Buscar no Cruzeiro

Buscar

Patrimônio

Movimento busca resgatar prédio do antigo Matadouro

Projeto pretende transformar espaço, no Jd. Brasilândia, em Parque das Artes

17 de Setembro de 2025 às 22:00
Thaís Verderamis [email protected]
Construção histórica de 1929 está deteriorada e parte do telhado desabou
Construção histórica de 1929 está deteriorada e parte do telhado desabou (Crédito: THAÍS VERDERAMIS)

Parte do telhado desabou e atualmente é só uma estrutura abandonada em meio a um grande terreno. Com o intuito de proteger e aproveitar o que sobrou do antigo Matadouro, localizado na rua Paes de Linhares, no Jardim Brasilândia, instituições se uniram para formar o Movimento Parque das Artes, na intenção de proteger o patrimônio histórico municipal e ampliar o acesso à cultura por meio de equipamentos públicos, acessíveis à coletividade.

O projeto para a criação do Parque das Artes pretende restaurar, ampliar e modernizar o antigo Matadouro, construção de tijolos em estilo industrial inglês, de 1928. O prédio histórico é tombado em âmbito municipal, desde 1996.

De acordo com a arquiteta e vice-presidente do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP), Monica Pinesso Cianfarani, o edifício foi tombado e o objetivo era ser utilizado como meio cultural.

“Uma questão muito importante de lembrar é que desde a época do tombamento, tem essa prioridade de utilizar o Matadouro como uso cultural. Porque antes disso, na sua história, ele foi utilizado para outros fins. Quando ele foi tombado, surge junto uma lei complementar com o tombamento de especificar para uso cultural. O que nunca aconteceu”, explica.

A vereadora Iara Bernardi (PT) desenvolveu um projeto de lei para criar no local o Parque Urbano das Artes. Pela proposta, com o parque seria possível restaurar o patrimônio histórico e transformá-lo em um ambiente de lazer, convivência, fomento à cultura local, preservação da memória coletiva, ampliação das áreas de uso público e valorização do meio ambiente urbano.

De acordo com a vereadora, o projeto de lei está passando pelas comissões, fase necessária antes de ser encaminhado para entrar na pauta.

A jornalista e representante do grupo Justiça Climática de Sorocaba, Míriam Bonora dos Santos, observa que a preocupação é “do local continuar abandonado, não ter uso”. Para ela, é importante que o patrimônio histórico seja preservado, “que a gente possa se relacionar com a nossa própria história, aprender com ela, para que o local seja efetivamente utilizado para o bem público”.

“De 2021 para cá houve um grande ataque à edificação, a perda das esquadrias, surgimento de pichações e o desabamento do telhado”, diz Míriam.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) havia deferido uma liminar solicitando que a Prefeitura de Sorocaba realize as medidas de conservação, que incluem uma perícia técnica e efetivação das obras emergenciais (de limpeza, proteção, manutenção e prevenção de danos estruturais). No entanto, a prefeitura recorreu e o TJ aumentou o prazo para 180 dias, que está em andamento.

Segundo o promotor Jorge Marum, do Ministério Público do Estado de São Paulo, o prédio está em ruínas e a Promotoria espera que a prefeitura cuide desse patrimônio.

A Prefeitura de Sorocaba, em nota, explicou que conseguiu a prorrogação do prazo das obras emergenciais e que a Secretaria da Cultura (Secult) tem projetos para o local, entre eles o Parque Urbano das Artes, que consta no projeto de lei.

A prefeitura explica que há uma obra do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) acontecendo próxima ao Matadouro, mas que já está revendo a utilização do espaço. “A autarquia utiliza parte do terreno, distante da área do prédio do antigo Matadouro, para apoio logístico em obras de aterramento da região, cujo uso já está sendo revisto e deixará de ocorrer.”

História

O antigo Matadouro funcionou como local de abate de bovinos e suínos até 1975. O prédio histórico foi tombado em 1996. Em 1999 houve uma tentativa de restauração, mas que foi suspensa. Desde então, a estrutura vem sendo degradada pelo tempo.

Moradores próximos acompanharam as fases que o prédio histórico passou, como o aposentado Mauro Batista da Silva, de 72 anos, que mora na região desde 1990. “Quando eu vim para cá já não era matadouro mais, funcionava como frigorífico, vinha de fora a carne e eu gostava. Nós comprávamos direto lá e sabíamos de onde vinha a carne”, explica. O morador lamenta o estado atual do edifício. “É uma devastação o que fizeram ali, do jeito que está agora”, considera.

Sobre os planos de transformar o local para o aproveitamento em cultura e lazer, Mauro acredita ser uma boa alternativa. “Eu gosto da ideia, qualquer coisa que seja boa para a cidade.” A aposentada Rosa Fujiko Ganico, de 70 anos, mora na região há 34 anos e também concorda com a ideia. “Seria legal reformar, é um espaço bonito, tem que restaurar”, sugere.

O plano de projeto cultural gera certa preocupação do mecânico Cesar Bergmann. “Se for bem empregado isso, tudo bem, mas já vimos casos em que o lugar foi destinado a isso e ficou anos abandonado. Não adianta ceder o local para um determinado grupo com a intenção de fazer algo cultural e virar lugar de bagunça. Mas eu acho interessante”, explica.

O espaço já teve algumas finalizades com o passar dos anos. Já abrigou setores da prefeitura, como a Assessoria de Sinalização de Trânsito da Secretaria de Edificações, Transportes e Maquinários; a Secretaria de Serviços Públicos; a Guarda Civil Municipal (GCM); e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae).

 

 

Galeria

Confira a galeria de fotos