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Cidades

Famílias desperdiçam mais de 128 kg de alimentos por ano

Engenheiro diz que redução das perdas passa pelo planejamento e doação das sobras

01 de Novembro de 2023 às 23:01
Beatriz Falcão [email protected]
Em contradição ao desperdício, dados oficiais mostram que três a cada dez famílias vivem com algum grau de insegurança alimentar
Em contradição ao desperdício, dados oficiais mostram que três a cada dez famílias vivem com algum grau de insegurança alimentar (Crédito: REPRODUÇÃO / AGÊNCIA BRASIL)

O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. No entanto, em contraste com essa distinção positiva, figura também como uma das nações que mais desperdiçam comida. Uma família brasileira joga no lixo, em média, 128,8 quilos de alimentos por ano. Esses dados foram levantados por Lucas Rodrigues Deliberador, na sua pesquisa de doutorado “O comportamento do consumidor no desperdício de alimentos em domicílios brasileiros”. A tese venceu o Prêmio Professor Evaristo Marzabal Neves, na categoria Administração Rural de 2023.

Lucas é mestre e doutor em engenharia da produção pela Universidade de São Carlos (UFSCar) e tem o desperdício de alimentos como assunto recorrente na sua vida acadêmica. “Estamos vivendo em uma era de muita insegurança alimentar. No Brasil, hoje, três a cada dez famílias vivem com algum grau de insegurança alimentar e, mesmo assim, cerca de um terço do que produzimos é desperdiçado”, conta o engenheiro, que também já estudou o desperdício de alimentos em restaurantes para a sua dissertação de mestrado.

O desperdício de alimentos em domicílios está fortemente relacionado ao comportamento dos consumidores. Portanto, para o desenvolvimento da pesquisa, Lucas traçou o perfil dos consumidores responsáveis pela preparação ou compra dos alimentos. Ao todo, 2.047 brasileiros foram entrevistados.

“O brasileiro tem uma intenção muito grande em reduzir o desperdício de alimentos”, explica o autor da tese. Por trás dessa intenção estão três principais motivos: questão ambiental, social e econômica. “Quando desperdiçamos o alimento, estamos fazendo isso no final da cadeia de produção, quando, consequentemente, todo valor agregado está depositado nele”, acrescenta.

Impactos

Em 2019, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou que aproximadamente 1,3 bilhão de toneladas de alimentos - cerca de 30% da comida produzida para o consumo humano -, são perdidos ou desperdiçados anualmente, o que representa um valor aproximado de US$ 750 bilhões. Esse montante corresponde a todo o processo de produção, desde recursos naturais - água, terra, adubo -, até mão de obra, transporte e armazenamento.

“Ao pensar em desperdício, o brasileiro se lembra de todas essas questões. Ele sabe que o desperdício também impacta na emissão dos gases do efeito estufa e sente culpa pelos danos causados ao meio ambiente”, explica Lucas. “Assim como se sente culpado por estar desperdiçando comida sabendo que tem pessoas passando fome”.

No Brasil, aproximadamente 52 milhões de pessoas vivem em um cenário de insegurança alimentar.

Como evitar

Há desperdícios que são mais fáceis de serem evitados do que outros. Em sua pesquisa, Lucas classifica em três categorias: os inevitáveis, os possivelmente evitáveis e os que podem ser completamente evitáveis.

Cascas de ovos e ossos, apesar de existir formas de processá-los, são partes de alimentos que, em condições normais, as pessoas não consomem e por isso são considerados um desperdício inevitável. Já as cascas de frutas e legumes, bem como a gordura animal, são alimentos que fazem parte da dieta de algumas pessoas, logo é um desperdício possivelmente evitável.

O desperdício evitável compreende o alimento que em algum momento já foi adequado para o consumo e, por descuido humano, estragou parcial ou completamente. Exagero e falta de planejamento na hora da compra são os principais fatores que contribuem para esse desperdício.

“O exagero é uma característica cultural nossa. O brasileiro gosta de ser um bom provedor, fornecer o alimento em abundância para a sua família e para os seus convidados”, explica Lucas. “Outro ponto que precisamos prestar atenção é em promoções de supermercados, principalmente o famoso ‘pague um, leve dois’, pois somos influenciados a comprar mais do que necessitamos”.

O engenheiro também ressalta a importância de preparar uma lista de compras e de se atentar ao tamanho da embalagem e quantidade do que está comprando, principalmente as pessoas que moram sozinhas. E, caso o excesso aconteça, uma solução é doar o alimento antes do prazo de validade.

“Grande parte do alimento desperdiçado hoje faz parte daqueles que consideramos evitáveis e dependem completamente do comportamento humano”, ressalta Lucas. “E a doação é uma forma de contribuirmos não só para a diminuição do desperdício, mas também para a segurança alimentar”. (Beatriz Falcão - programa de estágio)