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Obras mostram traços da centenária escola Bauhaus

05 de Janeiro de 2020 às 09:10

Casa modernista assinada pelo ucraniano Gregori Warchavchik, de 1928, foi primeira aplicação do estilo arquitetônico. Crédito da foto: Fábio Cintra/Museu da Cidade de SP.

A primeira casa modernista do Brasil, assinada pelo ucraniano Gregori Warchavchik, foi levantada depois que a Prefeitura de São Paulo aprovou um projeto falso para a fachada da construção, em 1928. Recém-casado com a paisagista Mina Klabin, o projetista só conseguiu a autorização do município porque, no papel, a casa teria janelas decoradas ao estilo colonial, paredes com cornijas e simetria rígida.

Na prática, nada disso foi feito. Era uma fachada modernista, de formato racionalizado, adornada por plantas tropicais e que ficou conhecida como a primeira aplicação da Bauhaus em território brasileiro. Para não ser incomodado pela Prefeitura, Warchavchik alegou que não possuía mais recursos, mão de obra ou materiais suficientes para o acabamento da casa e, assim, conseguiu deixar como queria a Casa Modernista da rua Santa Cruz, na Vila Mariana.

A Bauhaus, escola modernista alemã de design e arquitetura, foi fundada em 1919 por Walter Gropius. O eixo principal era coeso: forma segue função. Apesar da essência simples, a revolução foi grande o suficiente para que a escola fosse perseguida pelo nazismo. Seus professores tiveram que se exilar pelo mundo, como explica a doutora em arquitetura e urbanismo e professora da Universidade Anhembi Morumbi, Mariana Rolim.

“A Bauhaus foi um momento de ruptura de uma tradição neoclássica e eclética para os primeiros projetos modernistas, com forte base na funcionalidade. Com a perseguição à escola, houve uma difusão dos pensamentos da Bauhaus, principalmente porque vários professores emigraram para os Estados Unidos.”

O novo mundo foi o território perfeito para que a Bauhaus se disseminasse. Com cidades que ainda se construíam, havia espaço para o novo. Ela acabou chegando ao Brasil e influenciando toda uma geração de projetistas. Um dos principais representantes da escola na América do Sul foi Oscar Niemeyer. Brasília, projetada em 1957, fez-se sob tendências modernas e funcionalistas inauguradas pelo bauhausianismo quase quatro décadas antes.

Centenária, Bauhaus ecoa em construções de SP. Crédito da foto: Fábio Cintra/Museu da Cidade de SP.

Em 2019, cem anos depois da inauguração da Bauhaus na Alemanha, São Paulo é vitrine do modernismo e da aplicação da escola não só em prédios, mas na maneira como a cidade foi pensada por décadas. “Trata-se de uma cidade utilitarista: a ideia de uma vida doméstica mínima e uma vida pública intensa. Se pensa uma maneira de viver baseada não mais no acúmulo material, mas no que é essencial”, explica o professor doutor Rodrigo Queiroz, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

A arquiteta Carolina Bueno ressalta como ideais do modernismo ainda ecoam pela capital paulista. “A busca pelo essencial no design, sem adornos, é um princípio até hoje norteador de práticas arquitetônicas e urbanísticas.”

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Para a professora doutora Maria Eliza Pita, da PUC Campinas, no caso da Bauhaus as ideias transcendem a arquitetura ou o mobiliário e refletem a vida urbana. “Morar coletivamente numa cidade que oferece equipamentos para o suporte da vida é uma ideia dos arquitetos modernos e foi ocasião privilegiada de experiências em bairros residenciais propostos pela Bauhaus.”

Na capital paulista, um dos bairros mais influenciados pela escola é Higienópolis, explica o arquiteto José Roberto Basiches.

“Podemos ver ali muita influência da Bauhaus. Prédios seguindo princípios e traduzindo toda essa influência numa excelente arquitetura, com volumes simples, geométricos, linhas retas.” (Lorena Lara - especial para Estadão Conteúdo)

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