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Investigação

"Esse caso começou com uma fechada e terminou com a morte de um trabalhador", afirma delegado

Dr. Acácio Leite destacou que o episódio serve como reflexão sobre o comportamento das pessoas no trânsito

23 de Outubro de 2025 às 20:23
Da Redação [email protected]
Delegado explica por que motorista envolvido em morte de motociclista foi liberado após depoimento em Sorocaba
Delegado explica por que motorista envolvido em morte de motociclista foi liberado após depoimento em Sorocaba (Crédito: Fábio Rogério)

Para quem mora em Sorocaba, o trânsito tem sido alvo frequente de queixas -- seja pela falta de educação de motoristas, pela ausência de direção defensiva ou pela relação cada vez mais tensa entre motoristas e motociclistas. Essa tensão voltou a ser tema de discussão na cidade após um desentendimento no trânsito, ocorrido na quarta-feira (22), terminar de forma trágica com a morte do motociclista João Paulo Dias Dantas, de 35 anos.

De acordo com informações, João Paulo discutiu com o motorista de um carro na avenida Ipanema. O condutor do veículo não teria gostado da atitude do motociclista, o perseguiu e jogou o carro propositalmente contra a moto. A colisão resultou na morte imediata da vítima.

Enquanto isso, a Polícia Civil segue investigando as circunstâncias do ocorrido. O motorista envolvido foi ouvido e liberado após prestar depoimento, o que gerou questionamentos entre a população. Segundo o delegado titular do 8º Distrito Policial de Sorocaba, Acácio Leite, a liberação se deu com base em um procedimento previsto em lei.

“É importante explicar o que aconteceu. Existe um instituto jurídico chamado apresentação espontânea. Após o acidente, o autor procurou o quartel da Polícia Militar e disse: ‘Acabei de causar um acidente, quero me entregar, quero responder ao processo’. A partir desse momento, o delegado plantonista entendeu que ele estava se apresentando voluntariamente, sem tentativa de fuga. A lei entende que, nesse caso, ele não deve ser preso em flagrante e responderá em liberdade”, conta o delegado.

Acácio explicou ainda que o carro envolvido no acidente foi apreendido para perícia e que novas etapas da investigação já estão em andamento. “Nós pretendemos agora tomar o primeiro depoimento dele com base em tudo o que foi apurado, porque no momento do registro ainda havia poucas informações. Hoje já temos mais dados, inclusive relatos de pessoas que afirmam ter presenciado o acidente”, declara.

Essas testemunhas serão ouvidas formalmente. Segundo o delegado, a equipe do Instituto de Criminalística (IC) deve realizar uma reconstituição do acidente, com base nas imagens e nos laudos técnicos. “As perícias são fundamentais neste momento, tanto a dos veículos quanto a do corpo da vítima. O Instituto Médico Legal (IML) ainda não comunicou oficialmente a causa da morte. Também já conversamos com o IC para que seja feita uma reconstituição, desde o momento da suposta ‘fechada’ até a colisão. Isso vai nos ajudar a estabelecer distâncias e parâmetros e chegar à verdade dos fatos”, explica.

O delegado reforçou a importância de que a investigação seja conduzida de forma técnica e sem influência da comoção social. “O caso está muito inflamado, as pessoas estão emocionadas, e isso é compreensível. Mas a polícia precisa agir com serenidade. O protesto é legítimo, é um ato de cidadania, mas nós temos que apurar com base em provas. Já há um inquérito instaurado e estamos aguardando os resultados das perícias, ouvindo novas testemunhas e analisando imagens de câmeras para entender o que realmente aconteceu”, diz.

Durante a entrevista, o delegado também destacou que o episódio serve como reflexão sobre o comportamento das pessoas no trânsito. “Mais uma vez vemos que o problema não é a pista, nem o carro, nem o pneu. O problema está nas pessoas. Esse caso começou com uma fechada e terminou com a morte de um trabalhador. Precisamos pensar na disseminação da não violência. Já há uma família chorando, não precisamos que mais famílias chorem”, afirma.

O caso ressalta que duas famílias foram impactadas pelo episódio -- a da vítima e a do autor -- e que o processo judicial deve ser longo. “Não é uma situação que se resolve em uma semana. O caminho é longo, e a Justiça seguirá seu curso. O importante agora é manter a calma, apurar com tranquilidade e não transformar o caso em motivo para mais violência. O que eu vou apurar aqui é o que aconteceu, doa a quem doer”, completa.

Por fim, o delegado fez um alerta sobre o estresse e a pressa no trânsito, tanto de motoristas quanto de motociclistas que trabalham sob pressão de horários e entregas. “Falta um mecanismo de descompressão no trânsito urbano. Muitos motoristas e motoboys trabalham 12, 14 horas por dia. Isso aumenta o cansaço e a irritação. Precisamos discutir medidas semelhantes às das estradas, que obrigam períodos de descanso”, conclui.

O inquérito policial já foi instaurado e segue em andamento. O motorista deve prestar um novo depoimento nos próximos dias, à medida que novas provas forem analisadas.

(Murilo Aguiar - programa de estágio)

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