Cidades
Ensino a distância é realidade no Brasil há mais de 10 anos
Além da modalidade de trabalho home office, uma outra herança deixada pelo período de isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19 foi o Ensino a Distância (EaD). A maioria das escolas e universidades -- com exceção daquelas que não tinham recursos para tal medida -- precisaram adaptar-se e ministrar as aulas de forma virtual. Por quase dois anos os alunos tiveram que conviver com essa nova realidade de ensino, até o momento em que houve a flexibilização do isolamento, na segunda metade de 2021, que proporcionou o retorno às salas de aula. No entanto, essa tendência de ensino, ao contrário do que se pode imaginar, já está crescendo no Brasil há mais de dez anos, apesar da influência da pandemia.
Segundo o Censo da Educação Superior de 2021, entre 2011 e 2021, o número de ingressantes em cursos superiores de graduação, na modalidade de EaD, aumentou 474%. No mesmo período, a quantidade de ingressantes em cursos presenciais diminuiu 23,4%. Se, em 2011, os ingressos por meio de EaD correspondiam a 18,4% do total, em 2021, esse percentual chegou a 62,8%.
A série histórica da pesquisa indica, ainda, que as duas pontas da ferradura -- ensino presencial e a distância -- tendem a se afastar cada vez mais. Entre 2020 e 2021, o aumento de ingressantes nos cursos superiores foi ocasionado, exclusivamente, pela oferta de EaD na rede privada. Nesse período, a modalidade teve um acréscimo de 23,3% (24,2% em instituições privadas), enquanto o ingresso em graduações presenciais reduziu 16,5%.
O comparativo confirma a tendência de crescimento do ensino a distância ao longo do tempo. Em 2019, pela primeira vez na história, no caso das instituições privadas, o número de ingressantes em EaD ultrapassou o de estudantes que iniciaram a graduação presencial. Nessa rede de ensino, 70,5% dos estudantes, em 2021, ingressaram por meio de cursos remotos.
O que vale é a experiência?
Esse cenário levanta também algumas dúvidas sobre a qualidade do ensino e sobre como isso impacta na conquista de empregos, afinal, quem faz um curso superior, em geral, tem a inserção no mercado de trabalho como principal finalidade. A pergunta é: qual curso carrega mais valor no currículo, o presencial ou o on-line? Diretor de uma empresa de consultoria em recursos humanos (RH), de Sorocaba, o professor Oreste Gomes, de 52 anos, disse ao Cruzeiro do Sul que a exigência do cargo independe se a graduação foi feita de forma virtual ou presencial, “porque o que importa é a titulação”.
“Qual que vale mais? Não dá para ter um valor, por isso, analisamos o perfil do candidato. Única coisa é que o profissional de RH vai prestar mais atenção e fazer questionamentos mais específicos àquele que fez a graduação a distância para testar o aproveitamento dele”, disse. “No caso de empate, se por um acaso houvesse um método pelo qual os profissionais conseguissem chegar a uma avaliação quantitativa do candidato, eventualmente o critério de desempate ‘EaD ou presencial’ poderia ser utilizado. Mas, raramente isso acontece”, acrescentou.
Segundo o professor, se dois candidatos -- um que se formou na graduação de forma presencial e outro de forma on-line -- estiverem concorrendo à mesma vaga, o que vai os diferenciar será a experiência no mercado de trabalho. Se aquele que fez EaD atender melhor às exigências do cargo, a vaga é dele, pois, além do título acadêmico, o recrutador olhará como o candidato se comunica, quais são suas ideias e se suas aptidões servem para dar conta do trabalho para o qual ele se candidatou.
Vantagens e desvantagens
A moradora de Sorocaba e aluna de jornalismo Beatriz Jarins, de 22 anos, viveu a migração do ensino presencial para a internet em decorrência da pandemia e, agora, dois anos depois, está cursando quatro disciplinas de maneira virtual por conta das adaptações que a universidade fez na grade curricular de seu curso. Ela conta que, no início, se sentiu um pouco perdida, e, agora, avalia que as plataformas de ensino estão mais organizadas e didáticas, o que facilita o aprendizado. Mesmo assim, para ela o contato com o professor “cara a cara” é insubstituível.
“Na época da pandemia, a gente pegou uma parte que os professores até que estavam acostumados ao formato, mesmo assim, era completamente diferente do presencial, a gente se dispersava, era mais fácil de procrastinar. Presencialmente acho que rende bem mais”, falou.
Formada em graduação presencial de ciências contábeis, Mariana Costa, de 26 anos, quis se especializar ainda mais na sua área e fazer uma pós-graduação de gestão tributária. O problema é que, conforme disse, ela já não tinha mais paciência de aguentar uma jornada presencial de estudo, ainda mais porque sua pós só tem aulas aos sábados. O que a motivou a ingressar no curso foi o fato das aulas ser a distância e gravadas, permitindo-a assistir onde e quando quiser. Apesar disso, Mariana concorda com Beatriz que o EaD exige mais foco e disciplina do aluno, mas como ela já trabalha no formato home office não sofreu tanto com a adaptação. (Luís Pio / programa de estágio)