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Trabalho informal é alternativa para driblar falta de vagas com carteira assinada

05 de Agosto de 2018 às 08:18
Ana Claudia Martins [email protected]

O PAT e agências de recursos humanos são os locais procurados na cidade por pessoas em busca de emprego. Crédito da foto: Emídio Marques

Com 12,9 milhões de pessoas procurando emprego no País, o trabalho informal -- os famosos “bicos” -- é maneira que os brasileiros estão encontrando para obter renda. Em Sorocaba não é diferente, embora não existam números oficiais do desemprego por município. O trabalho informal, que é alternativa à falta de vagas com carteira assinada, muitas vezes se transforma em negócio próprio, como microempreendedor.

Raimundo é pedreiro e faz “bicos” enquanto procura emprego. Crédito da foto: Emídio Marques

De acordo com os últimos dados divulgados sobre emprego em Sorocaba pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, após três meses de saldo positivo, junho de 2018 registrou a eliminação de 676 vagas com carteira assinada na cidade. Foram perdidas 176 vagas em maio, após criação de 428 vagas em abril e 327 em março.

Com poucas vagas no mercado de trabalho com carteira assinada, a informalidade cresce como alternativa de renda. Segundo o IBGE, no País são cerca de 37 milhões de pessoas no mercado informal, em posições como trabalho no setor privado sem carteira assinada, trabalhador doméstico sem carteira, empregador sem Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e trabalhador por conta própria sem CNPJ.

Para alguns sorocabanos a busca pela vaga de emprego formal já passa de um ano. Outro fator complicador é a idade, que reduz a chance de recolocação no mercado de trabalho, principalmente quando o profissional não tem curso superior e qualificação diferenciada. É o caso do pedreiro Raimundo Nonato Sampaio Souza, 62 anos, que está em busca de uma vaga na construção civil há um ano e quatro meses.

Raimundo faz “bicos” na área para garantir seu sustento, portanto trabalha informalmente, e quase toda semana vai até o Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT) de Sorocaba para conferir as vagas disponíveis e se alguém se interessou pelo seu currículo. Ele afirma que a idade prejudica sua volta ao mercado de trabalho.

“A idade não deveria atrapalhar e contar como experiência”, questiona. Raimundo disse que trabalhou com carteira assinada por 22 anos, mas no início da profissão de pedreiro atuou alguns anos de forma autônoma e por isso ainda não tem o tempo suficiente de contribuição para se aposentar. “Está difícil conseguir uma vaga de emprego e tem mês que até os ‘bicos’ não aparecem muito”, descreve.

O vendedor Anderson Vieira conta com o seguro desemprego. Crédito da foto: Emídio Marques

O vendedor Anderson Vieira, 36, está há três meses desempregado e também vai com frequência ao PAT. Ele afirma que enquanto procura emprego conta com a ajuda do seguro desemprego, que ele ainda recebe. “Sou casado e minha esposa está trabalhando e não pagamos aluguel. Então, por enquanto ainda não está pesando muito no orçamento, mas está um pouco difícil se recolocar no mercado de trabalho”, diz Anderson. Ele trabalhava há mais de oito anos com carteira assinada e saiu do emprego por causa de mudança de cidade. Mora em Sorocaba há três meses.

“Tenho o ensino médio completo e curso técnico. Já vim três vezes ao PAT e até agora não consegui nada”.

O PAT de Sorocaba e agências de recursos humanos são os locais procurados na cidade por pessoas em busca de emprego. Para quem está desempregado, a ida ao centro da cidade representa gastos, com ônibus e alimentação, por exemplo. Às vezes é um dinheiro que faz falta e a solução para conseguir pagar as despesas do mês são os “bicos”.

O 1º semestre do ano foi fechado com 2.215 trabalhadores inseridos por meio do PAT. Em junho, dos 361 trabalhadores que conseguiram uma recolocação, a maioria foi para o setor de serviços (219 admissões), seguido pelo comércio (60), construção civil (47) e indústria (35).

Vendedores autônomos se dão bem e abrem negócio próprio

Depois de trabalhar muitos anos com carteira assinada e ficarem desempregadas, algumas pessoas decidem ser autônomas até sentir segurança para montar seu próprio negócio. É o caso de Alessandra Gonçalves, 35 anos, que decidiu fazer baguetes recheadas para vender. Ela conta que está no ramo há um ano e meio e desde então não procurou mais emprego formal.

“Faço meus próprios horários, tenho mais liberdade e o que eu faturo por mês compensa trabalhar como autônoma”.

Alessandra começou a vender baguetes recheadas -- doces e salgadas -- para amigos e parentes, e em pouco tempo a famosa propaganda “boca a boca” ajudou a alavancar as vendas.

Alessandra vende baguetes recheadas, comprou novos equipamentos e aumentou a produção. Crédito da foto: Erick Pinheiro / Arquivo JCS (25/07/2018)

Ela começou com 15 baguetes por dia e atualmente faz uma média de 40, além de bolos e doces para festas. “Como os pedidos foram crescendo, comprei mais equipamentos de cozinha e até um forno industrial, além de contratar uma pessoa. Entrego os pedidos para os clientes, que fazem as encomendas, e deixo sempre com eles panfletos, que acabam gerando mais pedidos. Faço entregas até em empresas grandes”, comemora.

A autônoma ainda não se formalizou como microempreendedora individual (MEI), mas diz que pretende fazer isso pois não tem a intenção de voltar a trabalhar como assalariada. “Quando fiquei desempregada enviei currículo por três meses e como não tive retorno resolvi trabalhar como autônoma e está dando certo. Em breve pretendo ser MEI por conta dos benefícios, como o INSS.”

Há 27 anos trabalhando no setor de moda, Sandra de Fátima Maia, 52, chegou a ter três lojas de roupa na cidade, desde que começou a vender roupas como sacoleira. Ela conta que começou a trabalhar com carteira assinada aos 18 anos e ficou em um emprego formal durante sete anos, até ser dispensada. “Eu trabalhava como secretária em uma empresa e por conta de uma crise financeira vários empregados acabaram demitidos, inclusive eu. Daí como já vendia algumas roupas para conhecidos passei a fazer só isso.”

O negócio começou a prosperar e depois de trabalhar por oito anos como sacoleira vendendo roupas nas casas das pessoas, Sandra decidiu abrir sua primeira loja em 1999 na Vila Progresso. Anos depois ela chegou a ter outras duas lojas. “Mas quando veio a crise fechei as outras unidades e fiquei só com a loja na Vila Santana, onde estou até hoje”, diz a comerciante.

Sandra conta que há quatro anos mudou o nome da loja e acabou criando uma marca própria, o que ajudou a impulsionar as vendas. “Também criamos o serviço de delivery e isso já corresponde a 40% das vendas. Levamos peças de roupas para as clientes na casa ou no trabalho. É uma praticidade para a correria do dia a dia”, considera.

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