Eu já li
A bengala e a bicicleta
Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão
Vocês, crianças, crescem muito rápido. E não é força de expressão. Outro dia mesmo encontrei um ex-aluno, hoje com 14 anos, no mercadinho. Decerto ele não se lembrava de mim, tinha só dois anos quando fui sua professora, mas o pai dele sim, e fez questão de me cumprimentar com ele. Eu mal acreditava que aquela criança pequenina, com mãozinhas gorduchas que viviam em volta do meu pescoço, eram aquele rapaz grandão que vinha na minha direção, meio sem graça em abraçar uma estranha.
E o mais importante é que o tempo passa para todos, sem distinção. Algumas coisas vão, outras vem. As estações mudam, os dias não se repetem. Vamos deixando marcas no mundo, nas outras pessoas, nos lugares por onde passamos.
Nessa história dois amigos se encontram todos os dias num banco em frente ao mar e passam horas desfrutando da companhia um do outro. O que chama atenção é a distância de idades entre eles. Um vem de bicicleta, o outro de bengala, juntos tomam sorvete, brincam, conversam e se divertem. Até que um dia um grande segredo é revelado: eles na verdade são mais que amigos, são avô e neto.
Nesse pedacinho de tempo comum, enquanto duram esses encontros, a vida ganha um novo significado. Mas como eu disse lá no começo: o tempo urge, pede passagem a cada novo amanhecer e nos surpreende com o imponderável.
Uma lição tocante sobre as passagens da vida e a beleza dos afetos entre gerações.
As ilustrações de Catarina Bessel me hipnotizaram com tantos matizes de azul, que representam bem cada sentimento que o texto de Maria Cristina Silva emana.
Uma preciosidade. Da Editora Companhia das Letrinhas.
Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada por literatura infantil.