O primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, realizado neste domingo (9), mobilizou cerca de 15 mil alunos, em Sorocaba.

No Estado de São Paulo foram cerca de 751 mil estudantes. Já no país são 4,8 milhões de candidatos. Os estudantes fizeram as provas de Linguagens, Ciências Humanas e Redação. O tema deste ano, foi "Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira".

Na porta da Universidade Paulista (Unip), um dos locais utilizados para aplicação da prova, estavam diversos alunos, o clima de apreensão se misturava com o
encorajamento dado por professores que foram até o local para incentivar seus alunos a manterem uma postura calma para enfrentar o dia de prova.

Diversos estudantes disseram estar nervosos, especialmente por entender o valor dessa etapa para o futuro. Alguns preferiam esperar a hora da entrada em pequenos grupos. As conversas no geral eram sobre amenidades, outros estudantes preferiam ler resumos de última hora.

Além de alunos e professores, também havia muitos familiares que acompanharam os estudantes até o local e, alguns, pretendiam esperar seus filhos durante as cinco horas e meia da prova. Algumas pessoas viajaram para realizar a prova em Sorocaba.

Contexto nacional

O Enem é, há mais de duas décadas, a principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil. A cada ano, milhões de estudantes de todo o país se preparam para os dois domingos de provas que podem definir o futuro acadêmico e profissional de muitos. Mais do que um exame, o Enem se consolidou como um termômetro da educação brasileira e um ritual de passagem para jovens que sonham com uma vaga na universidade.

A edição de 2025 do Enem registrou um crescimento histórico de 38% no número de inscrições em relação a 2022 e 11,22% em comparação com 2024. Do total de inscritos confirmados, 1,8 milhão são alunos concluintes do ensino médio, enquanto 3 milhões conquistaram isenção da taxa de inscrição.

Sobre a prova

O exame acontece em dois domingos consecutivos. Neste primeiro dia, os candidatos enfrentaram 90 questões objetivas divididas entre Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (incluindo Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira e Artes) e Ciências Humanas e suas Tecnologias (História, Geografia, Filosofia e Sociologia), além da redação. Os estudantes tiveram 5 horas e 30 minutos para concluir as provas.

No próximo domingo (16), será a vez das provas de Ciências da Natureza e Matemática, com 5 horas de duração.

Os resultados do Enem são utilizados para acesso ao ensino superior por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Instituições privadas também utilizam as notas como critério de seleção, e algumas universidades portuguesas aceitam os resultados para ingresso de estudantes brasileiros.

Professores avaliam o tema da redação

O professor de história, Henrique Cavalcanti de Albuquerque, e a professora de redação e língua portuguesa, Patricia Ducatti Gonçalves, reagiram a temática escolhida para a redação.

Neste ano o tema escolhido foi "Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira".

Patricia afirmou que o tema era esperado, uma vez que a redação do Enem tem se concentrado em temáticas sociais (em 2024 tratou da valorização da herança africana no Brasil; em 2023 do enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil; em 2022 a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil). Ela também indicou o tema da Prova Nacional Docente (PND), que foi o idadismo, como mais um indício da importância do tema.

A temática une diversos componentes do currículo do ensino médio.

Henrique afirmou que “o aluno poderia usar muito de seu repertório de Geografia e História, principalmente a mudança demográfica da sociedade brasileira nos últimos 50 anos, de uma sociedade de jovens para uma sociedade já madura e urbanizada.”

Do ponto de vista técnico, Patricia considerou o tema díficil, especialmente por não ser um tema que despertaria o interesse dos alunos, correndo o risco dos alunos se tornarem superficiais: “devido ao tempo e a pressão a tese e a argumentação tendem a ser superficiais, ou focarem no preconceito.”

Henrique listou diversas temáticas relacionadas que poderiam ter sido escolhidas pelos alunos para desenvolver a redação como as vantagens de uma sociedade madura ou a necessidade de adaptação da sociedade, com opções de esporte e lazer e melhorias na acessibilidade para pessoas com a mobilidade reduzida.

Ainda na parte técnica Patrícia reafirmou a necessidade e o cuidado para que a redação seja um artigo de opinião e não se torne outro tipo de texto, segundo ela, o artigo é uma “receita de bolo”, que deve ter: “No primeiro (parágrafo), deve-se escrever o tema e a tese. A tese é o coração da redação, ela ditará o projeto de texto, subsequente os próximos dois parágrafos deve-se fundamentar a tese com a argumentação e por fim o parágrafo da conclusão que no Enem precisa trazer uma intervenção ao tema.”

Henrique, acredita que, apesar do tema oferecer certas dificuldades, por ser um tema que os alunos não costumam refletir, é um tema que dá a possibilidade do estudante, que possui um repertório social, se basear nos textos de apoio e construir uma redação interessante.

Entre nervosismo, esperança e planos para o futuro, o primeiro dia do Enem em Sorocaba reafirmou o caráter simbólico do exame. Mais do que um teste de conhecimento, ele segue sendo um marco na trajetória de milhões de jovens que sonham com novas oportunidades e são convidados, anualmente, para se conectar e pensar, também, no futuro de seu país. (Vernihu Oswaldo)