Região
No menor município da RMS, o interior ainda existe
Palco do primeiro voto eletrônico de São Paulo, a cidade de 3 mil habitantes entre os rios Sorocaba e Tietê preserva o jeito interiorano
Incrustada ao norte da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), entre os rios Sorocaba e Tietê, a cerca de 160 quilômetros da capital paulista e cerca de 70 quilômetros de Sorocaba, está Jumirim, o menor município da RMS, tanto em área quanto em população. Em 2025, a cidade vai completar 30 anos de existência. O local mantém o ar interiorano e se destaca pela agricultura, além das diversas olarias e madeireiras espalhadas pelo território. Um lugar que parece obedecer outro compasso. Nas esquinas, os vizinhos ainda se cumprimentam pelo nome. É assim, entre ruas silenciosas, que a pequena localidade do interior paulista preserva um modo pacato de vida que a pressa das capitais há muito esqueceu.
A origem de Jumirim está ligada à Estrada de Ferro Sorocabana. A pequena vila de “Jurumirim”, como era conhecida originalmente, surgiu com a construção da estação de trem nas terras da Fazenda Barreiro, de propriedade de Manoel Novaes. Mais tarde, o fazendeiro doaria a faixa de terra para a ferrovia. A rua principal do município leva seu nome, como lembrança daquele que é considerado o instituidor da vila. O nome foi alterado porque já existia outra região no estado de São Paulo chamada Jurumirim, próxima a Avaré.
Junto com a ferrovia, chegaram os imigrantes, principalmente italianos, que ajudaram a consolidar a tradição agrícola e pecuária da região.
Primeira votação com urna eletrônica em São Paulo
No dia 21 de maio de 1995, urnas eletrônicas foram utilizadas pela primeira vez no estado de São Paulo. O teste ocorreu durante o plebiscito de emancipação de três municípios: Jumirim (então distrito de Tietê), Gavião Peixoto (Araraquara) e Paulistânia (Agudos). Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), cerca de 4.185 pessoas participaram das votações.
Em Jumirim, assim como nas outras duas localidades, o resultado foi positivo para a separação do antigo distrito e criação do novo município. Mas foi apenas em 1997 que o processo de independência foi concluído. Em 27 de dezembro de 1995, o então governador Mário Covas sancionou a Lei nº 9.330, oficializando a criação de Jumirim.
Distrito de Tietê até 1995, a localidade conquistou sua emancipação e, em janeiro de 1997, Benedito Tadeu Fávero tomou posse como primeiro prefeito eleito. Apesar de oficialmente a cidade estar atingindo 28 anos, tradicionalmente se escolheu comemorar a data do plebiscito, por isso, em 2025, foi comemorado 30 anos de Jumirim.
Onde o tempo anda devagar, mas conta histórias
De acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Jumirim tinha 3.056 habitantes. Ainda segundo o órgão, a estimativa atual é de 3.132 pessoas.
O município possui cerca de 56,68 km². Alumínio, a segunda menor cidade da RMS, tem 83,66 km². Já Itapetininga, a maior da região, soma 1.789,35 km² , ou seja, Jumirim caberia mais de 30 vezes dentro dela.
Cerca de 97% da população entre 6 e 14 anos está escolarizada. Em 2024, ainda de acordo com o IBGE, havia 401 crianças matriculadas no ensino fundamental e 95 no ensino médio. Em 2023, último ano de registro, ocorreu apenas uma morte de criança com menos de um ano e foram registrados 35 nascimentos. Quase não há ocorrências de violência: em 2022, por exemplo, nenhum homicídio foi registrado. Em 2025, até agora, apenas 22 ocorrências foram registradas, sendo a maioria por furtos, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública.
Festas, fé e receitas de família
Ao longo do ano, a cidade é marcada por diversos eventos culturais, que abrangem várias atividades. Mensalmente, por exemplo, é organizado o torneio de truco da cidade. A tradicional celebração do Pouso do Divino, que acontece na cidade vizinha de Tietê há quase 200 anos, também é realizada na zona rural de Jumirim. As atividades consistem em romarias, por terra ou por água, que levam a imagem do Divino Espírito Santo até uma casa que já espera com o altar pronto e oferece uma refeição para os romeiros. A tradição dita que a imagem percorra diversas casas ao longo de semanas.
Este ano, a cidade celebrou 30 anos de existência. Para marcar a data, foi organizado o Jumifest, uma festa com shows gratuitos para a população e, é claro, a confecção do tradicional bolo de aniversário, que tem um metro para cada ano de existência da cidade. Este ano, foram 30 metros de bolo. Mensalmente, também há a feira noturna, quando os produtores rurais do município levam seus produtos para exposição e venda.
A gastronomia jumiriense também se destaca, não apenas nos restaurantes e lanchonetes, mas nas casas e famílias que fazem questão de manter as tradições. A prefeitura dedica uma área em seu site para que moradores divulguem receitas típicas, como o requeijão da família Benetton, descendentes de franceses, responsáveis pela criação do primeiro alambique da região, ou o crostoli da família Castro, quitute associado a uma antiga tradição local: visitar todos os vizinhos durante a passagem de ano, sempre levando o docinho nas visitas. A tradição se mantém até hoje, com as crianças andando pela cidade e pedindo “bom ano”.
Até 2021, a cidade de Jumirim não tinha um hino oficial. A solução foi um concurso para escolher a letra, que mais tarde foi musicada. Escrito pela jumiriense Ana Luísa Bazzo Brito, o hino exalta as belezas naturais e a história do município.
No compasso das xícaras e das cachoeiras
Passear por Jumirim é uma atividade agradável. Sua avenida principal concentra os principais pontos de interesse, como a antiga estação de trem, onde hoje funciona a biblioteca municipal. Na praça Nossa Senhora Aparecida, é possível sentar nos bancos à sombra, compartilhar uma mesa ou andar pelo coreto. Já na praça Carlos Delchiaro está a Paróquia Senhor Bom Jesus e São Roque.
A vegetação do local, majoritariamente é similar à Mata Atlântica, pássaros das mais diversas cores podem ser observados, e ouvidos, mesmo no Centro da cidade.
A proximidade com dois grandes rios também rende boas opções para quem gosta de trilhas e cachoeiras, com diversas alternativas nos arredores. O nome original da vila, “Jurumirim”, em tupi-guarani, significa “cachoeira pequena”, e foi escolhido pela presença de uma próxima ao local onde se ergueu a estação ferroviária. Locais de pesca, nos dois rios próximos também são comuns, normalmente rodeados de áreas de lazer, como campings, por exemplo.
A cordialidade é uma marca registrada de Jumirim. Ofertas de café são constantes por onde se anda. É como se o pequeno município fosse a lembrança viva de um interior que resiste, um contraponto silencioso perto de Sorocaba, lembrando que o desenvolvimento também pode conviver com a simplicidade e o sossego de quem ainda cuida do vizinho como se fosse da família. Entre o apito distante dos trens e o tilintar das xícaras de café, Jumirim segue lembrando que o pacato interior paulista tem seu próprio tempo.
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