Apoio
Redes de solidariedade transformam a vida de pacientes com câncer
Receber o diagnóstico de um câncer pode mudar a trajetória de toda uma família. A notícia chega de repente, abala rotinas e, muitas vezes, obriga o paciente a buscar tratamento em outra cidade. O processo é longo, desgastante e, para quem não tem apoio, pode significar a perda da saúde, do emprego e até do convívio familiar.
A situação comove pessoas que se mobilizam para ajudar. Em 1988, um grupo de médicos observou a dificuldade de muitos pacientes — principalmente os que vinham de outras cidades — que buscavam tratamento em Sorocaba e ficavam pelas ruas aguardando transporte da saúde. Os profissionais alugaram uma casa e começaram o trabalho de suporte. Depois de algum tempo, a Associação Beneficente Oncológica de Sorocaba (Abos) ganhou um terreno e, em 1998, mudou-se para o endereço atual.
Desde então, a associação funciona como pousada para pacientes que vêm de fora. Com capacidade para atender até 40 hospedados, o local conta com técnicos de enfermagem para casos de emergência, motoristas para transporte até os hospitais e oferece cinco refeições diárias — café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e ceia.
Segundo a coordenadora da Abos, Ana Lúcia Medolago, de 53 anos, o auxílio é totalmente gratuito. “Para utilizar o serviço, os pacientes são encaminhados para nós pelo local de tratamento. Eles vêm para fazer o tratamento e, quando são de fora, a unidade já indica a gente e envia o encaminhamento para o cadastro aqui”, explica. O serviço é voltado especialmente a pacientes de outras cidades, que necessitam de um ponto de apoio em Sorocaba.
Ibrapper
Os tipos de câncer são muitos, assim como os tratamentos, e cada paciente tem uma demanda específica. Também em Sorocaba, a Ibrapper oferece auxílio a pacientes oncológicos, ostomizados e seus familiares. A instituição fornece bolsas de colostomia, ileostomia e urostomia, além de medicamentos e atendimento com enfermeiras e psicólogas especializadas.
Segundo a promotora Adriele Thomaz Pedroso, de 28 anos, que tem a mãe ostomizada, o suporte da instituição é essencial. “Se não fosse eles na nossa vida, eu não sei o que seria. A minha mãe tem alergia, o tipo de bolsinha dela é caro e eu nem encontro para comprar em Sorocaba, só consigo aqui”, conta.
Além do atendimento à paciente, Adriele relata que também recebe apoio psicológico, como familiar direta. A instituição entende que os familiares também sofrem. “A intenção da Ibrapper é fazer um trabalho integrativo com a saúde — cuidar do paciente, mas também da família. Os familiares sofrem muito”, explica uma das fundadoras, Cleide Machado, de 70 anos.
Outro paciente atendido no local é o aposentado Sidney Chaves Araújo, de 67 anos. Diagnosticado com câncer no reto em 2024, ele passou a usar a bolsa de colostomia e foi encaminhado à Ibrapper. “Aqui é excelente, o que eles fazem por nós, eles multiplicam. Antes vínhamos a cada 15 dias, agora é uma vez por mês, para pegar a bolsa. Aqui tem enfermeira que dá suporte, faz terapia, e se precisar de pomada ou creme, principalmente no começo, eles fornecem”, explica.
A Ibrapper foi fundada em 2000, em Itapema (SC), por Cleide Machado e outros profissionais, com outro propósito. Em 2006, chegou a Sorocaba voltada ao atendimento de pacientes com câncer de mama, mas, após analisar a demanda, tornou-se, em 2015, um centro de referência para pacientes ostomizados.
Grupo Voluntário de Combate ao Câncer
Viver a experiência da luta contra o câncer na própria pele fez com que Célia Lincoln, Wilson Renato e Sueli Domingues criassem o Grupo Voluntário de Combate ao Câncer (GVCC), em Capão Bonito. Os três se tornaram amigos durante o tratamento, enquanto aguardavam o transporte para o Hospital Amaral Carvalho (HAC), em Jaú.
A iniciativa fez toda a diferença no tratamento de Marizete Sulino, de 39 anos. Diagnosticada em dezembro de 2023 com câncer no reto, ela foi orientada a procurar o GVCC. “Eu tive apoio. Como era final de ano, era mais difícil, mas eles me ajudaram e aceleraram tudo. No dia 15 de janeiro eu já estava na primeira consulta, em Jaú”, conta.
Atualmente, o GVCC tem duas unidades — uma em Capão Bonito (Casa do Amor) e outra em Jaú (Casa do Amor II). Nos locais são servidas refeições, oferecido abrigo para descanso e espera pelo transporte, tudo de forma gratuita. Pacientes diagnosticados também podem procurar auxílio para agendamento de consultas e exames, transporte e apoio emocional, social e financeiro.
Segundo Marizete, o ponto de apoio em outra cidade é essencial. “O carro da saúde me pega na porta de casa e me deixa lá na Casa do Amor II. Lá a gente é bem acolhido, come, dorme, bebe, descansa”, relata.
Em 2024, a unidade atendeu 270 famílias. O suporte inclui doação mensal de cestas básicas, fornecimento de medicamentos, auxílio com kits quinzenais de alimentos (carnes, leite, frutas, legumes), despesas emergenciais (aluguel, água e luz), transporte e refeições, além de visitas domiciliares. Os pacientes também participam de oficinas de culinária, música e dança, passeios culturais e palestras de autoestima.
Quando recebeu o diagnóstico, Marizete precisou se afastar do trabalho para o tratamento, que incluiu radioterapia e duas cirurgias. No período, o marido a deixou, e as dificuldades aumentaram. “Nesse período que descobri o câncer, meu marido saiu de casa. Às vezes me aperto aqui, mas quando preciso, eles ajudam com cesta básica, leite, conta de luz, remédio. A gente tem todo esse apoio”, conta.
As unidades funcionam com doações fixas e pontuais, contribuições de sócios e parceiros, convênios, emendas públicas e eventos beneficentes.
Galeria
Confira a galeria de fotos