Eu já li
Afeto e saudade
Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão
Minhas lembranças da infância, como as lembranças de muitas pessoas, carregam uma marca especial dos domingos. Era nesse dia da semana que nos encontrávamos na casa da vó Dinha para comer a macarronada com frango assado, cujo gostinho de manjericão no molho permanece na minha memória até hoje. Ayrton Senna ganhava todas as corridas de Fórmula 1 e os acordes do hino nacional se fixaram na minha memória como um lembrete desse dia da semana. Sem contar as quermesses, as cavalarias, as fornadas de pão caseiro.
Na língua portuguesa, o domingo é derivado do latim “dies Dominica”. Dia do Senhor, considerado o último da semana para os cristãos, ou seja, o sétimo dia, quando Deus descansou da criação do mundo. Um dia feito para a contemplação e repouso.
O personagem desta história, o menino Martim, via os domingos se repetirem, onde tudo acontecia sempre igual, num ciclo constante que terminava no jantar na casa dos avós. Até que, num desses domingos, Martim decidiu que seria diferente; com todos da família ocupados com seus afazeres, ele partiu acompanhado do seu cachorro Fubá para dar uma volta ao mundo!
Juntos eles enfrentaram temperaturas extremas, atravessaram desertos, combateram dragões e muito mais.
A viagem é tão emocionante que quem nos recomenda a leitura na quarta capa é ninguém menos que Amyr Klink, um grande navegador, a primeira pessoa a fazer a travessia do Atlântico Sul a remo, em 1984. “Domingo é um lindo relato dos sonhos que se concretizam”.
Marcelo Tolentino, o autor, conta que criou essa história durante o isolamento da pandemia de Covid-19, e o cenário a que se remete nas ilustrações é a casa onde ele passou sua infância em São Paulo. Percebe-se a memória nos detalhes dos desenhos: o filtro de barro, o vaso de antúrios vermelhos, a máquina de costura. Uma harmoniosa composição de afeto e saudade publicada pela Companhia das letrinhas.
Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada pela literatura infantil