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Saúde pública

Pai e filho morrem com suspeita de febre maculosa em Salto; moradores relatam surto de carrapatos

Famílias da localidade de Jurumirim, próxima ao Rio Tietê, vivem sob risco; prefeitura investiga casos e avalia medidas emergenciais

13 de Outubro de 2025 às 21:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
Região ocupada, próxima ao bairro Porto Góes, fica sob um pontilhão por onde passam trens da concessionária Rumo
Região ocupada, próxima ao bairro Porto Góes, fica sob um pontilhão por onde passam trens da concessionária Rumo (Crédito: FOTOS: VERNIHU OSWALDO)


Com uma diferença de 15 dias, pai e filho morreram com suspeita de febre maculosa em Salto, cidade da Região Metropolitana de Sorocaba. Os dois moravam em uma localidade conhecida como Jurumirim, próxima ao rio Tietê. Outros moradores do local também relataram sintomas semelhantes, e diversos carrapatos-estrela foram encontrados. A área é ocupada e fica sob um pontilhão por onde passam trens da concessionária Rumo. Um trilho utilizado pela maria-fumaça do Trem Republicano também corta o bairro. Na região — próxima ao bairro Porto Góes — vivem cerca de 15 famílias, totalizando aproximadamente 50 pessoas, parte delas com pequenas criações de animais.

De acordo com vizinhos, em 14 de setembro, Messias Luiz da Costa, 67 anos, procurou o Hospital Municipal Nossa Senhora do Monte Serrat, mas foi liberado com diagnóstico de virose. Na sexta-feira da mesma semana, ainda com sintomas, voltou à unidade de saúde, mas não resistiu. Cerca de 15 dias depois, seu filho Franciel Matos, 33, também faleceu com sintomas semelhantes.

Rodrigo de Moraes, 32, mora na localidade desde que nasceu e sobrevive da criação de porcos. Ele conta que os carrapatos sempre aparecem nesta época do ano, mas afirma que agora os danos estão sendo maiores, tanto para humanos quanto para os animais. O filho de Rodrigo chegou a ser levado ao Hospital Unimed com febre e dores no corpo. Após ser medicado, recebeu a prescrição de um remédio contra a febre maculosa. Porém, o medicamento estava em falta. Rodrigo diz ter procurado em diversas farmácias e não encontrou o produto, assim como o Cruzeiro do Sul, que também não localizou o remédio. Carrapatos teriam sido encontrados tanto no corpo dele quanto no de sua mulher e filhos.

A localidade onde há suspeita de casos é marcada por pequenas propriedades, em geral familiares. Outro morador, que preferiu não se identificar, afirmou que já medicou seus animais — domésticos e de criação — contra o carrapato, medida também adotada por Rodrigo. Na área existe ainda uma bomba d’água desativada, cuja estrutura pertenceria a uma antiga fábrica próxima.

O vereador Edemilson Santos (Podemos) solicitou à prefeitura, por meio de ofícios, que aplique agente biológico para controle dos carrapatos na região. Segundo ele, a aplicação foi realizada apenas uma vez e restrita à área externa, sem abrangência nas residências. Moradores afirmam que a medida foi insuficiente. O parlamentar também protocolou um pedido para que as famílias recebam o Aluguel Social em caráter emergencial, no valor de cerca de R$ 1.150 por mês, para que possam deixar a região até que o surto de carrapatos seja controlado. O benefício teria validade máxima de um ano.

Em nota, a Prefeitura de Salto informou que, até o momento, apenas uma morte por febre maculosa foi confirmada no município — registrada em julho. As mortes recentes, de pai e filho, seguem em investigação, com exames em análise pelo Instituto Adolfo Lutz.

De acordo com o Painel de Monitoramento da Febre Maculosa, do Ministério da Saúde, Salto notificou 27 casos da doença em 2025, com apenas um confirmado até o momento. No Estado de São Paulo, são 24 casos confirmados e 13 mortes neste ano. O número corresponde a mais da metade dos óbitos registrados no País no mesmo período: das 22 mortes notificadas no Brasil, apenas uma ocorreu fora da região Sudeste — no Paraná. (Vernihu Oswaldo)

 

O que é a febre maculosa?

 

O médico infectologista Fernando Ruiz explica que a febre maculosa é uma doença infecciosa grave causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, transmitida pela picada de carrapatos infectados, especialmente o carrapato-estrela (Amblyomma sculptum), comumente encontrado em cavalos, bois, capivaras e cães.

Os sintomas podem surgir entre dois e 14 dias após a picada e incluem febre alta, dores musculares, náuseas, fraqueza e manchas avermelhadas — as chamadas máculas, que dão nome à enfermidade e costumam começar nas mãos e pés antes de se espalharem pelo corpo.

Ainda segundo Ruiz, a doença pode apresentar letalidade superior a 30%, o que torna essencial procurar atendimento médico assim que surgirem os primeiros sinais. Em áreas de risco, o especialista orienta o uso de roupas claras e de mangas compridas, botas e calças por dentro das meias, além de redobrar a atenção após visitas a locais com vegetação ou presença de animais silvestres. Caso um carrapato seja encontrado no corpo, deve ser removido com pinça, sem esmagar o parasita.

Já o biólogo Hélio Rubens Jacintho Pereira Junior acrescenta que a bactéria não causa danos nem ao carrapato nem a animais hospedeiros, como as capivaras. Ele ressalta que o desequilíbrio ambiental, provocado por desmatamento, urbanização desordenada e perda de predadores naturais, tem contribuído para o aumento dos casos. Essas alterações ampliam a presença de hospedeiros intermediários — como gambás — e reduzem as barreiras entre áreas silvestres e urbanas, favorecendo a disseminação da doença. (V.O.)