Zona norte
Feira da Barganha ocupa ruas e gera conflitos com moradores
Ministério Público questiona prefeitura sobre situação da feira
A Feira da Barganha de Sorocaba existe oficialmente há 47 anos e é considerada Patrimônio Cultural Imaterial do município. Atualmente, acontece oficialmente em uma área pública fechada, autorizada por lei municipal, localizada no bairro Caguaçu, na zona norte, e é fonte de renda para diversos feirantes. No entanto, moradores da região reclamam da expansão da feira para as ruas Professor Antônio Firmino Proença e José Salvestro, que ficam do outro lado da alameda do Horto.
De acordo com o grupo, que prefere não se identificar, as vias ficam praticamente bloqueadas, dificultando a passagem de veículos. Já os pedestres precisam andar pela rua, correndo risco de atropelamento. Além disso, após o término da feira, sobra lixo espalhado. O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) questionou a prefeitura sobre o caso.
O Cruzeiro do Sul esteve no local no último domingo (14) e confirmou a situação. A rua José Salvestro estava praticamente interditada, com carros parados, mercadorias expostas e grande concentração de pessoas. Havia ainda roupas penduradas nos muros de condomínios. Em um dos empreendimentos, ainda sem moradores, algumas paredes voltadas ao estacionamento já apresentavam danos. Quem vive na região relata que a montagem das barracas nessas ruas começa ainda de madrugada. “A partir das 3h30 começam a bater e colocam música alta”, disse uma moradora.
Residentes próximos afirmam também que, em caso de emergência, em que seja necessário sair às pressas de carro, a passagem é difícil. Eles denunciam ainda o uso indevido de propriedade privada. “Muitos feirantes e visitantes invadem terrenos particulares, como entradas de condomínios e áreas verdes dos residenciais. Isso viola direitos de propriedade e gera conflitos entre moradores e participantes da feira, com relatos de discussões e até chamadas à polícia”, relatou um morador.
Outra queixa é a sujeira deixada após o evento. Os dejetos ficam espalhados pelas ruas. No domingo, a reportagem encontrou sacos plásticos e caixas de papelão nas calçadas e na via. “Após cada edição, pilhas de resíduos, como embalagens plásticas, restos de alimentos e descartes de mercadorias, são deixados para trás, atraindo pragas, mau cheiro e risco à saúde pública.”
Os moradores destacam que reconhecem a importância da feira e não querem o fim do comércio, mas pedem fiscalização para que o evento ocorra apenas dentro da área pública autorizada, sem avançar para as ruas laterais.
“Sem uma regularização adequada, essa prática transforma espaços privados em extensões não autorizadas do evento, prejudicando a segurança e a privacidade das famílias”, afirmou um dos moradores.
Ministério Público acompanha
Moradores dizem já ter feito diversas reclamações à prefeitura, mas sem resposta. Uma petição foi aberta e reúne mais de 250 assinaturas.
No documento, há relatos como: “Da maneira que se encontra atualmente, a Feira da Barganha está causando muita dificuldade e incômodo na região do Caguaçu. Temos dificuldades em passar pela alameda do Horto e pelas ruas laterais, além da sujeira e do lixo jogados no chão.” Outro comentário diz: “Sou a favor da petição, pois a forma como a feira funciona hoje atrapalha o trânsito no local.”
Com isso, o grupo acionou o Ministério Público. Em 1º de agosto, o promotor de Justiça Jorge Marum assinou uma portaria solicitando informações à prefeitura sobre as providências adotadas e aguarda retorno da Administração. Segundo ele, caso não haja medidas efetivas de fiscalização, o MP poderá ingressar com ação civil pública.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP) também foi comunicado pelo MP. Em nota, o órgão informou que recebeu a documentação, mas que a análise será feita no mesmo processo em que será emitido o parecer das contas do município referente ao exercício de 2025.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Sorocaba informou que, devido ao crescimento urbano e ao aumento do público, a feira passa por processo de readequação. O Poder Público Municipal, por meio da Secretaria de Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Semepp), afirma estar viabilizando espaço interno para acomodar todos os feirantes e frequentadores que hoje ocupam áreas externas, reduzindo impactos à vizinhança e garantindo a continuidade da tradição.
Já a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (Seplan) informou que o local citado pela reportagem está no cronograma de fiscalização, de forma que haja ação coordenada entre os órgãos para solucionar a questão definitivamente.
Sobre a limpeza, a prefeitura informou que a varrição e a coleta de lixo são realizadas pela empresa responsável sempre às segundas-feiras, pela manhã, nas áreas interna e externa da feira, incluindo a Estrada do Dinorah.
“A atual Administração vai reforçar ações no local, como a fiscalização dos horários de montagem e desmontagem, para coibir irregularidades. A Secretaria Jurídica (Sej) informa ainda que o Município prestará todos os esclarecimentos solicitados pelo Ministério Público dentro do prazo legal. Quanto ao TCE, a Prefeitura não recebeu notificação sobre o caso”, diz a nota.