Buscar no Cruzeiro

Buscar

Pedintes evitam ajuda para abandonar a rua

22 de Dezembro de 2018 às 06:30

Pedintes evitam ajuda para abandonar a rua Sias identifica locais de Sorocaba que concentram pedintes. Crédito da foto: Erick Pinheiro / Arquivo JCS (11/4/2018)

 

De um total de 26 moradores de rua abordados entre os dias 5 e 7 deste mês pela Operação Dignidade apenas sete aceitaram ajuda do programa “Não dê esmola. Dê dignidade”, uma parceria da Secretaria de Igualdade e Assistência Social (Sias) da Prefeitura de Sorocaba com o Serviço de Obras Sociais (SOS). Em um primeiro momento quatro deles começaram a fazer uso da rede socioassistencial do SOS, enquanto outros três prometeram procurar a instituição ao longo deste mês. Os números baixos de adesão para reinserção na sociedade como encaminhamento para empregos, tratamento contra o álcool, drogas ou, até mesmo voltar para as suas famílias, em alguns casos, mostram a dificuldade de se vencer um problema de ordem social.

O presidente do SOS, João Antonio Gabriel, explica que por mais que possa parecer contraditório, muitos exercem o direito de suas próprias escolhas. “Existem casos que a pessoa se incomoda com as regras que precisam ser seguidas em termos de disciplina, como hora do banho, das refeições, de dormir. A rua oferece uma liberdade que muitos buscam. Nós só fazemos o bem a eles, temos assistente social e psicóloga para auxiliá-los, desde que queiram ser atendidos”, reforçou Gabriel.

A Operação Dignidade começou no mês de março para buscar soluções contra o aumento do número de pessoas em situação de rua na cidade, mas os profissionais envolvidos como PMs, Guardas Civis Municipais (GCM) e servidores da saúde são testemunhas da resistência dessas pessoas. Durante a ação também são realizados exames de glicemia e até contra o HIV, a fim do pedinte receber tratamento adequado em caso de ter um quadro de saúde mais crítico. Um total de 10 pessoas aferiram a pressão e realizaram exames de sangue para avaliar os sinais do diabetes na primeira quinzena de dezembro. O programa tem ainda o apoio da Secretaria de Conservação, Serviços e Obras (Serpro) e Secretaria da Segurança e Defesa Civil (Sesdec).

Esse trabalho social também lista os pontos onde os moradores de rua se concentram, entre os quais as regiões das proximidades da Rodoviária, praça da Igreja São José do Cerrado, avenida Barão de Tatuí, avenida Luiz Mendes de Almeida, Centro Esportivo do Central Parque, rua Marquês de Itu, Mosteiro de São Bento, praça Coronel Fernando Prestes, rua 15 de Novembro, margem do rio Sorocaba, praça Frei Baraúna, largo do Rosário e avenida General Carneiro.

Custo de R$ 88 mil mensais

Quem aceita ir para o SOS recebe roupa nova e lavada, alimentação, pernoite e toda a assistência necessária por um período que pode ser de três a 10 dias. Após esse período ele volta para a rua, abrindo vaga para outros. O SOS recebe hoje da Prefeitura, mensalmente, R$ 88 mil para atender 50 internos. A instituição está solicitando, para o próximo o ano, aumento de mais 10 vagas. “Temos tido um prejuízo mensal entre R$ 8 mil a R$ 10 mil para atender até cinco pessoas a mais que sempre aparecem pedindo ajuda”, explicou Gabriel.

O SOS também custeia uma média de R$ 10 mil mensais na compra de passagens para aqueles que desejam voltar para as suas cidades ou Estados de origem -- como Minas Gerais e Bahia -- e outras regiões do Estado de São Paulo. “O fato é que tem muita gente ficando para fora de nossos portões porque não conseguimos atender a demanda de moradores de rua que aumentou consideravelmente”, destacou o presidente do SOS.

O gerente do SOS, Vanderlei da Silva, pede para que a população também compreenda uma realidade. “Muitas pessoas denunciam a presença de moradores de rua em determinada região e nós vamos até eles, oferecer os nossos serviços. Porém, quando eles recusam vir conosco não podemos obrigá-los a entrar em nosso veículo e, então, a pessoa que denunciou acha que não fizemos nada. Na verdade o direito constitucional de ir e vir vale para todas as pessoas”, finalizou Silva.

O SOS aceita doações para quem quer ajudar pessoas em situação de rua como alimentos, produtos de limpeza ou itens de higiene, colaborações com recursos financeiros via PagSeguro, trabalho voluntário ou destinação à entidade de parte do ICMS pago nos cupons fiscais de compras. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (15) 3229-0777 e http://www.sossorocaba.org.br/br/como-ajudar.

Discussão envolve a Região Metropolitana

A Secretaria de Igualdade e Assistência Social (Sias) promoveu anteontem um encontro com municípios da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) sobre o Protocolo de Atendimento a Pessoas em Situação de Rua (PSR). Participaram do encontro representantes de Itapetininga, Cerquilho, Iperó, Itu, Porto Feliz e São Miguel Arcanjo, que apresentaram quais procedimentos estão utilizando para atender pessoas nessas condições.

O atendimento das cidades segue as normas estabelecidas pela Política Nacional de Assistência Social (Pnas), do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Nesse contexto, durante o encontro os municípios descreveram as ações que têm realizado para se adequar ao que foi proposto no protocolo. Além disso, segundo a Prefeitura, por ser referência no atendimento a pessoas em situação de rua, Sorocaba pôde compartilhar experiências e dar orientações a outras cidades.

De acordo com a secretária da Sias, Cíntia de Almeida, os bons resultados alcançados por Sorocaba só são possíveis graças ao investimento em uma equipe de acolhimento tão capacitada. “O governo José Crespo tem realizado esforços muito significativos, nunca antes vistos em outra gestão municipal, no que se refere às pessoas em situação de rua. O protocolo é um desses exemplos”, afirma. Cíntia também reforça que o período de abrigamento dessas pessoas se dá por até 180 dias, e que possuem assistência psicológica e programas de inserção no mercado de trabalho. Pelo protocolo é possível alinhar ações que garantam o atendimento aos moradores de rua nos municípios. (Da Redação, com informações da Secom Sorocaba)