Mairinque
Investigação indica desvio de 87 toneladas de feijão e não roubo
Houve também falsa comunicação de crime por parte de motoristas
A Polícia Civil de Mairinque esclareceu o caso, tratado inicialmente como roubo de cargas, com 87 toneladas de feijão, avaliadas em torno de R$ 500 mil, ocorrido em dezembro de 2022. Após o trabalho de investigação policial, constatou-se que houve desvio da carga e falsa comunicação de crime por parte dos motoristas que transportavam a carga.
Segundo o delegado titular de Mairinque, Espedito Alves da Silva Júnior, os dois motoristas procuraram a polícia e relataram que estavam trafegando pela rodovia Castello Branco, sentido capital, quando foram roubados, mantidos em cativeiro e liberados na Grande São Paulo.
Durante as investigações para localizar as cargas, a polícia percebeu incongruências nas declarações dos motoristas e após a quebra de sigilo bancário e telefônico, descobriu-se que os dois nunca estiveram nas regiões de Mairinque e Sorocaba. Os caminhões vieram de Minas Gerais, passaram pela região de Itaberá, em São Paulo, e seguiu para o Paraná. Com esses detalhes, a Polícia Civil identificou que não houve crime de roubo.
De acordo com o delegado, os motoristas tiveram o trabalho de conduzir os veículos com as cargas, mas a autoria intelectual do crime partiu de outro indivíduo, que é considerado foragido no Estado do Mato Grosso do Sul pelo crime de roubo, embora possua domicílio em Rancharia, interior de São Paulo: “Fomos até Rancharia, cumprimos mandados de busca e apreensão, mas não o localizamos. Ele seria o autor intelectual, que teria tido a ideia e que captava os motoristas. Os motoristas desviavam a carga, entregavam para esse indivíduo, e ele sim, por sua vez, falsificava notas fiscais e revendia”.
Durante as buscas em Itaberá e Rancharia, documentos que corroboram com as suspeitas foram encontrados, juntamente com três veículos e duas armas de fogo de uso permitido. Além disso, um indivíduo procurado por homicídio no Estado do Mato Grosso foi detido.
“É uma organização com divisão de tarefas, então eles integram essa organização. Assim, serão indiciados tanto pela falsa comunicação de crime quanto pela apropriação indébita e por integrar uma organização criminosa. Agora, considerando que essas cargas foram para o Paraná, haverá essa parceria entre as polícias Civil dos estados de São Paulo e Paraná, para descobrir quem são os receptadores naquele Estado”, diz o delegado.
A polícia já sabe o nome e a qualificação de sete pessoas da organização criminosa, inclusive do mentor. “Ele participava de outras empreitadas criminosas e não só do desvio de carga. Para eles, o desvio de carga é um pouco mais simples e rentável. Numa subtração como essa, eles lucraram mais de 500 mil reais e, por ser um crime sem violência e sem grave ameaça, há uma dificuldade em conseguirmos um mandado de prisão. Acredito que, deixaram de agir efetuando o roubo, que é um crime violento e que pode ter uma pena muito mais alta, e migraram para o desvio de carga”.
O delegado reforça que a Polícia Civil de Mairinque esclareceu que o crime de roubo não ocorreu; porém, as questões relacionadas a crimes tributários, lavagem de dinheiro e receptação de carga ficarão sob responsabilidade das cidades que receberam a carga: “A Polícia Civil de Mairinque vai colaborar com os policiais daquela região, fornecendo os dados que já levantamos, fotos, perícia e os frutos dos mandados de busca e apreensão”.
Por enquanto, os motoristas responderão em liberdade, mas serão indiciados por falsa comunicação de crime, apropriação indébita e, eventualmente, organização criminosa. Se condenados, somadas as penas, eles podem pegar até cinco anos de prisão. (Virginia Kleinhappel Valio)
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