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Transição

Novo terminal avança, mas incertezas preocupam comerciantes da rodoviária

Trabalhadores dizem não ter informações sobre a transição, enquanto a Prefeitura afirma que seguirá critérios para a ocupação dos espaços

09 de Dezembro de 2025 às 20:22
Cruzeiro do Sul [email protected]
Terminal rodoviário de Sorocaba segue em atividade até a entrega do novo prédio
Terminal rodoviário de Sorocaba segue em atividade até a entrega do novo prédio (Crédito: CAROLINE MENDES)

A construção da nova rodoviária de Sorocaba, prevista para ser entregue no primeiro semestre de 2026, tem gerado preocupação entre comerciantes instalados há décadas no atual terminal, localizado na avenida Comendador Pereira Inácio. Enquanto a Prefeitura assegura que a obra segue dentro do cronograma e que haverá critérios para alocação dos espaços no futuro prédio, quem trabalha no local afirma que ainda não recebeu informações claras sobre como será a transição.

A Secretaria de Parcerias (Separ) informou que as fortes chuvas do início dos trabalhos atrasaram as etapas de terraplenagem, mas que o ritmo das obras foi normalizado. Segundo a pasta, estão em finalização as fases de contenções, drenagem e fundações, enquanto avança o preparo para pavimentação e a confecção de peças pré-moldadas. O projeto é 100% financiado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).

O governo municipal também confirmou que estuda a concessão do novo empreendimento e que os comerciantes poderão participar do processo de locação. No entanto, não há vagas garantidas. “Serão adotados critérios para locação dos espaços”, afirma a Secretaria. Já o prédio atual segue sob administração da Urbes, que mantém ali os serviços de transporte até a inauguração do novo terminal. A Prefeitura avalia ainda instalar um Centro de Diagnósticos em parte da estrutura atual.

No comércio, o clima é de apreensão. Há quem esteja no local há décadas e quem tenha construído sua vida profissional entre as plataformas da rodoviária inaugurada em 1973, um marco de modernidade na época. Osório Vieira, comerciante e ex-funcionário da antiga administradora do terminal, resume o sentimento mais comum entre os empreendedores: a falta de informação. “Proposta oficial? Não chegou nada. Falaram assim, aleatoriamente: ‘quem quiser ir, tem uma vaga’. Mas certeza mesmo, ninguém aqui tem”, afirma. Ele trabalha no local há mais de 20 anos, sendo os últimos seis como dono de duas lojas.

Para Osório, além da incerteza, a mudança trará prejuízo ao comércio e aos usuários. “Aqui é um ponto excelente: perto do Centro, hospital, fácil acesso às rodovias. Levar a rodoviária para onde estão levando é muito longe. Quem mora na zona sul, por exemplo, vai sofrer. É uma viagem”, critica. Segundo ele, a rodoviária ainda sente reflexos da pandemia, quando passageiros migraram para alternativas como vans, transporte por aplicativo e até ônibus clandestinos. “Até hoje a rodoviária não é mais a mesma”, completa.

A comerciante Ana Cristina da Silva Paulina diz que já não sabe o que acreditar. “Desde que eu cheguei aqui falam que vai sair. Faz 36 anos isso. Eu ainda nem acredito”, comenta. Ela mantém um comércio no entorno da rodoviária e reconhece que a transferência pode afetar o movimento. “Um pouco, sim. Mas falam tanta coisa uns dizem que vai continuar intermunicipal aqui, outros falam que vão fazer área de saúde em cima. É tudo especulação.”

Mesmo com tantas versões, ela segue trabalhando como sempre fez. Começou com um bar, evoluiu para lanchonete e depois para restaurante. “A gente cria histórias e amizades aqui. Tem muita coisa boa que aconteceu”, lembra.

Os integrantes de um quiosque tradicional no terminal, em atividade desde os primeiros anos da rodoviária, também relatam falta de confirmação. Segundo eles, houve uma comunicação inicial de que poderiam ser transferidos para o novo prédio, mas nenhum aviso oficial foi dado até agora. “Por mim, eu nem sairia daqui. Desde quando me conheço por gente, isso aqui faz parte da minha vida”, afirma a comerciante Divanéia do Nascimento Barbosa.

Rodoviária histórica em momento de transição

Inaugurada em agosto de 1973, quando Sorocaba tinha pouco mais de 170 mil habitantes, a rodoviária foi projetada como uma das mais modernas do Estado. Com oito mil metros quadrados e arquitetura arrojada, tornou-se referência e ponto central de serviços. Hoje, cerca de três mil passageiros passam diariamente por suas plataformas, atendidos por 21 empresas de ônibus.

Quase meio século depois, o terminal vive o momento de maior transformação desde sua inauguração, e quem trabalha ali há décadas se vê diante de um futuro ainda nebuloso. Enquanto as obras do novo prédio avançam, comerciantes aguardam respostas objetivas sobre como ficará o destino de seus negócios. (Caroline Mendes)

 

 

 

 

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