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Agro

Afinal, ovinocultura é bom negócio?

Fertilidade, precocidade e bom acabamento de carcaça podem garantir lucro ao produtor

26 de Agosto de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: DIVULGAÇÃO)

O mercado de ovinos vive um bom momento na pecuária nacional. E não é de hoje! Há pelo menos 15 anos esses pequenos ruminantes entram nas planilhas de comparativo de produção x rentabilidade de produtores que buscam diversificar as atividades.

Apesar de todo o exercício para comparar seu desempenho com a produção de bovinos, é preciso entender que são negócios diferentes. Muitos fazem as contas considerando fatores como: onde se cria uma vaca cabem 10 ovelhas; o período de gestação de uma vaca é de nove meses e das ovelhas, de cinco meses; é possível abater e vender a carne de cordeiro por um preço maior do que a carne bovina -- mas não existe cadeia estruturada para comprar grandes volumes, como acontece com o boi. Mas isso é um erro. As duas espécies não precisam competir entre si. Elas têm finalidades diferentes e podem ser usadas em “cenários” distintos.

O primeiro ponto a se observar é que os ovinos podem ser criados, de maneira rentável e eficiente, em áreas menores -- o que é difícil no caso dos bovinos. Isso é importante para quem tem propriedades que ficam próximas de grandes centros, onde a terra é mais cara.

Também vale lembrar que esse sistema de criação funciona bem em terras acidentadas, de difícil acesso para as máquinas agrícolas. Isso é importante para quem tem sua propriedade destinada à lavoura, como cana-de-açúcar ou grãos, e quer aproveitar as áreas onde não é possível cultivar.

Ovelha não é “tudo igual”

Quando se pensa em produção de alta performance é preciso considerar todos os fatores que podem influenciar nos resultados. Eles são muitos: manejo, sanidade, nutrição, instalação, mão de obra, genética etc.

Todos eles são variáveis, ou seja, cada propriedade tem uma realidade. Mas existe um fator que é imutável: a genética. Se ela é boa, será boa em qualquer lugar. Se for ruim....

Existem dezenas de raças ovinas adaptadas aos diversos climas brasileiros. Algumas são focadas na produção de carne, outras no leite, as raças produtoras de lã e as de uso misto ou dupla aptidão.

Em outras palavras: sempre é preciso pensar em qual raça criar. Elas são muitas, mas para servir de exemplo, vou falar sobre o Ile de France. É uma raça bem adaptada a várias regiões do Brasil (inclusive no estado de São Paulo), que tem boa oferta de animais com genética superior. Isso é fundamental, caso você já tenha algumas ovelhas e queira fazer cruzamento industrial.

O Ile de France é um ovino de grande porte e formato, constituição robusta e conformação harmoniosa, típica do animal produtor de carne. É considerada raça de duplo propósito, com um equilíbrio zootécnico orientado 60% para a produção de carne e 40% para a produção de lã.

Produz uma carcaça pesada, de boa qualidade e muita precocidade. As ovelhas pesam cerca de 80 kg e os carneiros atingem de 110 a 160 kg. Os cordeiros, na faixa de 70 dias, podem apresentar ganho de peso próximo a 300g/dia. A raça é prolífera, atingindo médias de nascimentos de 160%. Produz cordeiros em diferentes épocas do ano.

Apresenta um peito amplo com costeletas bem arqueadas. O dorso, lombo e a garupa são largos, longos e musculosos. Os quartos são volumosos, profundos e arredondados. A harmonia dessas formas confere aos animais uma presença robusta e maciça. Os membros fortes, de comprimento médio, asseguram aprumos sólidos e corretos. A carne possui pequena quantidade de gordura insaturada, o que a torna ideal para dietas que exijam baixos níveis de colesterol. Ela é macia, suculenta e de sabor suave, podendo ser utilizada em diversos pratos.

Fertilidade aumenta os lucros

A principal vantagem na criação de ovinos Ile de France é que as fêmeas possuem cinco meses de cio a mais do que as demais raças de corte. Com isso, o criador pode programar o nascimento dos cordeiros e realizar o abate na entressafra, conseguindo melhores preços e aumentando a renda da atividade. Outra vantagem é fazê-los nascer na época mais propícia ao seu manejo, utilizando a ovinocultura como atividade complementar na propriedade. É possível fazer três partos em dois anos.

Os índices de prolificidade são excelentes. Colocando 100 ovelhas em reprodução, no final da gestação o criador obterá em média 168 cordeiros, que em apenas 90 dias estarão pesando de 30 a 35 kg -- prontos para o abate. Com este índice de crescimento as borregas estarão aptas a serem cobertas aos oito ou nove meses, um ano antes do tradicional.

Denis Deli é jornalista, especializado em agronegócio, pós-graduado em Produção e Reprodução Animal.