Cidades
Golpistas usam perfil falso para vender ingressos fake
Eles usaram história real de jornalista de Iperó para enganar outras pessoas
Uma jornalista de 22 anos foi vítima de uma fraude virtual ao colocar à venda um ingresso para o terceiro dia do festival Mita, programado para sábado (3), em São Paulo. Os golpistas se aproveitaram da situação e tentaram enganar outras pessoas, usando a história da jovem como artifício.
A mulher, que mora em Iperó, anunciou a venda do ingresso em suas redes sociais. Um homem, que se identificou como Eliton, demonstrou interesse no convite e solicitou o número de telefone da jornalista para que pudessem negociar pelo WhatsApp. O rapaz expressou preocupação em ser vítima de um golpe e pediu uma foto do RG da jovem como garantia.
“Recebi muitas mensagens de interessados, mas um cara que se apresentou como Eliton estava mais empolgado pelo ingresso. O perfil dele tinha mais de mil seguidores e ele inclusive era seguido por artistas influentes e por uma conhecida página de fofoca. Trocamos WhatsApp. A foto que ele usava era de um jovem e a primeira mensagem que ele me enviou foi ‘Quase caí num golpe, será que você pode me confirmar que o seu ingresso é verdadeiro? Tenho muito medo’. Eu respondi que também tinha medo e, pra comprovar que eu estava falando a verdade, enviei áudios e mostrei o ingresso com o QR Code e o código de barras censurados”, disse.
Ela enviou uma foto de sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e, no dia seguinte, percebeu que tinha sido bloqueada. Os golpistas criaram um perfil falso no Twitter utilizando fotos de jovem. Eles usaram a narrativa original da jornalista para aplicar golpes em outras pessoas. O perfil, que aparentemente já existia, exibia a informação de que a conta, com mais de mil seguidores, havia sido criada em 2021. A mulher registrou um boletim de ocorrência por falsidade ideológica na Delegacia de Iperó.
“O perfil dele tinha mais de mil seguidores e ele inclusive era seguido por artistas influentes e por uma conhecida página de fofoca. Trocamos WhatsApp... Eu nunca caí num golpe antes, mas quando trocamos mensagens, eu estava desatenta e só queria vender o ingresso logo. Infelizmente, nossos momentos de fragilidade abrem brechas para coisas ruins, coisas que eu nunca pensei que faria”, diz.
O golpe
A reportagem do Cruzeiro do Sul entrou em contato com o homem que se passava pela jornalista para entender como os golpes estavam sendo aplicados. A primeira conversa ocorreu por mensagens diretas no Twitter, mas a falsa negociação continuou no WhatsApp. Para parecer convincente, o golpista inventou uma história emocionante. “Por alguns motivos familiares, decidi vender o ingresso. O ingresso é digital e posso transferi-lo para você antes do pagamento, mas peço algumas garantias, se não se importar. Infelizmente, estou vendendo este ingresso com dor no coração, pois é meu sonho ir"”, escreveu.
Em vez de oferecer um único convite, os golpistas estavam vendendo dois ingressos, cada um pelo valor de R$ 700. Os criminosos solicitaram uma “troca de RG por questões de segurança”. Para dar continuidade à negociação, a reportagem alegou ter perdido os documentos, restando apenas o e-Título, mas que poderia fazer o depósito de metade do valor para garantir os ingressos. O golpista forneceu a chave do pix, o e-mail "[email protected]", com o titular Ygor Marcos Oliveira Teixeira. Uma imagem de um comprovante de depósito bancário foi manipulada e enviada ao golpista, que sequer percebeu que o dinheiro não tinha sido depositado na conta.
Em seguida, o homem solicitou o nome completo, CPF e e-mail da pessoa responsável pela reportagem. Foi fornecido um nome falso, um CPF gerado automaticamente na internet (sem vínculo com nenhuma pessoa real) e um e-mail temporário. O golpista, então, enviou a foto da CNH da jornalista como forma de “garantia” de que a compra não se tratava de um golpe. No e-mail informado aos golpistas, foi recebido do endereço eletrônico "[email protected]" informando uma suposta transferência de titularidade. No rodapé do e-mail, inclusive, constava o CNPJ da Eventim, empresa responsável pela venda de ingressos do evento. No entanto, nenhum PDF do convite estava anexado ao corpo da mensagem.
O homem exigiu o restante do depósito. Mais uma vez, uma imagem manipulada foi enviada. Em seguida, ele solicitou mais R$ 165 por cada ingresso, alegando ser uma taxa de transferência de titularidade. Somente após três horas os golpistas perceberam que nenhum depósito tinha sido feito. “Meu namorado acabou de chegar do trabalho e disse que o dinheiro não entrou. Você poderia enviar o comprovante, por favor?”, enviaram. Depois disso, o contato foi encerrado.
Empresa alerta
Na página oficial da Eventim, há um banner informando que a venda de ingressos fora da plataforma não é recomendada, pois podem ser falsos ou fraudados. Além disso, a empresa diz no site que, na maioria das vezes, os ingressos não são nominais e podem ser usados no acesso ao evento por amigos ou parentes, mesmo que o nome deles não estejam no ingresso.
“Os ingressos são emitidos com o nome e CPF do titular do cadastro apenas por segurança. No caso de ingresso meia-entrada ou outros descontos/benefícios, é obrigatório que a pessoa que for utilizar o ingresso apresente o documento de comprovação em seu próprio nome. Não é possível alterar o nome nos ingressos nem transferi-los para outro cadastro”, diz o informativo. (Wilma Antunes)
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