, atenta: “Ele precisa de ajuda!”

Davi, o personagem do livro, recebe a ajuda de seus amigos, como presumiram os meus pequenos leitores, e o enredo se converte numa comovente história de amizade e empatia, algo recorrente e natural entre as crianças.

Jarvis, o autor, mora num lugar tranquilo no norte da Inglaterra e tem um jeito muito particular de criar suas histórias: “A maneira como trabalho é sempre visual. Tenho uma imagem ou personagem em mente e tiro uma história dela. Rabisco, rabisco e rabisco até acertar.” Adoramos seus rabiscos, Jarvis, pode continuar rabiscando!

Uma publicação da Editora Pequena Zahar.

Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada pela literatura infantil