Páscoa deste ano terá um gosto amargo por causa da quarentena
A Associação Paulista de Supermercados espera uma queda de 8,5% nas vendas dos produtos de chocolate em relação ao ano passado. Crédito da foto: Fábio Rogério
A Páscoa de 2020 vai ter um gosto amargo diante das implicações da crise provocada pelo novo coronavírus (Covid-19). Em 15 dias, as medidas de restrição ao fluxo de pessoas nos supermercados jogaram por terra a boa expectativa do setor para a venda de produtos de chocolate (ovos, bombons e barras) em relação ao ano passado. Já os produtores artesanais apostam na criatividade para não fechar o período no vermelho.
De acordo com a Associação Paulista de Supermercados (Apas), a estimativa de aumento nas vendas no Estado de São Paulo era de 2,2% antes da crise. Agora, já se espera uma queda de 8,5% -- com retrocesso médio de 8,2% no interior e de até 10,5% na Grande São Paulo. Na região de Sorocaba, a projeção negativa de vendas é de 2,7% a menos no comparativo entre 2019 e 2020.
Em um supermercado do Parque Vitória Régia, na zona norte de Sorocaba, o gerente Renato de Campos, de 38 anos, estimava um acréscimo de até 20% nas vendas de produtos de chocolate em relação ao ano passado. “A data da Páscoa deste ano, no dia 12, é bem próxima da data de pagamento das pessoas, diferentemente do ano passado (que foi no dia 21). Fizemos uma compra acima do ano passado, até que veio o imprevisto”, resumiu.
Tanto a loja que ele dirige quanto a rede de supermercados, composta por 40 lojas na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), estão vendendo ovos de páscoa e outros produtos típicos abaixo do custo para minorar os prejuízos. “Mesmo assim a venda vai cair bastante e vai haver perdas, pois não pode haver aglomeração de pessoas na loja e por isso as pessoas estão deixando de vir ao mercado. Se o fornecedor nos ajudar com a diferença, ainda assim o lucro vai ser zero”, disse, sobre as promoções praticadas.
Artesanais
Para os produtores artesanais de chocolate, que trabalham com margens de lucro ainda menores e capital de giro reduzido, o desafio é ainda maior. Este ano, a produção da pedagoga Lia Flávia, 45, foi reduzida em 40%: até agora, são cerca de 300 encomendas. “Em 2019 eu trabalhei também com pronta entrega, mas este ano, por causa da baixa procura, estou produzindo ovos e doces exclusivamente por encomenda”, conta.
Ela acredita que o isolamento social vai prejudicar as confraternizações da Páscoa. Outra implicação é a insegurança econômica da população. “Quem faz uma encomenda com pequenos produtores está adquirindo um produto exclusivo, carinhosamente feito com base no paladar de cada um. Mas o cenário atual prejudicou sim quem esperava e tinha como fonte de renda extra a confecção de doces e chocolates.”
Já a proprietária de uma chocolateria no bairro Santa Rosália apostou no delivery e na propaganda nas redes sociais para salvar a Páscoa deste ano. Conforme Laís Tomé Tonelli, 27, a queda nas vendas será inevitável, mas a situação será menos grave do que se anunciava quando começou a pandemia. “Os produtos de ‘vitrine’, como ovinhos e cenourinhas, que vendemos quase mil unidades no ano passado, serão prejudicados, mas os ovos trufados e de casca simples estão saindo bem”, afirma. (Eric Mantuan)