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Em nome do bem-estar e do conforto, residências podem ter ‘selo sustentável’

07 de Fevereiro de 2021 às 00:01

Em nome do bem-estar e do conforto, residências podem ter ‘selo sustentável’ Casa sustentável construída em Atibaia (SP). Projetos semelhantes são benéficos para todos. Crédito da foto: Divulgação

Obrigadas a ficar mais tempo em casa por causa da pandemia, as pessoas passaram a ter uma nova perspectiva sobre o “viver e morar com qualidade de vida”. E isso deve dar um impulso a mudanças, mesmo que pontuais, que podem deixar as residências mais sustentáveis. A partir dessa premissa, o Green Building Council Brasil (GBC) criou a certificação de interior residencial, programa que dá um “selo de qualidade” para moradias que têm estrutura, móveis e equipamentos sustentáveis. A entidade representa o World GBC no País, ONG composta por cerca de 70 núcleos em todo o mundo.

À frente da organização especializada em construção civil sustentável, que atua em todas as fases de elaboração de uma edificação, o presidente do conselho, Raul Penteado, acredita que pequenas ações em casa ou no local de trabalho, como trocar uma torneira que pinga, desperdiçando água, ou uma lâmpada que consome muita energia, podem reduzir o impacto ambiental. “Incentivamos as pessoas a terem consciência de que esses projetos são benéficos para elas e para todos”, disse.

A atuação do GBC começou focada no mundo corporativo, com certificação para construções que priorizam a economia de materiais e o menor consumo de energia. Em seguida, a organização ampliou a certificação para condomínios. Desde 2019, os conceitos sustentáveis do GBC também chegaram ao poder público. A entidade tem uma certificação de Zero Energy, no qual prédios de governos passam por uma reformulação para se tornarem autossuficientes em energia.

O projeto mais recente nas certificações é o para interior residencial - uma inovação brasileira. Com menos de um ano na presidência do Conselho do GBC - antes esteve à frente da Deca (fabricante de louças e metais sanitários) -, Penteado explicou que a pandemia levantou a discussão sobre moradias ao trazer o lockdown e o home office à tona. “Começamos a discutir uma forma de agregar qualidade de vida e sustentabilidade em cima dos conceitos de saúde, conforto e bem-estar. Vimos que precisávamos fazer alguma coisa que fosse simples e não dispendiosa”, explicou. De acordo com ele, o lançamento do programa deve ser feito ao longo deste mês.

A certificação Life vai analisar seis categorias, envolvendo saúde e bem-estar, conforto, qualidade interna do ar, responsabilidade social e consumo consciente, uso eficiente de recursos naturais e materiais utilizados. “Não é preciso quebrar o apartamento inteiro, trocar a tubulação. O exemplo que eu dou é: você vai trocar seu ar condicionado por um aparelho novo que gaste menos eletricidade ou trocar a torneira ou o chuveiro por um que consuma menos água”, explicou o presidente.

Segundo ele, são aplicações de ideias como essas que a entidade quer incentivar, respeitando o mínimo de requisitos. “O projeto de certificação de um apartamento de 150 metros quadrados vai custar cerca de R$ 1 mil. É um valor simbólico, destinado ao GBC, para incentivar e cobrir o custo da certificação, para manter a estrutura do GBC e acompanhar o trabalho”, disse Penteado.

Apesar de ter um roteiro prévio de requisitos que precisam ser atendidos, a organização não define metas, como uma porcentagem para redução do consumo de energia ou água, por exemplo.

A certificação da residência ficará a cargo do arquiteto responsável pela construção ou escolhido pelo dono do imóvel. O profissional vai apontar se os requisitos exigidos pelo GBC foram realizados, preencher um relatório e juntar fotos. Após a entrega das informações pelo arquiteto, o GBC vai emitir um certificado, “quase como se fosse um diploma para o proprietário”.

Questionado sobre como convencer profissionais - uma vez que eles não serão remunerados pela organização - e proprietários de que é uma boa ideia transformar uma residência baseada nos conceitos sustentáveis, o diretor-geral do GBC afirmou que a sociedade está cada vez mais tomando consciência de que é preciso mudar a forma de viver. “Há um ano e meio se falava em ter apartamentos de 18 metros quadrados, 15 metros quadrados, e a pessoa ia lá para tomar banho e dormir. A pandemia mostrou que é preciso repensar isso”.

Penteado destacou ainda que o princípio do programa é que o arquiteto entenda que isso vai gerar valor para o cliente dele, seja na forma de morar melhor, gastando menos com luz e água, ou na qualidade de vida. “E ele, como profissional, ganha o respeito do cliente, por estar fazendo algo bom para a sociedade como um todo”. (Estadão Conteúdo)