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História preservada

Coleção de 136 máquinas de escrever preserva a história da comunicação

11 de Outubro de 2025 às 20:30
Beatriz Falcão [email protected]
Miguel Mora coleciona máquinas de escrever,  
entre elas o modelo Underwood nº 5
Miguel Mora coleciona máquinas de escrever, entre elas o modelo Underwood nº 5 (Crédito: ALISSON ZANELLA)

Ao longo do tempo, principalmente entre os séculos XIX e XX, as máquinas de escrever foram responsáveis por registrar momentos, acontecimentos e sentimentos em folhas de papel. O mecanismo, inventado por volta de 1713, revolucionou e impulsionou a comunicação na época. Atualmente, o empresário Miguel Mora, de 56 anos, mantém esse pedaço da história preservado com uma coleção de 136 máquinas de escrever.

A paixão por antiguidades é uma herança de família. Ao Cruzeiro do Sul, o colecionador contou que itens antigos sempre fizeram parte da decoração da casa de sua mãe, desde móveis até lustres. Contudo, as máquinas de escrever chamaram sua atenção de um jeito diferente.

“No início, eu trabalhava com móveis usados e arrematava os materiais em leilões, que tinham as máquinas de escrever. Eu sempre comprava com o intuito de revender, porque fazia parte do comércio da minha empresa. Porém, certo dia, tinha uma máquina diferenciada, era mais antiga, e essa eu guardei”, relata Miguel. “Nessa de guardar, eu fui pegando uma ali, comprando outra lá; quando percebi, já tinha começado a coleção”.
A sua primeira aquisição foi uma Underwood nº 5, considerada um dos modelos mais icônicos da história da mecanografia, que inovou com o mecanismo frontstroke dispositivo que batia a barra de tipos na frente do papel, permitindo que o digitador visualizasse imediatamente o que estava sendo escrito. O empresário conta que o equipamento era muito utilizado em escritórios no início do século XX, uma vez que trouxe mais velocidade e precisão para o trabalho.
“A princípio, o que me chamou atenção foi a estética, afinal, é um modelo muito bonito. Depois foi pelo mecanismo, pela complexidade. Olhando dentro da máquina, é possível ver os detalhes técnicos das teclas e das engrenagens; parece um relógio gigante, sabe? Eu fico impressionado com essas coisas”, recorda o colecionador.
Na época, Miguel tinha 30 anos. Ele se refere à Underwood nº 5 como o “bichinho que o mordeu”, dando início à sua coleção. Após 26 anos, o acervo de 136 equipamentos remonta uma linha do tempo da história das máquinas de escrever.
Década de 1920
Entre os anos 1920 e 1929, um dos grandes destaques, além da Underwood nº 5, foi a linha Bijou, uma versão da série Erika. O seu diferencial, segundo Miguel Mora, era ser portátil, compacta e com teclado circular em moldura metálica. Dessa forma, a máquina era muito utilizada por escritores, jornalistas e viajantes, pois era de fácil transporte.
“A Bijou também é uma máquina muito rara. Ela era feita por uma empresa alemã, chamada Seidel & Naumann. No entanto, a patente desse modelo de dobrar era de uma fábrica americana, chamada Corona, que era bem maior. Então, essa máquina foi fabricada durante uns quatro ou cinco anos, antes de ser impedida de ser produzida”, conta Miguel. “Por isso é um exemplar bem raro; é a máquina que foi proibida de ser fabricada”.
Décadas de 1960 e 1970
Assim como telefones e carros, as máquinas de escrever também acompanharam as tendências. Nas décadas de 1960 e 1970, muito inspiradas pelo movimento hippie e pelo tropicalismo, os equipamentos ganharam cores: vermelho, tons de laranja, amarelo e verde. Além disso, para facilitar o manuseio e a locomoção, o metal deu lugar ao plástico.
Nesta época, a Olivetti era uma das empresas de maior destaque. Entre os modelos presentes na coleção de Miguel estava a Olivetti Lettera 82, uma adaptação da máquina suíça Hermes Baby. O equipamento, inclusive, foi produzido no Brasil, em uma fábrica de Guarulhos, no Estado de São Paulo.
Década de 1990
Com a popularização dos computadores, o declínio da produção das máquinas de escrever começou. A Olivetti interrompeu as fabricações em 1994. Mesmo tentando se adaptar às mudanças tecnológicas, os equipamentos deixaram de ser objetos comuns do dia a dia e se transformaram em itens de colecionadores.
“A máquina de escrever carrega muita história. Ela guarda memórias de famílias, que passaram o equipamento de geração em geração, assim como preserva memórias de escritórios, quando era utilizada como instrumento de trabalho. Eu sou suspeito de falar, gosto muito”, aponta Miguel.
Próximos passos
Após 26 anos colecionando máquinas em leilões e pela internet, o empresário dedica-se agora a aprender mais sobre cada equipamento. Para complementar o acervo, Miguel está catalogando cada máquina, produzindo fichas com detalhes técnicos e parte da história de cada uma.

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