Eu já li
A inutilidade das coisas
Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão
Se buscarmos a palavra “útil” no dicionário, encontraremos a seguinte definição: “Que pode ter ou tem algum uso; que serve ou é necessário para algo, que traz proveito, vantagem; de que resulta o que se espera; proveitoso, profícuo, vantajoso.”
Conhecendo o significado dessa palavra, imagine o susto que a professora da Sofia -- uma menina de onze anos e meio -- levou quando ela disse sem cerimônia: “Quando eu crescer quero ser inútil!”
Sofia se mudou para uma nova cidade já tem dois anos, mas ainda não se acostumou completamente. Sente falta dos amigos, dos primos, dos avós, dos lugares que frequentava, da casa em que morava e até de seus pais. Sim, seus pais se mudaram com ela, moram na mesma casa que ela, mas a vida mudou tanto. O pai trabalha dia e noite e participa de reuniões infinitas, o dia todo, e a mãe passou a ser uma pessoa tão diferente do que era depois que fechou a sua floriculturaà Quase não sorri.
E para piorar, no último relatório da escola a professora constatou que Sofia tem jeito para a música e é excelente em expressão plástica e educação física, mas não vai nada bem em matemática. O pai não ficou nada feliz, achou “inaceitável”.
A menina tentou argumentar, falou dos quadros de Kandinsky que viu na exposição, do concerto de violão em que tocou e das experiências com minhocas nas aulas de ciência, mas nada comoveu o pai, que continuou firme na sua opinião de que ela precisava pensar em como “ganhar a vida” e que todo resto era inútil.
Essa história tão sensível e cheia de significado escrita por Alex Noqués, ilustrada por Bea Enríquez e publicada pela Editora Biruta já ganhou muitos prêmios, entre eles dois muito importantes: o White Ravens 2020, na Alemanha, e o Selo Distinção Cátedra da Unesco de leitura, também em 2020.
Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada por literatura infantil.