Consumo
Preços variam mais de 200% entre supermercados de Sorocaba
Pesquisa aponta oscilações nos preços de alimentos, higiene e limpeza e mostra as estratégias adotadas pelos consumidores para economizar
Uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Ciências Sociais Aplicadas (LCSA) da Universidade de Sorocaba (Uniso) mostrou que os preços entre os supermercados de Sorocaba apresentam diferenças que podem ultrapassar 200%. O levantamento, feito nos dias 17 e 18 de novembro, analisou produtos alimentícios, de higiene e de limpeza.
O item com maior variação foi o tomate, encontrado por valores entre R$ 3,75 e R$ 12,90 — uma diferença de 244%. A batata também apresentou oscilação expressiva, de 181%, enquanto o cará chegou a 155%. Produtos industrializados e de higiene, como sabão em barra, água sanitária, margarina e leite longa vida, também registraram grandes saltos, com variações entre 70% e 85%, dependendo da marca e do supermercado.
Segundo a pesquisa, fatores como logística, safra, oferta regional e negociações entre fornecedores e redes contribuem para as oscilações, mas não eliminam o impacto direto no bolso dos consumidores, que lidam diariamente com essas diferenças.
Para o empresário João Vitor Peres, o tempo pesa mais que a diferença de preços entre mercados. “Eu não vou atravessar a cidade para comprar um produto. O tempo é ainda mais valioso que a gasolina. Além disso, eu geralmente costumo vir de manhã; tem menos pessoas e acaba sendo mais rápido.”
O dono de uma lanchonete também compara valores entre diferentes distribuidores por WhatsApp e afirma que há mudanças praticamente toda semana, inclusive entre os mesmos fornecedores. “Já comprei o mesmo produto de lugares distintos em que, numa semana, um estava mais caro e, na seguinte, era o outro que aumentava. Os preços oscilam demais.”
Cristiane Grangeiro se mostra mais flexível. Apesar de frequentar sempre os mesmos mercados, ela afirma que deixa de comprar um produto na hora se souber que está mais barato em outro estabelecimento. Também troca marcas e até produtos quando necessário: “Eu troco o pão por outra coisa se estiver caro, por exemplo.” Cristiane faz compras semanais, o que, segundo ela, ajuda a evitar desperdícios. Entre os itens em que percebeu aumento recente, cita carnes, produtos de mercearia e hortifrútis.
Para Victória Porcidonio, a principal diferença está entre mercados grandes e os de bairro: “No de bairro sempre fica mais caro.” A auxiliar de sala de aula compara preços em panfletos e aplicativos antes de comprar. Entre os produtos que mais subiram no último mês, destaca café, ovos, tomate e alho. Quando encontra preços melhores em outro lugar, não hesita: “Já deixei de levar e fui buscar no outro.” Como estratégia para economizar, ela também troca marcas e substitui itens quando necessário.
Já a gerente administrativa Mercia Dantas relata que não costuma pesquisar preços antecipadamente porque “já sabe as diferenças entre os mercados”, mas confirma que compra sempre nos mesmos estabelecimentos. Quando encontra um produto mais barato em outro local, decide de acordo com a urgência: “Depende da necessidade. Se eu precisar muito, eu pego; se não, vou a outro mercado.”
Entre os consumidores, os perfis variam: enquanto quem dispõe de pouco tempo prioriza praticidade e mantém hábitos fixos, aqueles com mais flexibilidade alternam entre mercados e marcas para economizar. Apesar das diferenças de comportamento, todos relatam aumentos significativos — sobretudo em café, carnes, hortifrútis e frios — e afirmam que as promoções continuam sendo fator decisivo na hora de escolher o que levar para casa.
Como funciona a pesquisa
Coordenada por um professor do curso de Ciências Econômicas da Uniso, a pesquisa da cesta básica sorocabana é realizada por estagiários do Laboratório de Ciências Sociais Aplicadas (LABCSA). O grupo coleta preços de 34 itens essenciais — entre alimentos, produtos de higiene e itens de limpeza — em diferentes supermercados da cidade. Os dados são tabulados e resultam em relatórios semanais que destacam a variação entre os preços praticados pelas redes.
No fim de cada mês, é produzido um boletim completo que apresenta a variação dos itens e as possíveis causas para aumentos e quedas, relacionando os resultados aos principais índices oficiais de inflação.
Em 2025, o serviço completa 30 anos. Segundo o professor de economia da Uniso, Marcos Canhada, o trabalho “tem como propósito oferecer à população um acompanhamento contínuo da evolução dos preços e contribuir para a compreensão das dinâmicas de mercado no cotidiano”. Ao todo, são divulgados 12 boletins mensais e cerca de 48 relatórios semanais, além de edições especiais em períodos como Páscoa e Natal. Todo o material é disponibilizado gratuitamente à imprensa local, às redes sociais da universidade e à Rádio Uniso, no quadro “Uniso Economia”. (Lavínia Carvalho - programa de estágio)