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Reabilitação

Trabalho pioneiro com pacientes oncológicos une a polícia e a sociedade; crianças autistas também se beneficiam com a atividade

Equoterapia, realizada gratuitamente nas instalações do 14º Baep, garante melhorias físicas e emocionais para os praticantes

20 de Setembro de 2025 às 19:30
Gabrielle Camargo Pustiglione [email protected]
Instalações passaram por melhorias para atender a população
Instalações passaram por melhorias para atender a população (Crédito: ALISSON ZANELLA 19/09/2025)

O ambiente organizado, com baías arrumadas e cavalos identificados, logo mostra que esse é um lugar diferenciado. Trata-se da Cavalaria do 14º Batalhão de Ações Especiais de Polícia, o Baep, uma das forças especializadas da Polícia Militar do Estado de São Paulo. O espaço guarda um bem precioso: os cavalos, imponentes por natureza e um símbolo de força e resistência. Quando empregados na segurança pública cumprem um papel importante no patrulhamento rotineiro e no policiamento ostensivo de grandes eventos. Mas, em Sorocaba, os animais são utilizados também para uma missão tão nobre quanto garantir a tranquilidade para a população.

O projeto de equoterapia realizado no Grupamento de Cavalaria do 14º Baep foi retomado em abril deste ano e oferece, gratuitamente, atendimento especializado a pessoas com deficiência, com foco especial em casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA). A novidade, agora, é a reabilitação de pacientes oncológicos. A iniciativa utiliza o cavalo como mediador terapêutico e proporciona benefícios físicos, emocionais e sociais. Apesar da força, existe uma conexão inegável entre a pessoa e o animal.

Objetivo é contribuir

“O projeto de equoterapia surgiu como uma necessidade de devolver algo para a sociedade, além da atividade principal que é a segurança. Temos excelentes resultados, tanto dos praticantes quanto dos familiares atendidos. Resultado de um trabalho planejado, com treinamento para garantir o melhor trabalho social”, explica o major Enrique Guilherme Muraro.

O projeto conta com o apoio de uma equipe multidisciplinar de profissionais numa parceria com a Associação de Socorro Imediato a Pessoas com Câncer e Autismo (Asipeca). São atendidos 12 praticantes atípicos e uma paciente oncológica.

“Essa é uma união de propósitos e estamos juntos atendendo autistas e agora com a oncologia. Estamos unindo propósitos. Com amor, e, com a ajuda desses cavalos, peças fundamentais em um trabalho digno e humanizado”, relata Ana Cecília Fogaça, presidente da Asipeca.

Detalhes que importam

A interação da paciente oncológica com o cavalo, por meio da escovação, do banho e de gestos de carinho são observados por quem acompanha o trabalho. Essa é uma forma valiosa de terapia equina, que oferece benefícios físicos e emocionais, complementando os cuidados de reabilitação e melhorando a qualidade de vida, mesmo sem a montaria ativa, devido às limitações da quimioterapia. Só o contato já ajuda na redução da fadiga, da ansiedade e da depressão, comuns durante essa fase do tratamento, além de estimular os movimentos e o fortalecimento muscular, de forma segura e agradável.

Ziva Melesk, de 47 anos, descobriu o cancêr de mama em 2024. Recentemente, ela fez a cirurgia para a retirada do tumor, está em tratamento quimioterápico. “O contato com o animal trabalha o meu psicológico, os meus medos, os meus traumas e os movimentos que perdi do braço. Eu me apaixonei pelos cavalos, eles olham dentro da minha alma, eles me entendem, compreendem o meu sofrimento. Isso me acalma. Mesmo debilitada eu tenho vontade de estar junto deles. Eu me sinto diferente”, detalha com muita emoção.

“Agradeço a Polícia Militar e a Asipeca por fazerem tanto pela Liz. Me lembro quando ela iniciou na equoterapia, uma criança com dificuldade na marcha, falta de equilíbrio e dificuldade de subir escadas. A Liz subia degrau por degrau de joelhos no chão e descia um a um, sentada. Subir as escadas aos nossos olhos era um desafio gigante e distante. Com a dedicação, amor e empenho de cada profissional da cavalaria do 14ºBaep e da Asipeca, é possível ver a diferença na vida da Liz. Com dois meses de equoterapia, pela primeira vez, ela subiu a escada com apoio lateral mas em pé; inacreditável e real”, comemora Marisete Ameline de Faria, avó da pequena Liz, de 4 anos.

Esses depoimentos são apenas alguns que demonstram a efetividade da equoterapia, uma prática terapêutica reconhecida, que utiliza o cavalo como agente facilitador no processo de reabilitação e desenvolvimento de pessoas, com deficiência, em tratamento médico, e até mesmo com depressão. O contato com o cavalo é tão enriquecedor que melhora o desenvolvimento cognitivo ao mesmo tempo que aumenta a autoconfiança.

A ousadia de abrir as portas do Batalhão para a sociedade demonstra coragem de oferecer o melhor: as próprias instalações; o suporte, com uma sala especialmente desenvolvida para o atendimento; a dedicação dos policiais militares que se envolvem diretamente na atividade; e a confiança do comando, em acreditar que a sociedade e a polícia podem caminhar juntas. (Colaborou Denise Rocha)

 

 

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