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Sobrevivente de desabamento da Cianê fez da dor uma lição de vida

20 de Dezembro de 2019 às 00:01
Eric Mantuan [email protected]

Sobrevivente fez da dor uma lição de vida O serralheiro Anderson perdeu a esposa no acidente. Ele recomeçou a vida e tem dois filhos. Crédito da foto: Fábio Rogério (19/12/2019)

Símbolo do nascimento de Jesus Cristo, o Natal também representa, há sete anos, o início de uma nova vida para o serralheiro Anderson Shendroski Assunção, 33 anos. Na noite de 20 de dezembro de 2012, ele foi o único sobrevivente do desabamento da parede lateral da Fábrica Santo Antônio, da Companhia Nacional de Estamparia (Cianê), sobre os automóveis que passavam pela rua Comendador Oeterer.

O acidente vitimou a esposa de Anderson, Samantha Bianca da Conceição Shendroski, à época com 24 anos, e mais seis pessoas que tiveram os automóveis soterrados por tijolos: Evelin Siqueira, seu filho, Tiago, de 5 anos, e a irmã, Nayara Airola; o motociclista Rayner Alves; o médico Adilson Nunes Filho e o taxista Humberto Ferreira.

Na ocasião, o prédio histórico construído em 1913 estava sendo adaptado pela Construtora Fonseca e Mercadante para a construção do Shopping Pátio Cianê e chovia na cidade. Socorrido, o serralheiro passou aquele Natal internado no hospital e, seis dias depois, teve alta médica -- com quatro costelas quebradas, clavícula deslocada e um dreno no pulmão, além de uma batalha judicial a ser travada nos tribunais.

“Não culpo os construtores, mas fomos tratados como objetos no âmbito das indenizações. Eram onze advogados contra um, os quais falavam na nossa cara que iriam recorrer até a caducidade das ações. Fiz um acordo para não me machucar psicologicamente ainda mais”, relata.

Recomeço

Sete anos se passaram e Anderson conseguiu reunir forças para fazer surgir, da sua dor, uma lição de vida. Para seguir em frente, o sobrevivente da tragédia contou com uma ajuda importante: da atual esposa, Maiara Daiane da Silva, que conheceu três anos depois do acidente.

Hoje casado e pai de dois filhos, os pequenos Helamã e Naamã, Anderson agradece por ter motivos para sorrir novamente em um final de ano: um dos garotos nasceu no dia 27 de dezembro. “Agradeço a Deus pela esposa, filhos e, principalmente, pela oportunidade de refazer minha vida. De realizar o sonho de ser pai. Posso dizer que realizei aqueles sonhos que infelizmente foram interrompidos pelo acidente”, afirma.

Anderson também atribui à psicologia e à religião o auxílio necessário na busca de respostas para o que aconteceu. “A Bíblia fala que só cai da árvore o fruto que esteja no ponto. Mas é impossível não pensar: o que não concluí na Terra que me fez ficar aqui?”, indaga.

De Samantha, Anderson conta que leva a saudade de um amor que não se apagará -- o qual é compreendido pela atual esposa, segundo ele --, e a lição de que a vida precisa continuar. “É difícil, pois nessa época do ano inevitavelmente a tristeza bate. Mas nessas horas a Maiara sempre me ajuda a levantar o astral”, agradece.

Falta de escoras, um dos motivos da queda

Sobrevivente fez da dor uma lição de vida Veículos que passavam pelo local ficaram cobertos de tijolos. Crédito da foto: Pedro Negrão / Arquivo JCS (20/12/2012)

A desmontagem da estrutura metálica do telhado sem escoramento das paredes centenárias foi fator decisivo para o desabamento do muro, segundo o inquérito da Polícia Civil. A investigação apontou outras causas associadas para o acidente: a chuva, o vento, a idade da estrutura e a vibração provocada pelos veículos na rua e pelas máquinas da obra.

Após a conclusão do inquérito, em julho de 2014, o Ministério Público impetrou processo judicial objetivando a responsabilização de três engenheiros por homicídio culposo.Em março de 2017, a Justiça condenou dois engenheiros da Fonseca e Mercadante por crime de desabamento e desmoronamento ao invés de homicídio culposo.

A pena foi de 2 anos de detenção, no regime aberto, cabendo recurso em liberdade e podendo ser a pena privativa de liberdade substituída por prestação de serviços à comunidade e multa. Houve recurso em 2ª instância, o qual está em tramitação judicial. O terceiro engenheiro, de outra empresa, foi absolvido.

A Construtora Fonseca e Mercadante foi contatada, mas não respondeu à reportagem. O Pátio Cianê Shopping informou que, de sua parte, “todas as obrigações foram cumpridas e que não existem recursos pendentes”, optando por não informar detalhes sobre os pagamentos de indenizações e nem os nomes dos envolvidos em respeito às famílias. (Eric Mantuan)

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