Agricultura
Produção de uva Moscato coloca a região de Sorocaba em destaque
A colheita começa em janeiro no interior de São Paulo
Com as festas de fim de ano, alguns produtos são muito procurados nos supermercados. Um deles, devido a colheita que ocorre geralmente nessa época, é a uva de mesa -- muito preferida na ceia de Natal. Uma espécie de uva que ganha destaque na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) é a Moscato. Essa espécie também é para mesa, mas não é para qualquer bolso. O preço do quilo varia de R$ 60 a R$ 120. Algumas cidades da região são grandes produtoras dessa uva -- que é verde, doce, graúda e sem semente. Uma que se destaca é Pilar do Sul.
A família Silva trabalha há mais de 30 anos no campo e, hoje, cultiva parreiras de uva Moscato. Além do próprio sítio -- que produz 40 toneladas da fruta por ano -- a família trabalha em conjunto com mais 12 produtores, que, juntos, colhem, todos os anos, cerca de 250 toneladas -- das quais aproximadamente 20% é destinado ao mercado externo. “Vai para o Brasil todo. A safra deste ano vamos enviar também ao Canadá”, disse Salvador Roberto da Silva, de 52 anos, dono do Sítio Santo Expedito. Salvador trabalha com a esposa Joceli Aparecida, de 51 anos, e a filha Taís Roberta, de 27.
A colheita da uva -- de várias espécies, não só a Moscato -- começa em janeiro no interior de São Paulo. A família disse que a uva consumida nas festas de fim de ano são comuns, colhidas, muitas vezes, antes da hora. “O produtor que colhe para o Natal, colhe verde só para o povo deixar a mesa bonita -- só para lucrar, porque doce a uva não é”, disse Joceli. “O clima adequado para a fruta é o calor com chuva moderada e, por isso, a melhor época para colher é durante o verão, entre janeiro e abril”, completou a produtora.
A uva Moscato se diferencia das outras pelo sabor, que é mais doce, e pelas etapas de produção. O caroço da uva, por exemplo, é retirado artificialmente. Joceli explica que quando o cacho atinge o tamanho de mais ou menos um palmo, ele é mergulhado em um produto livre de tóxicos que elimina a semente da fruta. A parte “oca” da uva (onde fica as sementes), em seguida, é preenchida naturalmente pela polpa.
Ela só é colhida quando o teor de açúcar (a “doçura”), apresenta índices satisfatórios, após medido. “Não existe isso de encontrar uva Moscato azeda no mercado”, disse Taís. “Pode até achar, mas você vai saber que é de ‘segunda mão’. Com o nome Sítio Santo Expedito, uva azeda você não acha”, garantiu.
Conhecimento de mundo
Salvador não fez curso superior, mas presta assistência técnica a 12 sítios produtores de uva, que estão distribuídos nas cidades São Miguel Arcanjo, Capão Bonito, Palmeiras d’Oeste e Jandaia do Sul (PR). Ele auxilia em todo o processo, com poda, adubagem, análise de solo e colheita. “Minha faculdade foi o campo”, afirma. “A gente aprendeu muito com o nosso sítio. Então, a gente garante que consegue resolver qualquer que seja o problema de outros produtores”, disse.
“Meu pai sabe muito”, disse Taís. “Se comparar com os agrônomos formados da região fica feio para eles”, brincou. Joceli também não é graduada, mas conhece muito sobre a terra e sobre as características e necessidades da plantação. Ela explicou de maneira técnica e simples o processo de conservação das uvas e das parreiras. “Quando a uva começa a querer ficar madura, ela não pode ter resíduos de produto nenhum, então, a gente ensaca elas, para passar o ‘cobre’ nas folhas”, disse. O ‘cobre’ que Joceli diz é um fungicida agrícola, composto por sulfato de cobre e cal, usado para proteger as folhas de pragas. “Este produto não é tóxico, o consumidor pode pensar que é veneno, mas não é. É só uma ‘capa’ para conservar a parreira. A gente cobre a uva com o tecido para não sujar o produto e também serve como proteção contra os insetos”, explicou.
Região
Não é só Pilar do Sul que cultiva uva na RMS. São Miguel Arcanjo, Itapetininga e Piedade, por exemplo, também possuem produtores. Itapetininga, inclusive, conquistou o 2º lugar na categoria Agropecuária, no ranking das 100 Melhores Cidades para fazer Negócios -- em estudo realizado anualmente pela Urban System.
Segundo a Secretaria Estadual de Agricultura, a RMS produziu, em 2022, toneladas de uva fina para mesa, o que corresponde a 361.900 pés em produção.
Destaca-se, ainda, a produção de uva para indústria -- aquelas destinadas ao processamento, isto é, para confecção de sucos e vinhos, por exemplo. Também no ano passado, a safra atingiu 760 toneladas na RMS. A região que mais produz uva para indústria no Estado é a de São João da Boa Vista, com 992 toneladas. As regiões de Itapetininga e Jales são as que mais produzem uva fina para mesa. (Luís Felipe Pio - programa de estágio)
Galeria
Confira a galeria de fotos