Cruzeirinho
‘Lojinha’ ensina como funciona a economia e incentiva bom comportamento
Para fazer "compras", alunos de escola de Sorocaba precisam se aplicar nas aulas
Ter o próprio dinheirinho para comprar as coisas que gosta é bom demais, não é? Isso até parece um pensamento de alguém que está entrando no mercado de trabalho. Mas, na verdade, uma turminha de Sorocaba já está podendo vivenciar um pouquinho dessa experiência. Nós fomos à Escola Municipal Professora Odilla Caldini Crespo, no Jardim Recreio dos Sorocabanos, em Sorocaba, para conferir uma iniciativa que tem chamado a atenção, não só pela criatividade, mas por ensinar aos alunos o valor do dinheiro e a importância da responsabilidade.
Chamada de “lojinha”, a dinâmica funciona assim: ao longo do bimestre, os alunos trocam o bom comportamento, a presença nas aulas e as lições de casa por notas de dinheiro de mentira (isso mesmo, aquelas que vendem nas lojas para brincar), que podem ser gastas em objetos de desejo de todo estudante na loja montada dentro de cada sala de aula.
Na unidade escolar em que fomos, a atividade funciona nos 3º anos C e D e no 5º ano D. Em si, a ideia é a mesma para todos, porém o que diferencia os terceiros para o quinto ano é o uso da internet. Os itens que os alunos têm a disposição são, no geral, aqueles usados no dia a dia mesmo: caneta, lápis, borracha, apontador, bloquinhos de escrever, figurinhas, livros infantis, lápis para colorir, canetinhas, entre outros. Quem escolhe e compra os produtos a serem vendidos são as professoras de cada turma; porém, com o tempo, os próprios estudantes foram dando dicas do que gostariam de que fosse vendido.
O Pietro Augusto Chagas Santos Costa, de 9 anos, está no 3º ano C. “Foi muito legal a gente poder comprar as coisas aqui. Os que mais gosto são os lápis, marca-texto, borracha e alguns brinquedos, como o piãozinho”, disse o aluno da professora Maria Amara da Silva Fernandes. Porém, para poder começar a comprar, ele teve que mudar o comportamento nas aulas. Antes, Pietro era um tanto quanto bagunceiro, faltava bastante, mas aprendeu e agora acumula dinheiro suficiente para comprar o que quer. “Antes ele começou com pouco dinheiro, e foi melhorando aos poucos. É algo que ensina muito mais do que a questão financeira de compra e venda”, complementou a professora Maria.
A questão do comportamento é como o “banco” deles. Se não fizer a lição de casa ou começar a faltar bastante, os pontos vão caindo. Já para quem faz o contrário, cada vez mais o caderno fica verde, ou seja, mais dinheirinho na conta.
Na sala ao lado, a do 3º ano D, a Beatriz Godoy Menezes, de 8 anos, não teve problemas para deixar sua poupança no verde. Segundo ela, sempre foi boa aluna e adorou a iniciativa. “Não imaginava que pudesse comprar algumas coisas com meu próprio dinheiro e aqui dentro da sala, é muito legal. Também contei para minha família e eles gostaram muito também”, comentou.
A estudante é adepta ainda de guardar uma parte para juntar com o ganho seguinte para comprar algo mais caro. “Até agora já ganhei uns R$ 60 e sempre que consigo eu guardo sim, aí dá pra comprar mais coisas depois”, ponderou.
A comandante da lojinha nessa turma é a professora Tatiana Moura Molina. “A turma toda adora, é um ensinamento e tanto para eles. Não aprendem a lidar com o dinheiro, mas ajuda na hora de estudar matéria também, por exemplo”, disse.
Se a lojinha no método físico já é legal, por que não inserir o digital nesse universo, ainda mais com tantos sites de compra e venda por aí? Foi exatamente nisso que a Débora Milene Prado, professora do 5º ano D, pensou.
“O primeiro foi presencial, mas como eles são uma geração mais ligada no digital, tive essa ideia de usar a lousa digital. Como meu marido é desenvolvedor, ele me ajudou a criar toda a loja. Quando trouxe isso pra eles, amaram, até me falam às vezes que se sentem adultos ao fazer as compras iguais meus pais”, explicou.
Apesar de a compra on-line parecer “mágica” muitas vezes, ela tem todo um processo. E a professora fez questão de mostrar isso também. O esquema é o seguinte: o aluno coloca no carrinho a compra na plataforma digital, vai ao banco, paga, em seguida o pedido vai ao estoque, verifica a disponibilidade do mesmo e, por fim, vai a entrega. Em cada processo um grupo de alunos está envolvido.
O Gabriel Theodoro Pereira Moroni, de 11 anos, além de fazer sua compra a cada dois meses (bimestre), também é um dos “bancários”. “Antes não imaginava como funcionava, só via meus pais comprando algumas coisas, mas não tinha noção de todo o processo. É bem legal”, opinou o garoto.
Como já dissemos, a iniciativa ensina muito mais do que uma simples compra. E para quem lida dia a dia na sala de aula, a mudança é nítida. “Antes não sabiam calcular troco, não conheciam o sistema monetário brasileiro, passaram a ter noção do que pode ou não comprar com o dinheiro que eles têm. Tudo isso dá muito autonomia para eles lidarem com as adversidades, sejam elas financeiras ou não”, finaliza Débora.
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