Cidades
Mortes por acidente de trabalho na região crescem cerca de 170%
Total de vítimas aumentou de 4 no primeiro semestre de 2022 para 11 entre janeiro e junho deste ano
O número de acidentes fatais de trabalho na microrregião de Sorocaba aumentou 175% no primeiro semestre deste ano, se comparado ao mesmo período de 2022. Segundo o chefe regional do Setor de Inspeção do Trabalho (Seint) / Divisão Regional de Fiscalização do Trabalho, Ubiratan Vieira, quatro pessoas perderam a vida nos seis primeiros meses de 2022. Já em 2023, até julho, foram 11 óbitos confirmados em acidentes de trabalho.
A microrregião é composta por 15 municípios, são eles: Sorocaba, Alumínio, Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Cabreúva, Capela do Alto, Iperó, Itu, Mairinque, Porto Feliz, Salto, Salto de Pirapora, São Roque, Sarapuí e Votorantim. “Entre os acidentes, estão quedas e choques elétricos no setor de construção civil e acidentes em empresas de mecânica pesada em Sorocaba, Boituva e São Roque, próximo a Araçariguama. Todas as vítimas com menos de 30 anos”, destaca Ubiratan.
Para Vieira, a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), aliada à falta de trabalho da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), contribuem para o aumento no número de mortes. “A Cipa é eleita para trabalhar e prevenir acidentes. No caso do acidente em São Roque, por exemplo, onde uma pessoa teve 75% do corpo queimado e morreu, vale destacar que ele tinha um mês e meio de empresa e foi trabalhar com fundição de ferro, ou seja, fogo. A Cipa nunca conversou com ele. Esse colaborador jamais poderia, por exemplo, passar com um balde de produtos inflamáveis ao lado daquele ferro líquido e explodiu nele”.
O último caso de morte em acidente de trabalho aconteceu na sexta-feira (7), em uma obra no Parque Campolim, zona sul de Sorocaba. A ocorrência foi registrada por volta das 11h, quando uma estrutura metálica caiu do 18º andar da construção e atingiu um colaborador de 28 anos que estava no solo. Ele não resistiu e morreu no local. “Uma peça de 30 quilos caindo de uma altura de 36 metros chega ao solo pesando 720 quilos”, exemplificou Ubiratan.
Em nota divulgada no dia do acidente, a construtora responsável lamentou o ocorrido e afirmou que está prestando apoio aos familiares. Ressaltou, também, que todos os trabalhadores utilizam os equipamentos de proteção individual e que a construção é realizada em conformidade com as normas técnicas e de segurança. “As causas e circunstâncias do ocorrido estão sendo apuradas. A empresa presta informações e auxílio a todos os órgãos oficiais que investigam o fato”, finalizou.
Após o acidente, a obra foi paralisada. Na manhã de ontem (10), uma reunião foi realizada na sede do Ministério do Trabalho de Sorocaba, com representantes da construtora responsável pela obra. Em seguida, o auditor fiscal do Trabalho e engenheiro do trabalho João Lúcio Spindola Sanches esteve na obra. O trabalho dele no local terminou com cinco autuações.
“A empresa está sofrendo autuações diversas e a obra vai permanecer paralisada até regularizar as situações notificadas pelo auditor. Um dos principais problemas encontrados diz respeito à falta de proteção circular, que protegeria quem estava embaixo em razão da queda de objetos e também amortecer quedas de trabalhadores”, disse Ubiratan.
De acordo com ele, a situação da obra oferecia riscos de ocorrências de mais acidentes. No local, o auditor encontrou escadas sem proteção/guarda-corpo, extintores obstruídos e circuitos elétricos desprotegidos.
Agora, a construtora precisa regularizar as situações apontadas e remover o entulho, organizar o canteiro e instalar uma proteção na periferia da obra. “Estou analisando também a necessidade de uma plataforma de segurança próxima a rede de segurança.
Ubiratan espera que após o acidente de sexta-feira (7), as empresas informem aos trabalhadores sobre a importância da capacitação ao prestar um serviço. “É preciso um pouco mais de informação aos trabalhadores, para que estes não pratiquem dentro de um canteiro de obras ou uma empresa de mecânica pesada, por exemplo, atividades que eles não estejam habilitados. Essa é a única forma de evitar a morte”. (Virginia Kleinhappel Valio)