Cruzeirinho
Intercâmbio cultural: como os índios do Xingu transmitem sua cultura
Em Juquitiba, crianças aprendem crenças, costumes, idioma e culinária dos kuikuros
Em 1500, quando os colonizadores portugueses chegaram aqui, eles encontraram povos muito diferentes deles. Com pinturas corporais, cocares e lanças, os indígenas já viviam nas terras que hoje chamamos de Brasil. Com o passar dos anos e a dominação de Portugal, os povos indígenas foram perdendo espaço na sociedade. Dessa forma, foi instituído o dia 19 de abril como o Dia do Índio para preservar suas memórias, tradições e culturas.
Talvez você ainda não saiba, mas muitos de nós, brasileiros, somos descendentes de indígenas. Alguns desses povos moram até hoje em aldeias, como é o caso dos índios kuikuros. Na semana passada, a equipe do Cruzeirinho viajou até a reserva "Toca da Raposa" na cidade de Juquitiba, onde cerca de 20 indígenas do Alto Xingu, em Mato Grosso, em abril. Lá eles vendem arco e flecha, adornos, cestos, entre outros itens, para arrecadar dinheiro para a aldeia, além de proporcionar o intercâmbio cultural e a valorização da cultura kuikuru.
Os kuikuros são o povo com a maior população no Alto Xingu e falam a língua carib. O cacique, Amuneri, de 40 anos, é um dos poucos que fala português. Ele explicou sobre a importância de se conhecer os costumes de sua tribo. “Eu me preocupo muito para não perder a nossa cultura, a nossa língua, as nossas danças e as nossas histórias”, contou ele, que assumiu o lugar do pai, Afukaka, como líder.
Além da venda dos objetos, os índios fizeram uma apresentação de dança às famílias que visitavam a Toca. Para receber os visitantes, cada indígena escolheu uma pintura para o corpo e cada pintura tem um significado diferente, segundo Amuneri. “Tem pintura de cacique, de peixe, jabuti, cobra, etc. A cor vermelha é retirada do urucum, a cor escura é do jenipapo, já a cor branca vem da tabatinga”, disse.
Já arrumados para a festa, os kuikuros mostraram que têm danças para várias ocasiões, como para convidar outras tribos e para a colheita de pequi. Um fato curioso é que, na cultura deles, uma mulher grávida não pode comer peixe, que é o alimento principal para os kuikurus. A dieta ideal para as gestantes é a carne de macaco. Para trazer a energia do macaco para a floresta, eles também têm uma dança específica.
Durante a apresentação, o índio Kumessi explicou para a meninada sobre a importância dos estudos. “Hoje em dia, estudar é muito importante para a gente. O sonho de fazer uma faculdade para a gente preservar a nossa terra, fazer medicina, direito, entre outros. Tenho amigos formados e isso orgulha o Xingu, porque o Xingu é muito importante para nós”, lembrou ele.
Os amigos, Lorenzo Lolato, de 11 anos, Kenzo Shimoda, de 8 anos, e Catarina Lolato, também de 8 anos, gostaram muito da apresentação. Catarina e Lorenzo já tinham visto os indígenas outras vezes na Toca da Raposa. Já o Kenzo contou que este foi o primeiro contato com os índios. Para os meninos, é importante saber mais sobre eles porque é uma “cultura bem diferente”. O Lorenzo destacou que gostou mais das músicas, enquanto o Kenzo gostou mais dos brinquedos, se referindo às lanças e arco e flecha apresentados pelos indígenas.
Ao final do evento, as famílias ainda puderam provar o peixe frito e o bejú (também conhecido como bijú ou beijú), derivado da mandioca, ambos pratos típicos para os kuikurus. O cheirinho estava ótimo!
Intercâmbio cultural
Hoje em dia, os povos indígenas não vivem só na floresta. As aldeias já contam com escolas para as crianças e, como contou o índio Kumessi, alguns integrantes da tribo saem das aldeias para fazer uma faculdade para ajudar o seu povo. Dessa forma, o intercâmbio cultural é importante para conhecer as tradições, tecnologias, aprender o idioma, desenvolver relações e troca de conhecimentos entre os povos.
Kuikuros habitam ocas gigantes
O Parque Indígena do Xingu é a maior e mais importante reserva indígena brasileira. Está na região nordeste do Estado de Mato Grosso e exibe uma grande biodiversidade. Lá, moram os povos Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumai, Wauja e Yawalapiti, sendo que cada um fala uma língua. Então não é novidade, para os índios, aprender outra língua para se comunicar.
As tribos vivem em ocas gigantes que abrigam cerca de 25 pessoas. Diferente das nossas casas, as ocas não tem divisões entre os quartos. Todos moram juntos e trabalham juntos para pescar e colher alimentos. Já imaginou? (Kally Momesso)
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