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Dezembro Verde alerta para o aumento do abandono e a atuação de protetores
O mês de dezembro é referência no combate ao abandono e à violência contra animais. A lei aprovada em 2015 pelos deputados Maurici (PT) e Alex Madureira (PL), segundo a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, institui o mês como símbolo da causa por coincidir com o Dia Internacional do Direito dos Animais, celebrado em 10 de dezembro. A iniciativa também considera o aumento recorrente dos abandonos no fim do ano, quando muitas famílias viajam e deixam de cuidar de seus pets.
Em Araçoiaba da Serra, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), a rotina de famílias que acolhem animais evidencia o impacto do problema. No município, os aposentados Marina Yamashita e Jair Ribeiro cuidam de 39 cães e gatos na própria casa.
“Os abandonos aumentam muito no fim do ano, quando as famílias querem viajar. Também vemos muitos casos de maus-tratos por falta de conscientização. No nosso círculo isso é debatido, mas há muita gente que simplesmente não enxerga o problema”, afirma Marina.
Ela explica que o limite ideal seria de cerca de 20 animais, mas o número quase dobrou por causa da demanda crescente. A maior dificuldade, segundo ela, é o atendimento veterinário, especialmente quando há necessidade de cirurgias ou internações. “Temos alguma ajuda da Prefeitura com parte da ração e contamos com contribuições de amigos no Instagram, que cobrem de 25% a 30% das despesas. Todo o restante sai da nossa aposentadoria”, relata.
Mesmo sem condições de receber mais animais, os pedidos não param. Em um dos casos recentes, uma cadela prestes a dar à luz foi encaminhada pela prefeitura durante um temporal. O casal concordou em oferecer lar temporário, mas complicações no parto resultaram em três cirurgias e filhotes com problemas de saúde. O custo chegou a quase R$ 5 mil, parte coberta por doações, mas a maior parcela bancada pelos aposentados.
Em Sorocaba, o veterinário Miguel Bonachi relata que, no bairro onde atua, não houve aumento significativo de resgates ou entregas de animais no período, embora em outras áreas da cidade o abandono cresça no fim do ano. Segundo ele, sinais de maus-tratos costumam ser perceptíveis: animais muito magros, lesões de pele, sangramentos e doenças não tratadas são alguns dos indícios de negligência.
Em emergências, quando um animal ferido ou abandonado é encontrado, Miguel orienta que o resgate seja feito com cuidado, pois a dor pode torná-lo agressivo, e que o encaminhamento seja imediato a uma clínica veterinária.
Entre os problemas de saúde mais comuns em animais que vivem nas ruas estão doenças de pele, tumores e zoonoses — enfermidades que podem ser transmitidas aos humanos. Ele reforça que a falta de castração agrava o cenário, pois aumenta o risco de tumores de mama e aumento de próstata, além de contribuir para o nascimento de ninhadas numerosas que acabam abandonadas.
Para evitar novos casos, Miguel destaca a importância da adoção responsável, que deve levar em conta espaço disponível, tempo para cuidados diários e condição financeira para manter vacinação, castração e alimentação adequada.
Com a proximidade das festas e das férias, ele afirma que há um aumento no abandono. Tutores que pretendem viajar precisam se planejar: ao levar o animal, é necessário verificar se o local aceita pets e oferece condições adequadas. Caso o animal não acompanhe a família, a alternativa é buscar um hotel confiável.
A clínica onde atua também presta apoio a ONGs e protetores independentes, oferecendo descontos em consultas e internações para animais resgatados.
A Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria do Meio Ambiente, Proteção e Bem-Estar Animal (Sema), informou que a fiscalização de denúncias de maus-tratos é realizada de forma permanente pela equipe da Seção de Proteção e Bem-Estar Animal. Segundo a Administração, o tema é tratado como prioridade.
De janeiro a novembro deste ano, o município recebeu e averiguou 1.601 denúncias de maus-tratos, das quais 60% foram confirmadas. Nesse período, 90 cães e gatos foram resgatados do interior de residências devido à gravidade das situações, sendo a maioria na Zona Norte. Após o resgate, os animais passam por avaliação veterinária, recebem os cuidados necessários, são vacinados, castrados e microchipados, para depois serem disponibilizados para adoção responsável pelo programa “D + uma chance. Adote uma Vida!”.
Quando o animal não corre risco imediato, a equipe da Sema realiza notificação e orienta o tutor a regularizar a situação, garantindo o bem-estar do pet.
A Prefeitura destacou ainda que, durante o período de festas e férias, o abandono de animais costuma aumentar. Por isso, campanhas como o Dezembro Verde buscam conscientizar a população sobre a importância da guarda responsável e do planejamento antes de viagens. A orientação aos tutores é evitar decisões por impulso e organizar alternativas, como hospedagens especializadas ou apoio de familiares e amigos.
Os maus-tratos são considerados crime, e casos de abandono estão sujeitos à multa de R$ 3 mil por animal, conforme a Lei Municipal nº 9.551, de 4 de maio de 2011.
As denúncias podem ser registradas pela Central de Atendimento da Prefeitura, no site da plataforma 156 (atendimento 24 horas), pelo telefone 156, ou pelo WhatsApp (15) 99129-2426, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Em fins de semana e feriados, o atendimento é feito pelo telefone 153, da Guarda Civil Municipal (GCM).