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Revitalização

Evento discute transformar a região central em um polo capaz de atrair moradores, turistas e investidores

Especialistas apresentam exemplos de que é possível unir memória, desenvolvimento e qualidade de vida

23 de Outubro de 2025 às 21:20
Da Redação [email protected]
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O tema foi destaque em um evento promovido pelo Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis (Secovi) - Regional Sorocaba (Crédito: Alisson Zanella)

Mais do que preservar o passado, Sorocaba quer projetar o futuro a partir de seu coração histórico. O Centro da cidade, que concentra parte importante da identidade e da arquitetura local, é o foco de um movimento que busca unir preservação da memória e desenvolvimento urbano. O tema foi destaque em um evento promovido pelo Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis (Secovi) - Regional Sorocaba. Participaram, na manhã desta quinta-feira (23), incorporadores, urbanistas, gestores públicos e representantes do mercado imobiliário para discutir como transformar a região central em um polo capaz de atrair moradores, turistas e investidores, impulsionando um crescimento econômico e social mais sustentável.

O consultor da Brain Inteligência Estratégica, Guilherme Werner, um dos palestrantes do encontro, destacou que Sorocaba se consolida como um dos grandes vetores de desenvolvimento imobiliário do interior paulista. Segundo ele, os dados mais recentes confirmam o protagonismo do município em volume de lançamentos e no fortalecimento de programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida. “A regeneração urbana e a requalificação dos centros urbanos são, na nossa leitura, uma das grandes bandeiras que o mercado imobiliário precisa levantar nos próximos ciclos”, afirmou. Para ele, revitalizar é mais eficiente que expandir. “A cidade já existe nesses lugares. A infraestrutura urbana está lá. Revitalizar é dar nova vida ao que já está pronto”, completou.

O consultor ressaltou ainda que a chave para o sucesso está em trazer de volta a moradia para o coração da cidade. “Quando você leva as pessoas para morar no centro, a segurança e o comércio vêm junto. A cidade ganha movimento, vida, e o entorno se fortalece”, explicou. Como exemplos de boas práticas, Guilherme citou experiências de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre e Campinas — cidades que investiram em legislações de incentivo e políticas de habitação no centro. “O ganho não é apenas financeiro. É uma melhoria da qualidade de vida, de urbanidade, de pertencimento”, concluiu.

O advogado, Tiago Augusto Pereira reforçou o mesmo pensamento. Para ele, o centro da cidade representa o ponto de partida da história urbana, e revitalizá-lo é, antes de tudo, resgatar a identidade coletiva. “Toda cidade nasceu do seu Centro. Mas, ao longo do tempo, vimos uma depredação desses espaços. As pessoas foram embora, os comércios se esvaziaram. Agora precisamos entender como fazer o Centro renascer”, pontuou. Ele acredita que a revitalização depende da união entre poder público e iniciativa privada: “Somente o trabalho conjunto das duas pontas é capaz de trazer investimentos reais. O poder público sozinho não consegue, e o privado precisa de condições claras para investir.”

O especialista também enfatizou que preservar e desenvolver são metas que caminham lado a lado. “Não precisamos demolir ou apagar o passado. Os prédios históricos são parte da beleza dos centros e podem ser reaproveitados com novos usos. Desde que haja incentivos, é possível preservar o patrimônio e gerar riqueza ao mesmo tempo”, explicou. Ele vê o processo como um trabalho de médio e longo prazo, que precisa ser tratado como uma política de Estado, não apenas de governo, para garantir continuidade e resultados concretos.

Exemplo que vem da capital

Entre os exemplos apresentados no evento, a experiência de São Paulo ganhou destaque na fala de uma das convidadas. A arquiteta e urbanista Roberta Simeoni compartilhou as lições da capital com os profissionais da região. Ela explicou que legislações específicas foram fundamentais para incentivar a recuperação do Centro paulistano, principalmente por meio do retrofit — reformas que modernizam edificações antigas, preservando sua estrutura original. “São Paulo fez e continua fazendo um grande esforço nesse sentido. A ideia é preservar os edifícios históricos e devolvê-los à cidade, transformando o patrimônio em valor de uso”, afirmou.

A arquiteta ressaltou que o setor imobiliário é um aliado importante nesse processo. “O empreendedorismo e a construção civil têm um papel central em operacionalizar essas políticas. Mas para que isso aconteça, é preciso oferecer segurança jurídica e viabilidade econômica. Reformar é muito diferente de construir do zero, e exige legislações que tratem dessas especificidades”, observou.

Entre os maiores desafios apontados, estão as limitações técnicas de prédios antigos — como adaptações de acessibilidade e normas de segurança —, além da necessidade de políticas integradas entre diferentes secretarias municipais. “Os incentivos fiscais ou urbanísticos isolados não bastam. É preciso uma ação multidisciplinar, com diálogo entre todos os órgãos envolvidos”, destacou Roberta.

Para ela, recuperar o centro histórico é também uma forma de promover sustentabilidade urbana. “Recuperar é mais sustentável do que demolir. Reutilizar o que já existe é respeitar o meio ambiente e a história da cidade. Quando devolvemos o centro à sociedade, estamos falando de cidades mais humanas e sustentáveis”, defendeu.

Aprendizado

A expectativa, segundo os organizadores e palestrantes, é que Sorocaba consiga adaptar as boas práticas de outras cidades, encontrando soluções próprias que respeitem sua identidade. Acreditam que a revitalização, não apenas vai preservar a memória e o patrimônio, mas também gerar empregos, movimentar o comércio, fortalecer o turismo e criar novas oportunidades de moradia e convivência.

No fim das contas, a recuperação do Centro histórico de Sorocaba representa mais do que um projeto urbanístico: é um movimento de reconexão da cidade com suas origens e de construção de um futuro mais inclusivo, próspero e sustentável. Como definiu uma das palestrantes, “trazer as pessoas de volta é devolver vida à cidade — e vida é o que faz qualquer Centro pulsar novamente”.

(Lavínia Carvalho - programa de estágio)

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