Investigação
"Esse caso começou com uma fechada e terminou com a morte de um trabalhador", afirma delegado
Dr. Acácio Leite destacou que o episódio serve como reflexão sobre o comportamento das pessoas no trânsito
Para quem mora em Sorocaba, o trânsito tem sido alvo frequente de queixas -- seja pela falta de educação de motoristas, pela ausência de direção defensiva ou pela relação cada vez mais tensa entre motoristas e motociclistas. Essa tensão voltou a ser tema de discussão na cidade após um desentendimento no trânsito, ocorrido na quarta-feira (22), terminar de forma trágica com a morte do motociclista João Paulo Dias Dantas, de 35 anos.
De acordo com informações, João Paulo discutiu com o motorista de um carro na avenida Ipanema. O condutor do veículo não teria gostado da atitude do motociclista, o perseguiu e jogou o carro propositalmente contra a moto. A colisão resultou na morte imediata da vítima.
Enquanto isso, a Polícia Civil segue investigando as circunstâncias do ocorrido. O motorista envolvido foi ouvido e liberado após prestar depoimento, o que gerou questionamentos entre a população. Segundo o delegado titular do 8º Distrito Policial de Sorocaba, Acácio Leite, a liberação se deu com base em um procedimento previsto em lei.
“É importante explicar o que aconteceu. Existe um instituto jurídico chamado apresentação espontânea. Após o acidente, o autor procurou o quartel da Polícia Militar e disse: ‘Acabei de causar um acidente, quero me entregar, quero responder ao processo’. A partir desse momento, o delegado plantonista entendeu que ele estava se apresentando voluntariamente, sem tentativa de fuga. A lei entende que, nesse caso, ele não deve ser preso em flagrante e responderá em liberdade”, conta o delegado.
Acácio explicou ainda que o carro envolvido no acidente foi apreendido para perícia e que novas etapas da investigação já estão em andamento. “Nós pretendemos agora tomar o primeiro depoimento dele com base em tudo o que foi apurado, porque no momento do registro ainda havia poucas informações. Hoje já temos mais dados, inclusive relatos de pessoas que afirmam ter presenciado o acidente”, declara.
Essas testemunhas serão ouvidas formalmente. Segundo o delegado, a equipe do Instituto de Criminalística (IC) deve realizar uma reconstituição do acidente, com base nas imagens e nos laudos técnicos. “As perícias são fundamentais neste momento, tanto a dos veículos quanto a do corpo da vítima. O Instituto Médico Legal (IML) ainda não comunicou oficialmente a causa da morte. Também já conversamos com o IC para que seja feita uma reconstituição, desde o momento da suposta ‘fechada’ até a colisão. Isso vai nos ajudar a estabelecer distâncias e parâmetros e chegar à verdade dos fatos”, explica.
O delegado reforçou a importância de que a investigação seja conduzida de forma técnica e sem influência da comoção social. “O caso está muito inflamado, as pessoas estão emocionadas, e isso é compreensível. Mas a polícia precisa agir com serenidade. O protesto é legítimo, é um ato de cidadania, mas nós temos que apurar com base em provas. Já há um inquérito instaurado e estamos aguardando os resultados das perícias, ouvindo novas testemunhas e analisando imagens de câmeras para entender o que realmente aconteceu”, diz.
Durante a entrevista, o delegado também destacou que o episódio serve como reflexão sobre o comportamento das pessoas no trânsito. “Mais uma vez vemos que o problema não é a pista, nem o carro, nem o pneu. O problema está nas pessoas. Esse caso começou com uma fechada e terminou com a morte de um trabalhador. Precisamos pensar na disseminação da não violência. Já há uma família chorando, não precisamos que mais famílias chorem”, afirma.
O caso ressalta que duas famílias foram impactadas pelo episódio -- a da vítima e a do autor -- e que o processo judicial deve ser longo. “Não é uma situação que se resolve em uma semana. O caminho é longo, e a Justiça seguirá seu curso. O importante agora é manter a calma, apurar com tranquilidade e não transformar o caso em motivo para mais violência. O que eu vou apurar aqui é o que aconteceu, doa a quem doer”, completa.
Por fim, o delegado fez um alerta sobre o estresse e a pressa no trânsito, tanto de motoristas quanto de motociclistas que trabalham sob pressão de horários e entregas. “Falta um mecanismo de descompressão no trânsito urbano. Muitos motoristas e motoboys trabalham 12, 14 horas por dia. Isso aumenta o cansaço e a irritação. Precisamos discutir medidas semelhantes às das estradas, que obrigam períodos de descanso”, conclui.
O inquérito policial já foi instaurado e segue em andamento. O motorista deve prestar um novo depoimento nos próximos dias, à medida que novas provas forem analisadas.
(Murilo Aguiar - programa de estágio)
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