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Sorocaba tem dia de atos e eventos pela Consciência Negra

20 de Novembro de 2019 às 19:29

Programação artística marcou a Feira Crespa 2019 na praça Frei Baraúna. Crédito da Foto: Emídio Marques (20/11/2019)

“Eu tenho muito orgulho do meu nome por homenagear uma guerreira negra”, contou a pequena Dandara Vieira de Lima, de nove anos, que participou dos atos realizados no Dia da Consciência Negra nesta quarta-feira (20).

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A data faz referência a morte de Zumbi dos Palmares e em Sorocaba centenas de pessoas participaram das celebrações que provocaram a reflexão sobre a importância do combate ao racismo e à discriminação racial, ainda muito presentes na sociedade.

O dia com a programação especial começou com um ato ecumênico na Capela do Bom Jesus do Bonfim, às 9h. Considerada patrimônio histórico, cultural e turístico sorocabano, a igreja foi construída a partir de 1910 sob a liderança de João de Camargo (1858-1942), ex-escravo e líder espiritual conhecido nacionalmente pelo sincretismo religioso. Às 13h, no mesmo local, pessoas se reuniram para a Marcha Zumbi & Dandara.

A passeata homenageou os líderes do Quilombo do Palmares, localizado em Alagoas e considerado símbolo brasileiro de resistência à escravidão no século 17.

Durante a caminhada, os participantes realizaram reflexão sobre o combate à discriminação, o racismo e a inserção social da população negra.

O trajeto teve início na avenida Barão de Tatuí, atravessou a rua Moreira César e percorreu a rua Cesário Mota, com destino à praça Frei Baraúna.

Passeata homenageou os líderes do Quilombo do Palmares. Crédito da Foto: Emídio Marques (20/11/2019)

O psicólogo, militante e pesquisador em questões étnico raciais Marco Antonio Pereira participou da passeata e contou que o chamado racismo estrutural fere diariamente a população negra de forma velada.

“Esse racismo aparece quando a gente entra em uma loja e os seguranças ficam vigiando, quando a polícia me escolhe como suspeito mesmo com dezenas de brancos em volta, quando as pessoas seguram a bolsa mais forte ao me aproximar. Tudo isso causa o nosso silenciamento e uma tristeza profunda”, afirma Pereira, que lembra que taxa de suicídio entre o povo negro cresceu nos últimos anos.

Trancista e megahista, Angélica Salgado, 31, ganha a vida cuidando dos cabelos de homens e mulheres negros e para ela o Dia da Consciência Negra serve para chamar a atenção da sociedade para as demandas da população.

“Embora ninguém me fale claramente, muitas vezes nas entrevistas de emprego eu sinto que sou discriminada pela cor da pele, pelo cabelo. Mas todo dia é uma luta e eu sigo andando de cabeça erguida”, afirma a moça.

Feira Crespa

Uma extensa programação artística marcou a Feira Crespa 2019, que começou no início da tarde e segue até as 22h na praça Frei Baraúna.

No local os visitantes puderam comprar produtos artesanais, saborear comidas típicas e apreciar movimentos artísticos e atrações variadas referentes à cultura africana e afrobrasileira.

A Feira Crespa foi instituída pela Lei n.º 11.270/2016 e faz parte do calendário oficial de eventos do município.

Everton da Silva Souza é um dos idealizadores do evento e militante quanto o assunto é o mercado de trabalho para o povo negro. Ele destaca que a informalidade acaba sendo a solução encontrada por milhares de famílias afrodescendentes, já que conseguir um emprego formal é um desafio ainda maior diante do seu tom de pele.

“Seja na indústria, no comércio, no mercado em geral, o negro normalmente tem o salário mais baixo e desempenha funções mais pesadas”, destacou.

No ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população preta ou parda representou, combinada, pouco mais da metade do total dos brasileiros (55,8%).

Apesar de serem a maior parte da população, os negros, que combinam pretos e pardos, representavam uma parcela maior (64,2%) dos desempregados.

Foi justamente o desemprego que levou Regina Pedrozo, 62, a se dedicar ao artesanato, ontem exposto na Feira Crespa. “Eu trabalhava como merendeira e quando perdi o emprego precisei procurar outra atividade para sustentar a família”, recorda.

Ela produz bonecos que representam orixás do Candomblé e difundir a religião, além de ser hoje o seu complemento de renda, já que conseguiu a sonhada aposentadoria, tornou-se sua principal ocupação.

Além de Regina, a filha dela, Juliana Vieira, 34, e a neta, a Dandara, também estavam na feira e destacaram a importância da luta diária pelo combate ao racismo.

“Acho que fazer arte que represente a população preta é uma forma de reafirmar a nossa existência e passar isso para as crianças é uma busca para garantir que a nossa história perpetue”, contou a moça, que fica responsável pela divulgação do trabalho da matriarca da família.

Quem passou pela Feira Crespa pôde conferir as apresentações do DJ Preto, Conexão Zero 15, Banda Feira Crespa Sorocaba, formada por Ananda Jaques, Joéssica Borges, Júlia Valentim, Renata Rocha e Danny Koritiaky, Ponto 3 Samba Rock, Zumbalanço, Maracatu Mukumby, Coletivo Samba Sorocaba, Coletivo Rap Preto, com X da Questão, MR Brow, Puppa Kanda, Puro Osso Sarjeta e MC Aprile. O encerramento ficou por conta do grupo Firma o Ponto Samba de Terreiro. (Larissa Pessoa)

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