Um ano lutando para não fechar as portas
Há um ano Sorocaba -- e o Brasil -- passavam a enfrentar as consequências impostas pelo duro, mas necessário, isolamento social. Crédito da foto: Fábio Rogério
Com mais de um ano de pandemia, medidas de isolamento e distanciamento social, incertezas econômicas e falta de apoio do Estado, os comerciantes de Sorocaba têm tomado diversas medidas para sobreviver. As ações vão desde a renegociação contratos e dívidas com fornecedores até a suspensão temporária das atividades.
É o caso, por exemplo, do empresário Douglas Galvão, proprietário de um restaurante na rua Padre Madureira. “O feriado você tem que pagar a mais, mas não tem receita para isso”, reclama. Conforme o empresário, o movimento com delivery gera retorno de cerca de 30% do que é considerado normal. Douglas Galvão conta que precisou negociar o preço do aluguel onde funciona o estabelecimento. “O dono fez um preço diferenciado durante a pandemia”, conta.
As medidas também afetaram a parte de pessoal, com férias coletivas e redução de carga horária. Houve ainda diminuição no consumo de energia elétrica e de insumos. Também, renegociação e até troca de fornecedores. “Cortamos os gastos sem perder a qualidade. Não trocamos de marcas, mas brigamos por melhores preços”, diz Galvão. Os recursos economizados, conforme ele, foram usados, entre outras coisas, para investir em publicidade. “Não adianta trabalhar com delivery e sem fazer divulgação”, opina.
O empresário fala de todo o esforço concentrado neste momento para manter uma tradição de 22 anos do restaurante na cidade. “Para chegar ao fim do túnel, a gente precisa se reinventar. Aqui são 22 anos de tradição e seria injusto a gente terminar dessa forma. Não vamos deixar a peteca cair, não vamos perder para a pandemia”, termina.
Para o professor e economista Geraldo de Almeida, o caminho é justamente o de se reinventar para sobreviver. “Os comerciantes estão passando por um período muito difícil, principalmente os pequenos. O acesso a linhas de crédito subsidiadas não existem. Eles precisam de um programa de manutenção do emprego”, afirma o economista. Por isso, essa necessidade de adiantamento de férias e adaptação de jornada de trabalho.
“Quem passar por esse período sairá fortalecido”, garante. “Mas o que a maioria precisa é fazer a transformação digital do negócio. Quem não o fizer, dificilmente vai se recuperar. Vamos viver novos tempos e essa adaptação vai ser imprescindível. Tanto o empresário como o funcionário vão ter que buscar essa digitalização. Novos tempos, novos modelos de negócio. A adaptação aos novos hábitos de consumo vai ser vital para sobreviver.
Há, entretanto, quem tome decisão mais radical para manter a sobrevivência. O empresário Glauco Bianchini, com negócio na galeria de um supermercado em Santa Rosália, diz que teve que suspender temporariamente toda a operação como forma de preservar o negócio. Todos os 11 empregados então em férias coletivas. Conforme ele, seu maior faturamento estava no almoço e, com a pandemia, o volume de entrega no delivery estava abaixo do necessário para manter as operações.
“A gente começou (com delivery), no início do ano e o volume já não era suficiente para bancar os custos. Minha opção foi reduzir esses custos, colocando todos os funcionários em férias coletivas”, lembra. Ele ainda elencou que outros gastos continuam, por exemplo, com água e energia elétrica. O pagamento do aluguel e do condomínio está em processo de negociação com a empresa proprietária do imóvel. “Mas essa questão da negociação não é tão simples”, comenta.
O empresário reclamou da falta de apoio do governo federal. “Dessa vez, estamos à deriva. Se não sair uma ajuda, fica difícil. A gente não tem nada de concreto até o momento. É lamentável”, diz. “Estamos passando por um momento muito complicado. Se a gente não rever custos, vai ficar complicado o retorno” termina. (Marcel Scinocca)
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