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Zé Franco foi líder nato e empreendedor

20 de Julho de 2018 às 11:26

"Meu pai era um negociante por natureza e sua paixão pelo comércio foi devido à relação de atendimento com as pessoas, que gostavam muito dele. Foi um líder natural, não só do Mercado mas do comércio como um todo", lembra José Franco de Camargo Júnior, filho do Zé Franco, conhecido comerciante do ramo de tabaco e ervas em Sorocaba. Zé Franco faleceu no sábado passado, aos 95 anos, em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Hoje será realizada a missa de 7º dia, às 18h, na Catedral Metropolitana.

Para Júnior, fica difícil separar a figura do pai, da pessoa que Zé Franco foi. Ele lembra que seu genitor teve uma vida sofrida, no entanto nunca se queixou de nada. "Meu pai começou a trabalhar aos 5 anos na roça, ajudando o meu avô a plantar e criar animais", conta. "Traziam frutas e pequenos animais para vender no mercado da rua Maylasky. Quando foi inaugurado o Mercado Municipal (em 1938), meu pai já era adolescente e foi um dos primeiros proprietários."

Como pai, Zé Franco criou os filhos aos moldes de antigamente, na base do olho. "Quando minha mãe batia em nós, não acontecia nada. Mas quando meu pai olhava torto, a gente já chorava", recorda.

Um dos maiores exemplos que Zé Franco deixou é com relação ao modo de tratar os outros. "Ele sempre dizia que o cliente é uma pessoa que precisa de você e por isso é obrigação do comerciante servi-lo naquilo que ele quer, mesmo se for fumo, se isso é o que ele procura e o deixa feliz."

Júnior ressalta que para seu pai o respeito ao próximo sempre foi primordial. "Meu pai falava que se te procuram, é porque estão precisando de você." Em contrapartida, o carinho que recebia dos clientes era recíproco. "Era bonito de ver o número de pessoas que parava aqui para falar com ele."

Empreendedor, Zé Franco também teve outros negócios como imobiliária, fábrica de doces e pedreira. Mas gostava mesmo era do Mercado Municipal, sua primeira paixão. Em segundo lugar, vinha o cururu e a moda de viola. O filho afirma que nos anos 1960, ele patrocinou muitos programas de rádio que tocavam essas músicas em Sorocaba. "Ele inclusive ia nos eventos e fazia a apresentação dos cantores. Meu pai tinha uma fluidez verbal e um linguajar invejáveis, o que é impressionante para quem levou uma vida simples", comenta Júnior.

Já Antonio, o filho do meio, lembra que o pai tinha um grande conhecimento sobre as ervas medicinais. "Ele chegava a ficar dois, três meses no Paraguai no meio dos índios, aprendendo", conta. Talvez por essa sabedoria, as pessoas o viam como alguém mais espiritualizado. "Muita gente pedia conselho para ele, tinha alguns que até pediam para benzer. Meu pai acabava rezando pelas pessoas, mas não se considerava um benzedeiro, só que dava certo."

Um detalhe da vida de Zé Franco é que ele chegou a conhecer João de Camargo, de quem recebeu ajuda. Era seu devoto, por isso sempre manteve na parede do comércio de tabaco, no Mercado Municipal, o retrato do Nhô João.

Apesar da idade avançada, Zé Franco só deixou de trabalhar há dois meses, por causa da doença.

Utiyama: Zé Franco lutou por melhorias no Mercado - EMÍDIO MARQUESUtiyama: Zé Franco lutou por melhorias no Mercado - EMÍDIO MARQUES

Seu amigo de longa data, desde 1962, o comerciante Mario Utiyama conta que levou um baque quando soube da morte de Zé Franco. Emocionado, Mario conta que Zé ajudou muita gente, principalmente sua família. Se o Mercado Municipal ainda funciona nos dias atuais, Mario afirma que é devido à batalha enfrentada por Zé Franco para conseguir reformar o espaço (o que foi possível na gestão do prefeito Renato Amary). "Se não fosse ele ter lutado por nós, quando foi presidente da Associação, dificilmente o Mercado estaria assim hoje." O amigo, disse Mario, vai deixar saudade.

Um pouco da história de vida do comerciante é contada no documentário "Zé Franco - Rei do Fumo", dirigido por Bruno Cecim, e que foi exibido no festival de cinema de Votorantim, o CineFest, em 2016. Zé Franco ainda deixou a filha Catarina Nanci.