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Relatório

Fundação vê recuo na mancha de poluição do rio Tietê

19 de Setembro de 2025 às 22:55
Thaís Marcolino [email protected]
Espuma, no trecho de Salto, indica que águas do Tietê recebem poluentes na Grande São Paulo
Espuma, no trecho de Salto, indica que águas do Tietê recebem poluentes na Grande São Paulo (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO / ARQUIVO JCS)

O rio Tietê, ao longo de seu curso, registrou uma diminuição significativa da mancha de poluição, passando de 207 km em 2024 para 174 km em 2025, uma queda de 15,9%. O dado faz parte do estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica, por meio do projeto Observando os Rios, divulgado nesta semana, data que antecede o aniversário do rio Tietê, celebrado no dia 22 de setembro (próxima segunda-feira). Contudo, o relatório também revelou um retrocesso em outros aspectos: o número de pontos do rio classificados com água de boa qualidade caiu de três para um, incluindo a região de Sorocaba.

A maioria dos pontos analisados se manteve nas classificações de qualidade regular, ruim ou péssima, e nenhum trecho foi considerado de qualidade ótima, o que indica que o Tietê continua vulnerável.

“Embora tenha ocorrido uma redução na extensão da mancha de poluição, essa melhora foi acompanhada pela diminuição dos pontos com água de boa qualidade. Além disso, ao analisarmos a série histórica, notamos que a piora observada em 2024 não foi um fenômeno isolado, mas o agravamento de uma tendência que vem desde 2022. Isso mostra que, apesar de algumas variações anuais, a qualidade da água do Tietê permanece em um patamar altamente vulnerável, sem sinais consistentes de recuperação duradoura”, explica Gustavo Veronesi, coordenador do projeto Observando os Rios da SOS Mata Atlântica.

O estudo também trouxe detalhes sobre a situação do Tietê na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Nos mapas apresentados, os trechos do rio nos municípios de Jumirim, Tietê, Porto Feliz, Salto e Itu apresentam qualidade de água considerada regular, enquanto Araçariguama atingiu o patamar de ruim.

Em 2024, dois trechos de Porto Feliz tiveram classificações diferentes: no km 300, a qualidade da água foi considerada regular, enquanto no km 296, o nível foi classificado como péssimo.

Quando comparado à última década, houve uma leve melhora, especialmente em Araçariguama, que em 2015 tinha o pior índice, classificado como péssimo, enquanto as demais cidades estavam na faixa regular.

Qualidade

Apesar da redução na mancha de poluição, a qualidade da água do Tietê teve uma queda acentuada. No trecho entre a nascente em Salesópolis e Barra Bonita, que corresponde aos primeiros 576 km do rio, o levantamento indicou que 120 km da água estavam em condição ruim (contra 131 km em 2024), e outros 54 km foram classificados como péssimos (eram 76 km no ano anterior).

A água de boa qualidade foi encontrada em apenas 34 km (entre Salesópolis e Biritiba-Mirim), uma queda de mais de 70% em relação aos 119 km registrados no ano anterior. Por outro lado, a extensão dos trechos classificados como regular aumentou para 368 km, frente a 250 km em 2024.

Conforme Gustavo Veronesi, coordenador do estudo, apesar de o cenário geral se manter na faixa regular, há um avanço em relação a anos anteriores, mas a situação ainda impõe grandes restrições ao uso múltiplo da água. “Isso reforça a necessidade de vigilância contínua e de ações estruturais urgentes para despoluir o Tietê”, afirma Veronesi.

Espuma

Em Salto, o rio Tietê recebeu em 1999 um memorial, localizado na praça Arquimedes Lamoglia. Nos últimos anos, um fenômeno tem chamado a atenção de moradores e turistas: a presença recorrente de espuma. A imagem pode parecer curiosa ou até bonita, mas a espuma é, na verdade, tóxica e é um indicativo da grave poluição da água.

O problema é frequente e aparece em reportagens do Cruzeiro do Sul. Isso ocorre porque o município recebe grande parte dos poluentes despejados no Tietê por 34 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, que acabam comprometendo ainda mais a qualidade da água.

Consciência

O Projeto Tietê, criado há três décadas com o objetivo de restaurar a qualidade das águas dos rios paulistas, passou por diversas etapas e foi rebatizado como Integra Tietê. No entanto, especialistas alertam que a situação hoje é mais complexa, com a privatização da Sabesp e a necessidade de ampliar a capacidade regulatória do Estado. Para enfrentar esses desafios, a governança participativa é vista como um elemento essencial.

De acordo com Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, a responsabilidade pela melhoria da qualidade da água precisa ser compartilhada por governos, empresas, agricultores e concessionárias de saneamento. “Não basta apenas ampliar a coleta e o tratamento de esgoto. Para que o Tietê avance de forma consistente, é fundamental adotar planos integrados de gestão da bacia, que articulem saneamento básico, uso do solo, proteção e restauração da Mata Atlântica, além de fortalecer os instrumentos de governança hídrica e adaptação às mudanças climáticas‘, afirma.