A cultura indígena é algo que desperta a curiosidade de muitas pessoas, e não é para menos, já que os indígenas estão, por um lado, tão distantes de nós. Digo por um lado porque apesar da maioria de nós carregarmos a ancestralidade indígena no sangue, estamos muito longe da sua cultura, de seus rituais, e principalmente do respeito que eles carregam pelos seres humanos e não-humanos. Eu fico feliz em perceber que cada dia há mais pessoas interessadas em conhecer a história de seus antecedentes, descobrir como eles vivem, se relacionam e entendem o mundo.

No livro “Guayarê -- O menino da aldeia do rio”, um menino de sete anos mostra como é o dia-a-dia na aldeia do povo Maraguá, que vive no vale do Guarinamã, no estado do Amazonas. A aldeia Yaguawajar, onde mora Guayarê, fica na beira do rio Abacaxis. É lá que, à tardinha, o menino aguarda os pescadores que voltam com as canoas cheias de peixes. Uma das brincadeiras preferidas das crianças da aldeia é adentrar a mata para colher frutas silvestres. Toda manhã uma catraia (uma espécie de canoa) leva as crianças à escola. Lá elas aprendem, entre outras coisas, a escrita do idioma Maraguá. À noite todos se juntam na casa do conselho para ouvir histórias.

O autor do livro, Yaguarê Yamã, é filho do povo Maraguá por parte de mãe e Sateré, por parte de pai. Por esse motivo, a infância que ele apresenta na sua narrativa é tão autêntica. Yaguarê se formou em Geografia, e morou na cidade de São Paulo durante seis anos, o que lhe deu a oportunidade de falar de seu povo e sua cultura aos não-indígenas. Hoje dá aulas numa escola pública de Parintins.

O livro traz não só a história do povo Maraguá, mas uma série de outras curiosidades sobre tantas outras etnias que habitam o Brasil. Descobri, por exemplo, que brincar de pega-pega é um divertimento comum em várias etnias, e que os brinquedos na maioria das vezes são feitos pelos pais das crianças.

“Guayarê -- O menino da aldeia do rio” é publicado pela editora Biruta.

Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada por literatura infantil.