Criação de cabras é alternativa para pequenas propriedades
Cabras e ovelhas: além de Nordeste e Sul, estado de São Paulo reúne alguns dos principais criatórios do Brasil
Quando se fala em agronegócio a maioria das pessoas pensa na criação de gado para corte ou na produção de grãos com destaque no mercado internacional, como milho e soja. Porém, poucos se atentam ao fato de que 85% da produção agrícola brasileira está nas mãos de pequenos e médios produtores.
Isso se dá porque algumas atividades exigem um investimento inicial expressivo, mas também é preciso considerar os altos preços das terras em cidades próximas a grandes centros, como é a região de Sorocaba.
Em regiões onde é quase inviável a aquisição de grandes áreas, os investidores do agronegócio precisam ser criativos, reduzir custos e investir para melhorar a eficiência de produção.
Outro fator importante é a escolha do que se vai produzir. Nesse aspecto, a criação de cabras e ovelhas tem se destacado. Ao contrário do que muitos pensam, os grandes criadores de caprinos e ovinos não estão apenas no Nordeste ou no Sul do País: o estado de São Paulo reúne alguns dos principais criatórios do Brasil!
Um desses exemplos está em Porto Feliz, a 50 minutos de Sorocaba. Numa área de 12 alqueires, o produtor André Ferreiras, do Capril Porto Reserva, é destaque nacional na criação de cabras da raça Anglonubiana.
Mudanças no pasto: reflexo no bolso!
Há algum tempo o criador decidiu trocar sua pastagem, buscando reduzir custos e melhorar a eficiência. Ele trocou o Tifton pelo capim Mombaça, um tipo de Panicum maximum.
A escolha pelo capim foi definida por sua alta produtividade dentre os demais capins existentes no mercado e também por responder prontamente a adubação. Além disso, ele aguenta o pisoteio das cabras durante o pastejo e resiste muito bem às pragas e doenças.
O primeiro passo na execução do projeto foi seguir rigorosamente todos os protocolos normalmente exigidos para uma renovação de pastagem. Nesta fase foram feitas análises do solo que apontaram as principais características do terreno e quais as suas necessidades nutricionais.
O preparo da terra ocorreu durante a época seca do ano, sendo reservada para o período das chuvas a semeadura. Logo após essa etapa, entre 45 e 50 dias, um pasto novinho já estava pronto para ser usado.
Segundo o zootecnista Cristiano Magalhães Pariz, o novo capim consegue produzir de 60 a 70 toneladas de massa seca/hectare/ano, sendo que 80% desse volume é produzido de novembro a abril, devido as condições de chuva, luz e temperatura. Já o Tifton pouco ultrapassa as 30 toneladas de massa seca/hectare/ano.
Apesar do Tifton ser um capim rasteiro, de menor porte e ter a mesma exigência de fertilidade de solo que o Mombaça, a diferença entre ambos se estende também ao custo de plantio. Segundo Cristiano Magalhães, enquanto a implantação de uma pastagem de capim Mombaça gira por volta de R$ 2 mil e R$ 2,5 mil por hectare -- contando com aplicação de insumos e operação de maquinário -- o Tifton, por se tratar de uma muda de alto custo, varia entre R$ 4 mil e R$ 5 mil por hectare.
Na Porto Reserva a área destinada à implantação do capim Mombaça ocupa um espaço de 3,2 ha, onde pastejam em torno de 200 animais. A média por hectare fica por volta de 60 a 70 cabras contando com o auxílio nutricional da suplementação. Sem esse auxílio e com a nutrição sendo somente a pasto, o índice cairia para 20 cabras/hectare.
Animais bem nutridos, custo de produção menor
Uma cabra bem nutrida e feliz é um animal que adoecerá menos e irá responder produtivamente de maneira satisfatória. Por isso, um dos primeiros resultados obtidos com a implantação do capim Mombaça foi o alto índice de adaptação das cabras à nova pastagem.
O proprietário do capril, André Ferreiras, ficou satisfeito com o resultado. “O que me empolga nesse projeto é olhar para o rebanho e ver a qualidade sanitária do nosso plantel e como hoje temos poucos animais doentes ou com problemas de escore. E tem ainda a satisfação no bolso, que faz a gente sorrir também. Com o novo pasto o nosso consumo de silagem diminuiu em torno de 40%”, comemora.
Custo produtivo menor Não foi só nos índices zootécnicos que a utilização do capim Mombaça se mostrou vantajoso. Os ganhos com a nova cultivar foram percebidos também no custo de produção, já que sai mais barato alimentar o animal a pasto do que fornecendo silagem. Para se ter uma ideia, o custo médio da silagem no estado original produzida na propriedade, com 35% de matéria seca, sai a R$ 180,00. Multiplicando esse valor por três o custo final de produção chega a R$ 540,00 a tonelada. O milho, que tem 90% de matéria seca e um valor nutricional mais alto, custa R$ 760,00 a tonelada, ou seja, quase o mesmo valor da silagem. E ainda sofre variações expressivas de preço em função da cotação do dólar x produção x demanda mundial.
Já o quilo da matéria seca da silagem custa R$ 0,54 enquanto a matéria seca do capim Mombaça sai por R$ 0,04 o quilo. “A silagem de certa forma é muito semelhante em termos nutricionais que o pasto. Dependendo da qualidade, ela consegue ter um pouco mais de energia. Aqui no capril nossa silagem tem entre 70% e 75% de energia. Já o pasto de capim Mombaça tem entre 65% a 70%. Só que quando falamos em proteína, as nossas cabras consomem em torno de 17% a 18% desse nutriente a pasto, enquanto a silagem fornece apenas 7%. A pasto nós conseguimos diminuir a necessidade de concentrado proteico na suplementação dos animais e isso reduz o custo de produção”, afirma o zootecnista.
Formulação do adubo utilizado No Capril Porto Reserva foi utilizado o adubo 20520, que é um formulado de 20% de nitrogênio, 5% de P2O5 (fósforo) e 20% de K2O (potássio). Este é um tipo de adubo que equilibra a formulação entre potássio e hidrogênio. Sem essa sincronização, o pasto pode ter deficiência de potássio e não produzir de acordo com o esperado. (Denis Deli - jornalista especializado em agronegócio, pós graduado em Produção e Reprodução animal)