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Aldeia indígena em Tapiraí é uma aula de história ao ar livre

Crianças de Gwyra Pepo, que têm nomes em guarani, jogam futebol e cultivam suas crenças e costumes

25 de Abril de 2021 às 00:01
Jéssica Nascimento [email protected]
Na tribo, todos respeitam e obedecem o cacique, que ensina as tradições do povo guarani para as crianças.
Na tribo, todos respeitam e obedecem o cacique, que ensina as tradições do povo guarani para as crianças. (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (14/4/2021))

 

Na escola, a gente aprende sobre a descoberta do Brasil, por Pedro Álvares Cabral. Porém, a história do nosso País é um pouco mais profunda do que vemos nos livros. Isso porque antes da chegada dos portugueses, lá em 1.500, as terras brasileiras já eram habitadas pelos indígenas. Você sabia disso? É por esse motivo que os povos indígenas fazem parte da nossa história.

E diferente do que muitas pessoas pensam, os indígenas não vivem só na Amazônia. Eles estão mais perto do que imaginamos. Mais de 817 mil indígenas habitam o território nacional, representando 0,38% da população brasileira, conforme o censo demográfico de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São várias as etnias e línguas faladas. Sabia disso? De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), no Brasil existem 305 etnias e 274 línguas indígenas.

Para homenagear todas essas tribos, no dia 19 de abril celebramos o Dia do Índio. A data é uma forma de conscientizar a população sobre a importância da valorização da cultura indígena. Isso porque mesmo estando tão perto, muitas pessoas ainda assimilam os indígenas a ocas, cocar e arco e flecha. Mas foi se o tempo em que eles viviam apenas da caça e da terra. Hoje, os indígenas estudam, trabalham e vivem uma vida normal, assim como qualquer pessoa, seja na aldeia ou no ambiente urbano.

Os indígenas moram em casas de madeira revestidas com barro e compartilham todas as tarefas da aldeia. - FÁBIO ROGÉRIO (14/4/2021)
Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (14/4/2021) / Descrição: Os indígenas moram em casas de madeira revestidas com barro e compartilham todas as tarefas da aldeia.

E para conhecer um pouco mais sobre a cultura indígena, a equipe do Cruzeirinho visitou a aldeia guarani Gwyra Pepo, que fica em Tapiraí, a 70 quilômetros de Sorocaba. Cercada por eucaliptos, a aldeia está localizada em um sítio, na zona rural da cidade. Mais de 40 famílias indígenas vivem no local. Lá, a língua nativa é o guarani. Porém, todos falam português.

Na aldeia, os indígenas moram em casas de madeira revestidas com barro. Todas as tarefas são divididas entre os moradores da tribo, que chegou a Tapiraí em 2018. Até as crianças ajudam a buscar água e a pegar lenha para a fogueira, já que lá eles não têm água encanada e nem fogão. As crianças frequentam a escola na aldeia e na cidade, mas ultimamente não estão indo às aulas na zona urbana por conta da pandemia do coronavírus.

Apesar de morar em uma aldeia, os indígenas são muito civilizados. Eles vestem roupas, assistem televisão, usam o celular. Mas não é por isso que eles deixam de lado seus rituais, suas crenças, seus costumes e sua cultura. Pelo contrário, eles lutam todos os dias para preservá-la, passando de geração em geração. Na tribo, todos respeitam e obedecem o cacique e líder espiritual José Fernandes Soares, ou Karai Poty na língua nativa. É ele que ensina as tradições do povo guarani para as crianças. Todos os dias, na parte da tarde, os moradores da aldeia se encontram na casa de reza, “Opy” em guarani, para dançar, cantar e celebrar a vida.

José Fernandes Gabriel, ou Karai Rapá, tem 13 anos. - FÁBIO ROGÉRIO (14/4/2021)
Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (14/4/2021) / Descrição: José Fernandes Gabriel, ou Karai Rapá, tem 13 anos.

Uma das crianças da aldeia é o José Fernandes Gabriel, de 13 anos. O seu outro nome, na língua nativa, é Karai Rapá. Tímido, ele diz gostar muito de viver na aldeia e conta que não pretende sair de lá quando crescer. “Achei esse novo lugar legal, porque fica na floresta. Tem bastante espaço”, afirma ao citar a mudança da tribo, que antes ficava às margens do Rodoanel, na capital paulista.

O adolescente, que logo se tornará um homem, frequenta a escola da aldeia, onde aprende sobre a cultura guarani, como danças, rezas e a fazer armadilhas para caçar. “As pessoas precisam respeitar nossa cultura”, ressalta. Nas horas livres, o menino costuma jogar bola e passear pela aldeia com os amigos. “Quando crescer, penso em trabalhar, fazer coisas importantes e formar uma família. Também quero ajudar as pessoas e ensinar as crianças”.

Em guarani, Sheila Gonçalves, 11 anos, é Yva Mirin. - FÁBIO ROGÉRIO (14/4/2021)
Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (14/4/2021) / Descrição: Em guarani, Sheila Gonçalves, 11 anos, é Yva Mirin.

Já a Sheila Gonçalves Gabriel, de 11 anos, pretende ser professora quando crescer. “Quero ensinar história para os meus alunos”. Para isso, a menina, chamada Yva Mirin, em guarani, tem se esforçado desde pequena. “Eu estudo bastante, lá na escola de Tapiraí. Agora não estou indo por conta da pandemia”.

Mas Sheila não vive só dos estudos, ela também ajuda a cuidar das crianças da aldeia. E nas horas livres, sempre brinca com os amigos, principalmente de esconde-esconde e pega-pega. “Eu também gosto de jogar bola. Aqui é muito legal. Eu gosto de morar aqui”, frisa. E não são só as crianças que gostam de jogar bola. A tarde, praticamente toda a aldeia se reúne para jogar, homens e mulheres, adultos e crianças. A diversão é garantida no campo improvisado, sobre o chão de terra.

Lisandro Fernandes, de 10 anos, ou Karai Tataendy. - FÁBIO ROGÉRIO (14/4/2021)
Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (14/4/2021) / Descrição: Lisandro Fernandes, de 10 anos, ou Karai Tataendy.

Assim como José e Sheila, o Lisandro Fernandes, de 10 anos, conta que também se diverte muito na aldeia. “Gosto de brincar, jogar bola. Eu gosto de estudar matemática, é a minha matéria preferida”. Na aldeia, Karai Tataendy, nome do Lisandro na língua nativa, ajuda os adultos a buscar água do rio e a trazer lenha para a fogueira. “Gosto de viver aqui”, afirma ao dizer que quando crescer deseja continuar vivendo na aldeia. “Quero ficar aqui e ajudar pessoas”, finaliza. (Jéssica Nascimento)

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