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Vizinhos da Saturnia fazem abaixo-assinado contra garimpo em terreno

12 de Setembro de 2019 às 00:01

Vizinhos da Saturnia fazem abaixo-assinado “Garimpeiros” estão queimando produtos encontrados no terreno, o que provoca fumaça tóxica

 

Cansados de reclamar, sem obter apoio das autoridades competentes, moradores e funcionários de empresas nas imediações do local onde funcionava a fábrica de baterias automotivas Saturnia estão fazendo um abaixo-assinado para exigir providências contra as atividades que envolvem a exploração do chumbo e outros materiais abandonados e enterrados no terreno da antiga indústria.

Recentemente, a situação da vizinhança se agravou porque os chamados “garimpeiros” passaram derreter as baterias no próprio local. Além do mau cheiro, a fumaça tóxica está preocupando a todos, por motivo de saúde. As reclamações incluem crises de asma, irritação nos olhos e na pele e dor de cabeça. Os mais prejudicados são os moradores dos bairros Iporanga 1 e 2 e do Éden.

O abaixo-assinado está sendo organizado por uma moradora do Iporanga 1. A pessoa afirma que teve a iniciativa após ver muita gente reclamando e cobrando atitude dos vereadores pelo Facebook. “Eu geralmente reclamo no canal da Prefeitura. Registrei reclamação, conversei com o pessoal da Secretaria do Meio Ambiente...”, afirma. Como nada foi resolvido, ela começou o abaixo-assinado. Eles estão pensando em protocolar não apenas na Prefeitura mas também no Ministério Público.

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Conforme a moradora, a maior preocupação é com a saúde. Como os “garimpeiros” estão queimando as baterias na antiga fábrica, os componentes tóxicos estão sendo espalhados pelo ar, e até mesmo quem não está envolvido com essa atitude tem sido prejudicado.

A moradora lembra que em uma entrevista, a Cetesb identificou a contaminação por chumbo de todo o solo da fábrica e que a Justiça tinha determinado a retirada do material químico do terreno. “Mas aí a Cetesb disse que não tinha equipe para fazer isso e nem lugar para colocar os produtos”, diz.

O proprietário de uma empresa ali perto disse que os funcionários do turno da noite, quando ocorre a maior parte do derretimento das baterias, estão precisando usar máscaras anti-gás para conseguirem trabalhar. Um porteiro dessa mesma empresa -- ambos preferiram não se identificar -- disse que logo no começo ele e os colegas desconfiaram que o cheiro estivesse vindo de borracharia lá perto. “Mas aí continuou e o pessoal começou a observar pontos de fogueira no terreno da Saturnia”, conta.

Ele recorda que quando iniciaram as denúncias sobre o garimpo no terreno, a única coisa que foi feita pela empresa proprietária foi cercar todo o espaço. “Mas arrancaram cerca e tudo. Levaram a cerca porque também tem valor comercial.”

O porteiro disse que o cheiro é forte e teve dias que formou uma fumaça preta ali. “Alguns colegas relataram dor de cabeça. Praticamente todos os dias está tendo isso. A gente sabe que chumbo é material perigoso e a preocupação é se a fumaça tem resíduos de chumbo.”

Autoridades questionadas

Ele acredita que esse garimpo esteja sendo lucrativo pois tem gente que aparece com caminhonete e tem até retroescavadeira no local.

Questionada a respeito, a Secretaria do Meio Ambiente, Parques e Jardins (Sema) de Sorocaba informa que está acompanhando o caso com bastante atenção, assim como todo o trabalho realizado pela Câmara Municipal, que criou a Comissão Especial de Investigação (CEI) para apurar as denúncias de crime ambiental; pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que é o órgão licenciador e tem responsabilidade sobre o caso; e também na esfera judicial, com a participação do Ministério Público.

Vizinhos da Saturnia fazem abaixo-assinado Cetesb identificou contaminação em toda área onde funcionou a fábrica de baterias. Crédito da foto: Erick Pinheiro / Arquivo JCS (29/4/2019)

 

Conforme a Sema, a massa falida da empresa Saturnia vem sendo autuada pela Cetesb e o processo está na Justiça, que suspendeu o desmembramento da área.

O órgão estadual determinou uma nova análise investigatória na área para que então a empresa dê início ao processo de descontaminação, com o monitoramento da Cetesb. Uma reunião está agendada para o dia 20 de setembro para que a empresa contratada pela Câmara Municipal apresente as informações finais da investigação para elaboração de propostas para o relatório final.

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Já a Cetesb informa que fez vistoria no local no dia 5 de setembro e constatou que a área não está cercada em sua totalidade, conforme exigência feita em 8 de agosto, quando a massa falida da Saturnia foi multada em R$ 530.600,00. Nos próximos dias, a Cetesb informará à Promotoria Pública de Meio Ambiente sobre este descumprimento. Sobre a retirada e destinação adequada dos resíduos de chumbo que ainda se encontram no terreno, cabe ao administrador tomar esta providência, conforme também exigido pela Cetesb na penalidade aplicada em agosto último.

Queima das baterias gera fumaça tóxica

A professora da Uniso, Camila Augusta de Oliveira Martins Arakaki, licenciada em Química e doutora em Ciências, explica quais são os gases resultantes da queima das sucatas de baterias automotivas e o que podem provocar aos seres humanos e animais.

Conforme ela, uma sucata de bateria contém aproximadamente 32% de Pb (chumbo), 3% de PbO (óxido de chumbo II), 17% de PbO2 (óxido de chumbo IV), 36% de PbSO4 (sulfato de chumbo II), além de plásticos e componentes ácidos. Camila informa que a presença de grandes quantidades de sulfato de chumbo II gera vapores de dióxido de enxofre, gás que tem um odor forte. Como as baterias também têm plástico, é outro fator que causa cheiro desagradável. Mais do que o mau cheiro, o perigo está nas partículas que vão para o ar, que são prejudiciais à saúde e podem causar problemas respiratórios. Na natureza, podem provocar chuva ácida.

Informação do Ministério da Saúde aponta que o chumbo inalado é absorvido pelos pulmões e atinge rapidamente a corrente sanguínea. Após chegar à corrente sanguínea, o chumbo é distribuído para o fígado, rins, cérebro, baço, coração e tecidos moles. Ao longo do tempo, parte do chumbo é armazenada nos ossos e dentes, onde pode permanecer na forma de fosfato de chumbo por décadas.

Os principais efeitos do chumbo são no sistema nervoso (encefalopatia crônica, alterações cognitivas e de humor, neuropatia periférica) e nos rins (nefropatia com gota, insuficiência renal crônica e síndrome de Fanconi). Em casos mais graves, os danos cerebrais e renais podem levar à morte.

Além disso, outros sinais e sintomas podem ser observados, entre eles dor de cabeça; dificuldades de concentração; redução da libido; fraqueza nos dedos, pulsos e tornozelos; cólicas abdominais; náuseas; constipação intestinal; anemia; aborto; parto prematuro; desenvolvimento neurológico comprometido em crianças; infertilidade masculina; entre outros.

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A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer classifica o chumbo e seus compostos inorgânicos como “possivelmente carcinogênicos para humanos”. Pesquisas com animais demonstraram o desenvolvimento de tumores renais após a ingestão de altas concentrações desses compostos. Assim, o chumbo é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos elementos químicos mais perigosos à saúde humana.

Já com relação à chuva ácida, publicação da química Jennifer Fogaça no site Brasil Escola informa que ela causa vários estragos ambientais, trazendo problemas para as plantas, ao destruir folhas e galhos das árvores; para o solo, provocando a sua alteração química; para as águas de rios e lagos, levando à morte de peixes, contaminando também as águas subterrâneas; além de estar relacionada com o surgimento de doenças respiratórias.

Além desse estrago ambiental, as chuvas ácidas reagem com carbonatos, como o mármore (calcário carbonato de cálcio CaCO3) que compõe as estátuas, monumentos históricos e diversos materiais usados na construção civil, que são, com o tempo, degradados. Reagem também com metais, destruindo estruturas metálicas de prédios e pontes. (Daniela Jacinto)

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