Custo de vida
Variação de preços entre supermercados ultrapassa 270%
Itens como alho e tomate lideram aumento, enquanto produtos de limpeza registram queda
Uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Ciências Sociais Aplicadas (LCSA) da Universidade de Sorocaba (Uniso), que monitora mensalmente o custo médio de produtos essenciais no município, revelou grandes variações de preços entre supermercados. Em alguns casos, a diferença ultrapassa 270%.
Os itens com maior alteração foram o alho (200g), com preços entre R$ 3,18 e R$ 11,98 — variação de 277% —, e o tomate (1kg), que oscilou de R$ 3,95 a R$ 12,90, diferença de 227%. Entre os produtos industrializados, a salsicha apresentou grande diferença de valores conforme a marca, chegando a 170%, com preços entre R$ 11,85 e R$ 31,98. Já o sabonete (85g) de marca popular subiu 122%, custando de R$ 1,75 a R$ 3,89.
Os produtos de origem animal também chamaram atenção: o pernil suíno registrou aumento de 101%, enquanto cortes de carne bovina de segunda variaram até 72%. Entre os hortifrutis, além do alho e do tomate, batata e cebola dobraram de valor, com variação de 100%.
Por outro lado, os produtos de limpeza registraram queda nos preços em outubro, conforme dados da Associação Paulista de Supermercados (Apas), em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O estudo mostrou redução média de 1,24% no mês, revertendo a alta de 0,55% observada em agosto.
Entre os produtos com maiores quedas estão o sabão em pó (2,63%), o amaciante (1,91%) e o alvejante (1,33%). Também apresentaram recuo o sabão em barra (1,17%) e o desinfetante (1,44%). No acumulado de 12 meses, a esponja de aço teve redução de 5,16% e o pano de limpeza, de 0,47%, indicando estabilidade entre itens de menor valor unitário.
Entre os consumidores, a percepção é de que o custo dos alimentos continua pesando no orçamento das famílias. A comerciante Silvana Calafange Medenski, 40 anos, relata ter percebido aumento significativo nos preços dos alimentos nos últimos meses, apesar de algumas mercadorias apresentarem redução recente. “Antes, com R$ 200 dava para comprar bastante coisa. Hoje está difícil”, comenta.
Ela cita que itens básicos, como arroz, feijão, açúcar e café, chegaram a valores altos, mas recentemente tiveram leve queda. Já em relação aos produtos de limpeza, observa que “ficou elas por elas”, pois alguns baratearam, enquanto outros se mantiveram. Silvana diz não se prender a marcas e sempre buscar o melhor custo-benefício. “Tem que pesquisar bastante”, reforça.
A empresária Edna Albuquerque, 57, também notou encarecimento nos alimentos, especialmente arroz, feijão e carnes. “Os produtos alimentícios subiram bastante”, afirma. Por outro lado, considera que os itens de limpeza mantiveram o valor. Edna prefere marcas conhecidas pela qualidade, mesmo que custem mais. “Normalmente compro as que já uso, pela confiança na qualidade”, explica. Para economizar, costuma fazer compras em atacadistas, que considera mais vantajosos. “O preço sempre é melhor do que em supermercados menores”, completa.
O vendedor Rogério Fernando Cozer, 55, destaca que os preços da cesta básica têm oscilado mensalmente. “O valor muda de mês para mês. Tem produto em promoção em um período e, no outro, já não está. A gente equilibra o gasto aproveitando as ofertas”, comenta. Ele cita o aumento no óleo e no café, enquanto o leite ainda mantém preço acessível. Sobre os itens de limpeza, afirma que os de melhor qualidade estão mais caros. “Estão um pouco fora da realidade. O jeito é comprar dentro das condições de cada um”, diz, ressaltando que sempre pesquisa preços e aproveita promoções para economizar.
Perspectiva
Para o economista Marcos Canhada, a queda de preços dos produtos de limpeza é resultado de uma combinação de fatores: redução e estabilização dos custos de insumos, mudança no padrão de consumo das famílias — mais sensíveis aos preços — e maior competitividade entre empresas do setor varejista.
Segundo ele, “a queda apontada pela pesquisa parece uma tendência de estabilização e leve recuo de preços no setor de produtos de limpeza. Mas não há garantias de que a trajetória será contínua, sem reversões. O cenário é de estabilização ou leve recuo, contanto que os custos de produção permaneçam sob controle e a competição continue ativa”.
Marcos Canhada acrescenta ainda que “a concorrência entre grandes indústrias e marcas menores, regionais, encaminha para um cenário em que o preço final ao consumidor tende a menor elevação ou até mesmo queda, desde que a produção e o varejo aceitem margens menores”. (Maria Clara Campos - Programa de estágio)