Constatação
Centro de Sorocaba precisa de revitalização
Região sofre com esvaziamento, ao mesmo tempo que possui uma área comercial e guarda o charme de pontos históricos
No dicionário, “revitalizar” significa trazer vida. O termo para o Centro de Sorocaba pode significar algo além: devolver a cidade aos seus habitantes. Não é raro que centros urbanos, antes cheios de movimento, fiquem ultrapassados com o passar dos anos. Esse desgaste exige a busca por alternativas para reavivar esses espaços. Os motivos são muitos: falta de cuidado, crescimento dos bairros, surgimento de novos polos comerciais. O certo é que a maior parte das grandes cidades enfrenta o esvaziamento dessa área central; e, em Sorocaba, não é diferente.
Geograficamente, o Centro tem o formato de uma espécie de triângulo, formado pela união das avenidas Dom Aguirre, Presidente Juscelino Kubitschek e Sete de Setembro. Alguns quarteirões da avenida Afonso Vergueiro e de vias próximas também são compreendidos pelo bairro. Mas o local onde a pulsação acontece é nas imediações da Praça Coronel Fernando Prestes, onde estão a Catedral Metropolitana de Sorocaba, o Gabinete de Leitura, entre outras instituições importantes. Dela também parte o Boulevard Braguinha, calçadão e importante ponto de comércio.
A Associação Comercial de Sorocaba (Acso) percebe a necessidade de revitalização da região. A instituição fez uma pesquisa em apenas algumas ruas do Centro e constatou que existem, pelo menos, 23 imóveis vazios, alguns disponíveis para aluguel ou venda, outros apenas fechados e sem placas que sinalizem possíveis destinações. A Acso afirmou que busca imobiliárias e especialistas para tratar do tema.
Boulevard Braguinha
O Boulevard Braguinha é uma das primeiras ruas de Sorocaba. A via é um exemplo das chamadas “ruas Direita” –– um tipo que a maioria das cidades antigas possui. Para alguns urbanistas, ela seria a rua destinada a seguir, em linha reta, da frente da igreja principal até outros pontos importantes da cidade. Aqui, a Braguinha liga a Catedral até a rua Souza Pereira, onde ficavam as margens do rio antigamente.
O cientista social Gabriel Kanazawa se dedica a estudar as características atuais dessa via. Ele indica que a forma como as publicidades das lojas foram se acumulando ao longo dos anos criou uma característica: os prédios históricos, alguns dos quais tombados, estão escondidos. Quem anda pela Braguinha não consegue visualizar as características arquitetônicas. Por consequência, não cria vínculo com o local. Outra característica da publicidade no local é que, apesar de a rua ter se tornado calçadão em 1976, a altura das placas foi mantida, de forma a facilitar a visualização para motoristas, mas dificultar para pedestres.
O pesquisador aponta ainda que essas características da Braguinha também podem ser observadas em outros pontos do Centro e até em partes da cidade. Esse fenômeno levaria a um certo distanciamento entre as pessoas e a cidade. Não se vive na cidade. Passa-se por ela para viver em espaços privados.
E é justamente na ausência de gente que o Centro perde sua alma e sua segurança. Quando as ruas estão cheias de vida, elas se tornam mais seguras, acolhedoras e pertencentes a todos. Ocupar o espaço é a forma mais simples e poderosa de cuidar dele.
A falta de mobiliário urbano na Praça Coronel Fernando Prestes também é um ponto que reafirma a dificuldade em vivenciar a cidade. São poucos os bancos. Não há sombras. Ou seja, tais situações mostram que mesmo que essa não seja a proposta, a cidade se torna hostil com seus cidadãos.
O futuro é logo ali
A arquiteta e urbanista Ludmila Araújo Bortoleto propõe que uma alternativa possível para o Centro da cidade seria a arquitetura mista, na qual todos os tipos de estruturas estão próximos. Assim, um habitante poderia morar, trabalhar, ter seu lazer e opções de cultura por perto. Uma das alternativas para isso seria o uso de comércios no andar térreo de edifícios. Isso já acontece no Centro de Sorocaba, especialmente na Praça Coronel Fernando Prestes; porém, no geral, os andares térreos são utilizados apenas para comércio.
Outro local no qual esse tipo de arquitetura mista se destaca é o Gabinete de Leitura Sorocabano, que aluga seu andar térreo para diversos comércios e realiza atividades culturais, além de sediar sua administração, biblioteca e auditório nos andares mais altos.
Ludmila também fala sobre a importância de um mobiliário urbano de maior qualidade, como bancos, sombras e opções que tornem os espaços, como as praças, mais convidativos e confortáveis ao frequentador.
Memória
Para quem anda no Centro de Sorocaba, e da maioria das cidades, o que salta aos olhos é a história, ou as histórias, perdidas e quase esquecidas entre prédios: alguns tombados e com suas trajetórias contadas em placas, outros que fizeram parte da história e agora são escondidos por comércios, letreiros e produtos.
Segundo o chefe da Divisão de Patrimônio Cultural e Histórico da Prefeitura de Sorocaba, André Mascarenhas, existem cerca de 23 imóveis tombados no local. Eles conversam com a paisagem urbana: alguns estão esquecidos e são pouco lembrados, tapados atrás de camadas de civilização que foram postas por cima. Outros recebem mais atenção de quem passa. Alguns ainda tem a sua função original, como o Mercado Municipal; em outros casos, prédios assumem funções diferentes ao longo dos anos, como o Teatro São Rafael, localizado na rua Brigadeiro Tobias, 73, que já foi teatro, prefeitura e hoje abriga a Fundec.
Uma das ações que está sendo realizada pela divisão é a de adquirir placas de acrílico para colocar nos prédios históricos e nos monumentos. Essa é uma alternativa mais barata e que não atrai a atenção de possíveis criminosos, como as antigas placas de cobre e outros metais. Muitas delas sumiram com o passar dos anos, alvos de vândalos.
Outro prédio que chama atenção é o do Fórum Velho, localizado na Praça Frei Baraúna, que está fechado atualmente. Mas, segundo a Secretaria de Cultura do município, o local passará por reforma e se tornará a Pinacoteca de Sorocaba, um museu de pinturas.
André relembra o caso do prédio da antiga Ofebas, localizado na rua São Bento, 91, que foi tombado após iniciativa privada.
Horizonte
O prédio, hoje preto e amarelo, localizado na esquina da rua São Bento com a rua Doutor Artur Martins foi construído em 1928 para ser sede da Associação 25 de Dezembro, fundada em 1910. Ao longo dos anos, foi alugado para diversos comércios e restaurantes, inclusive para a Ofebas. O empresário Flávio Esteves é o atual locatário do local e foi dele a iniciativa de reformar todo o prédio e pedir o tombamento do mesmo.
No local, atualmente, funcionam diversos empreendimentos, como um café, uma loja de roupas, estúdios de música e uma escola de música.
Além dos comércios, o local também é um espaço para artistas, com apresentações de música ao vivo e espaço para exposição de obras visuais. Flávio conta que, quando assumiu o local, existiam grandes rachaduras; as reformas envolveram questões estruturais e adaptações para as atividades que aconteceriam ali. O tombamento foi parcial, tendo apenas a fachada do prédio sido protegida.
Essa é uma das alternativas para que o Centro seja revitalizado, mantendo a história da cidade viva e o futuro fervilhando com pessoas de volta ao centro, encontrando alternativas de comércio, moradia e lazer. Porque toda cidade precisa de olhos nas ruas, vozes nas praças e passos que a façam pulsar: sempre e para sempre.
Galeria
Confira a galeria de fotos