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Agro

Há exagero de pastos e lavoura?

Desafio é produzir mais alimentos por hectare e isso se consegue com pesquisa e tecnologia

01 de Julho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: DIVULGAÇÃO)

Você já deve ter se deparado com discussões que apontam o “crescimento desenfreado” do agronegócio como um problema, que a busca por riquezas faz com que os produtores rurais “exagerem” na produção, a ponto de termos mais cabeças de gado do que pessoas no País. Essa “produção exagerada” estimula o consumo de alimentos, fazendo com que restaurantes e churrascarias ofereçam uma “grande” quantidade de comida, criando assim um ciclo que se autoalimenta: consumimos de maneira exagera e por isso precisamos produzir cada vez mais.

É claro que todos têm direito à opinião e não cabe a mim querer mudar a forma como as pessoas pensam. Mas quero trazer uma reflexão diferente, para que você seja capaz de conhecer, entender e, com isso, formar sua própria opinião. Independentemente de concordar comigo ou não.

Para entender o presente é preciso conhecer a história. Para facilitar, vou usar como exemplo algo que o brasileiro conhece bem: o futebol.

Em 1970 o Brasil se tornou o primeiro tricampeão da Copa do Mundo da Fifa. Nós tínhamos um time fantástico, comandado por ninguém menos que o maior atleta de todos os tempos, o rei do futebol: o nosso Pelé.

Não importa se você já era nascido naquela época ou não. Tenho certeza de que você já ouviu pelo menos um pedaço da música que embalou os torcedores naquela copa do mundo: “90 milhões em ação, pra frente Brasil, do meu coração”. Lembra?

De 1970 para cá, o Brasil já ganhou mais duas Copas do Mundo e nossa população subiu de 90 milhões para 220 milhões. E essa gente toda precisa comer!

Para quem diz que “o agro cresce e produz de maneira exagerada” eu vou trazer a opinião da ONU sobre o tema.

Segundo um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) publicado em 2009, os produtores rurais de todo o mundo precisam aumentar sua produção em 70% para conseguir alimentar mais 2,3 bilhões de novos habitantes deste planeta, que irão nascer até 2050.

É isso mesmo que você leu: o mundo precisa aumentar em 70% a produção de alimentos para que a população do planeta não passe fome!

Quem usa o “consumo exagerado” para justificar as críticas ao crescimento do setor, certamente tem a sorte de frequentar ambientes com mesas fartas. Mas será que essa é a realidade da população mundial?

O grande problema em diminuir (ou não aumentar) a produção é que o alimento, considerado farto para alguns, se tornará um bem escasso. E o que acontece quando temos “pouco” de alguma coisa? O preço sobe.

Portanto, defender que o agro deve crescer menos, que precisamos dedicar menos áreas para pastagem e lavoura, é o mesmo que sentenciar os mais pobres do planeta a conviver com a fome num futuro não muito distante. Afinal, 2050 está logo aí.

Esse não é um pensamento inteligente, nem é socialmente justo. Mas para a sorte dos habitantes deste planeta, o produtor rural tem consciência do seu papel e continua produzindo.

Ainda segundo a FAO, dos 70% de aumento na produção, que são necessários para alimentar o mundo, o Brasil (sozinho) deve ser responsável por 40% deste crescimento.

É importante dizer que, aumentar a produção não implica, necessariamente, em aumentar o volume de terras. O desafio é produzir mais alimentos por hectare e isso se consegue com pesquisa e muita tecnologia.

Acredite: essa tecnologia já faz parte do agro brasileiro. Nós somos um dos poucos países do mundo a conseguir três safras por ano -- com eficiência. E já existem alguns sistemas produtivos no País implantando uma quarta safra anual.

Mas ainda assim é pouco. Segundo a FAO, o mundo precisa de mais terras produzindo para conseguir alimentar uma população que não para de crescer. Mas não se preocupe, não estamos estimulando o desmatamento.

O que precisamos é ampliar os recursos para aproveitar as terras degradadas que já existem. E esse é o grande desafio do agro brasileiro no futuro.

Afinal, se hoje temos no mundo uma população de 7,8 bilhões de pessoas, em 2050 seremos 9,3 bilhões em ação -- e famintos.

Denis Deli é jornalista especializado em agronegócio, pós-graduado em produção e reprodução animal.