Tecnologia
Lançamento de protótipo é feito no Parque Tecnológico de Sorocaba
O Parque Tecnológico de Sorocaba (PTS) sediou, neste domingo (23), o lançamento de um protótipo de picosatélite de comunicação. O lançamento ocorreu por volta das 11h e, depois de cerca de 10 minutos, o balão já estava a aproximadamente 2 km de altura. Cerca de 30 pessoas acompanharam o evento, entre convidados, equipe e autoridades.
O projeto é uma parceria de duas empresas brasileiras de tecnologia espacial. No protótipo foram colocadas duas estruturas principais: uma delas é um picosatélite, que é um satélite pequeno, de cerca de 1 kg, e a outra tem fins educacionais, destinada a medir dados como radiação cósmica, temperatura, pressão, campo magnético, CO2, umidade e luminosidade.
O projeto vem sendo desenvolvido há cerca de 10 meses, e cinco lançamentos já foram realizados. Porém, este é o primeiro que leva o picosatélite também. O artefato consiste numa caixa de isopor coberta com fita reflexiva, que ajuda a manter a integridade dos componentes eletrônicos. Do lado de fora, além do paraquedas, o equipamento é acoplado a um balão cheio de gás hélio, que é o responsável por decolar o objeto.
Segundo o coordenador de sistemas, César Hipolito, o dispositivo deve atingir 30 quilômetros de altura e pode enfrentar temperaturas de até 100ºC negativos. O objeto pode atingir a velocidade de 4 m/s, cerca de 15 km/h.
César afirma ainda que o ponto de pouso pode ficar a até 150 km do ponto de lançamento. Para diminuir os efeitos da queda, o dispositivo conta com um paraquedas que infla assim que a descida começa.
Participaram da montagem e do lançamento os profissionais Lester Faria, Gilberto Damasceno, Alexander de Melo, César Hipolito e Sérgiu Shimura.
Com a ajuda de softwares próprios, os pesquisadores conseguem realizar previsões de pouso do objeto. Porém, correntes de vento afetam diretamente o percurso, podendo mudar de forma brusca o local de queda. Às 10h da manhã, a previsão de pouso era próxima à cidade de Mauá, na região do ABC Paulista. O objeto deveria realizar um voo de aproximadamente 2 horas. A recuperação pode ser rápida ou não, dependendo das condições de acesso ao local onde ocorrer a queda.
O picosatélite, denominado LeptonSat, foi produzido pela Shamal Space e pela Navollo Aerospace. Lester Faria, um dos responsáveis pelo projeto, explica que "Lepton" é o nome dado à partícula considerada a menor conhecida pelo homem, razão pela qual foi escolhida para nomear o pequeno satélite.
Lester afirmou que, neste momento, busca investidores internacionais para viabilizar a colocação do picosatélite em órbita, etapa crucial para avançar o desenvolvimento da tecnologia. Ainda segundo o profissional, a expectativa é ter 10 LeptonSat em órbita até o fim de 2026. O dispositivo tem tempo de vida estimado em um ano, o que, segundo Lester, permitiria o lançamento periódico de versões modernizadas, garantindo sempre pelo menos 10 em operação.
O diretor administrativo-financeiro do PTS, Eduardo Marques, afirmou: “Aqui no Parque Tecnológico, a gente se sente realmente privilegiado de ter um lançamento tão importante de um satélite. Acabei buscando informação: foram dez meses para fabricar, desenvolver e lançar. Parece que é algo tão simples, mas eu sei da complexidade. E a questão de ser brasileiro já nos deixa honrados, algo fabricado no Brasil, desenvolvido aqui e lançado no Parque Tecnológico de Sorocaba.”
Por volta das 15h30, o balão foi resgatado na zona norte de São Paulo. De acordo com Lester, todo o equipamento foi recuperado de forma íntegra. Ao longo da semana, os pesquisadores irão analisar os dados dos sensores e das câmeras. Após o estouro do balão, o paraquedas funcionou perfeitamente e garantiu a queda tranquila do objeto. “As notícias são as melhores possíveis, felicidade total. Ele conectou e estabeleceu o link durante todo o percurso, a carga está íntegra, tudo funcionando!”
Do Parque Tecnológico à estratosfera:
Durante o voo de teste, o protótipo do LeptonSat deverá atingir aproximadamente 30 quilômetros de altitude, alcançando a estratosfera - a segunda camada da atmosfera terrestre. Segundo a NASA, esta região localiza-se entre 12 e 50 km acima da superfície, abrigando a camada de ozônio e sendo a parte mais alta que pode ser alcançada por aeronaves convencionais. O dispositivo enfrentará condições extremas, incluindo temperaturas de até -100°C e pressão atmosférica drasticamente reduzida. Esta é uma zona crítica para testes de equipamentos espaciais antes de seu lançamento orbital definitivo, que ocorrerá muito acima, na termosfera, onde satélites como a Estação Espacial Internacional orbitam a cerca de 400 km de altitude.
LeptonSat se junta a crescente frota espacial brasileira
Segundo o Registro Nacional de Objetos Espaciais mantido pela Agência Espacial Brasileira (AEB), o Brasil possui atualmente oito satélites de aplicação em operação, além de 16 satélites de telecomunicação comercial. Entre os picosatélites, destaca-se o PION-BR1, de apenas 125 cm³, lançado em 2022 como o primeiro satélite construído por uma startup brasileira.