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Testes de vacinas contra Covid-19 estão em fase final no Brasil

20 de Dezembro de 2020 às 00:01
Kally Momesso [email protected]

Vacinas contra a Covid-19 estão em fase final no Brasil As desenvolvidas pela AstraZêneca, Sinovac, Pfizer e Janssen são as mais promissoras, avalia a Anvisa. Crédito da foto: Getty Images / AFP

Quase um ano após o início da pandemia (o primeiro caso surgiu em 31 de dezembro de 2019, na China), seis vacinas contra a Covid-19 começaram a ser aplicadas ao redor do mundo. No Brasil, a imunização segue em passos mais lentos e com quatro projetos na fase 3 dos testes. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as vacinas desenvolvidas pelos laboratórios AstraZêneca, Sinovac, Pfizer e Janssen são as mais promissoras.

Segundo a médica infectologista, Marina Jabur, são cerca de 160 pesquisas em desenvolvimento, sendo que a maior parte ainda não chegou na fase de estudos em humanos. “Temos 13 estudos que estão em fase 3, ou seja, aqueles se mostraram seguros quando administrados em pessoas voluntárias”, esclareceu a médica.

A vacina de Oxford foi testada em torno de 10 mil pessoas no Brasil. Conforme Marina, os resultados dos estudos constataram uma maior eficácia no Reino Unido, fato que ainda deve ser estudado para entender a divergência de eficácia da vacina.

A Coronavac já administrou mais de 10 mil doses no Brasil e com 74 casos de voluntários infectados pelo coronavírus. Ela explicou que ainda é necessário esperar pelos resultados finais para analisar se as infecções aconteceram em pacientes que receberam a vacina ou o placebo. A apresentação dos resultados à Anvisa está prevista para o dia 23.

Sobre a vacina da Pfizer, a infectologista afirmou que apresenta “boa eficácia”, mas que o armazenamento em temperaturas muito baixas se torna uma grande limitação para o governo brasileiro. Os dados sobre a eficácia do imunizante já foram enviados, no dia 16, ao órgão regulamentador do País.

A especialista explicou que diversas vacinas estão sendo desenvolvidas com uma tecnologia bem conhecida no ramo científico. “Muitas das vacinas estão sendo desenvolvidas por vírus inativado, tecnologia já empregada em outras vacinas e bem tolerada, pouco reatogênica”, informou a médica.

Para agilizar o processo de imunização, a Anvisa autorizou, temporariamente, no dia 10 de dezembro, o uso emergencial da vacina contra a Covid-19 em caráter experimental. Conforme a diretora, Alessandra Bastos Soares, o órgão irá permitir o uso emergencial desde que “sejam cumpridos os requisitos mínimos de segurança, qualidade e eficácia, baseando-se no monitoramento dessas vacinas no País”, esclareceu.

Durante a primeira fase dos testes clínicos, um pequeno grupo de pessoas participa dos exames para testar a segurança do medicamento e analisar as reações que as substâncias podem causar no organismo. Na fase dois, os testes contam com um número maior de voluntários. Já na última fase, o grupo é ainda maior, com pacientes de risco, testando a eficácia do imunizante.

Disputa política

Ao longo do ano, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e o governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), polarizaram opiniões sobre o uso da vacina Coronavac, criada pela farmacêutica chinesa Sinovac, e produzida pelo Instituto Butantan. Bolsonaro defendia a compra da vacina de Oxford, em parceria com a AstraZêneca, enquanto Doria apostava na Coronavac.

Após dizer, em outubro, que não compraria a vacina produzida pelo Instituto Butantan, Bolsonaro voltou atrás e, em dezembro, o Ministério da Saúde anunciou que “todas as vacinas que tiverem sua eficácia e registros da maneira correta na Anvisa, se houver necessidade, vão ser adquiridas”.

Já João Doria se comprometeu a imunizar a população de São Paulo a partir do dia 25 de janeiro, independentemente da aprovação da Anvisa. A postura do governador paulista foi alvo de críticas do ministro Eduardo Pazuello, que já havia informado que o início da vacinação estava previsto para fevereiro. “O Plano Nacional de Imunização é nacional. Não pode ser paralelo. A gente tem que falar a mesma linguagem”, disse Pazuello. Mais tarde, o governo federal mudou o tom e anunciou a imunização em janeiro.

Para a infectologista, o embate entre o governo federal e estadual pode prejudicar a evolução de estudos em andamento. “Acredito que quando pensamos em um bem comum a todos, sempre embasados em ciência, independentemente de ideais políticos, estamos no caminho certo”, afirmou a médica Marina. Ela ressaltou que é necessário ter cautela para não disseminar informações falsas e contribuir para a baixa adesão das vacinas. (Kally Momesso - programa de estágio / Supervisão: Cida Vida)