Bullying é um termo inglês que, quando traduzido para o português, serve para descrever todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas contra alguém, que acontecem sem motivo aparente e causam sofrimento.

Ser gago é um recorrente motivo de bullying. A gagueira é uma disfunção da fala, de origem psicomotora, que se caracteriza pela repetição de sons e sílabas ou por paradas involuntárias, que comprometem a clareza na comunicação.

Esse é o caso do premiado autor canadense Jordan Scott. Em seu primeiro livro ilustrado baseado em sua experiência de vida, ele descreve de forma encantadora a história de um menino com dificuldades na fala, que conta com seu pai como o alicerce capaz de reconectá-lo com o mundo a seu redor e ajudá-lo a encontrar sua voz.

O próprio autor descreve esses episódios narrando a analogia preciosa criada com tanto afeto pelo pai: “Quando eu era menino, meu pai às vezes me pegava na escola nos dias ruins, me levava até o rio. Naqueles dias, minha boca recusava-se a se mover. Cada palavra era dolorosa; o riso dos colegas, insuportável. Eu só queria ficar quieto (à) Um dia em particular, enquanto observava a água se mover contra as margens do rio, meu pai disse: Você vê como a água se mexe, filho? É assim que você fala.”

Esse livro, além da preciosa lição de empatia, me trouxe uma sensação de cumplicidade, de quem sabe, por experiência própria, como é se fazer entender através das palavras escritas, em suas potências e fragilidades. Também nos leva a pensar no quanto há de significado no silêncio.

“Eu falo como um rio” é um livro para ser compartilhado muitas vezes, feito para emocionar e suscitar grandes reflexões. Suas ilustrações criadas por Sidney Smith, resplandecem como as águas, carregadas de interpretação. Publicado no Brasil pela Pequena Zahar.

Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada por literatura infantil.