Seu nome era Orundellico, um menino que vivia com toda sua família nas ilhas da Terra do Fogo, na ponta da América do Sul, o lugar que hoje conhecemos como Argentina e Chile. Todos os que habitavam as ilhas eram o que os colonizadores chamavam de “selvagens”, com um modo de vida muito diferente do que os europeus acreditavam ser o civilizado.

Certo dia um grande barco chegou a uma das ilhas, o capitão Robert FitzRoy desembarcou e passou a observar os nativos. Julgou que com algum esforço, seria possível transformar o homem mais selvagem dali em um cavalheiro na Inglaterra, com os modos da alta classe inglesa.

Para convencer Orundellico a partir para outro continente um dos visitantes ofereceu a sua família um botão de madrepérola. Em referência a essa “troca” os ingleses passaram a chamar o menino de Jemmy Button.

E em outubro de 1830 Jemmy chegou a Plymouth, uma cidade do sudeste da Inglaterra. O menino ficou muito impressionado com as casas, que segundo ele, eram feitas de pedra, empilhadas umas sobre as outras e mais altas do que as mais alta árvore da floresta. Ele se sentia cada vez mais pequeno naquele lugar tão grande, tão cheio, tão iluminado, mas aos poucos foi se acostumando. Até que o naturalista Charles Darwin -- um grande cientista que mais tarde viria a descobrir a teoria da seleção natural -- chamou a atenção do Capitão Robert para o fato de que talvez o lugar de Jemmy não fosse a Inglaterra.

Eu não conhecia essa história, me surpreendi e me encantei com o desfecho dela. Imagino o que o menino da Terra do Fogo sentiu ao ter seu nome trocado, ter sido separado de sua família e levado para tão longe do seu habitat. Ao mesmo tempo me pergunto o quanto essa experiência prova que cada um de nós tem seu modo de viver e a sua ideia de felicidade. Ainda bem!

Os autores de “Jemmy Button, o menino que Darwin levou de volta para casa” são Jennifer Uman, Valerio Vidal e Alix Barzelay. Publicado pela Pequena Zahar.

Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada por literatura infantil.